domingo, 23 de dezembro de 2007

O Natal e o futuro / the Christmas and the future

Jesus Cristo poderia ter sido o homem mais amargurado da face da terra. Antes de vir ao mundo, estava com Deus, era Deus, mas teve que nascer em uma família humilde, em situações precárias. Antes de vir ao mundo, tinha o céu como morada, mas teve que viver em uma cidade com má reputação (“pode vir coisa boa de Nazaré?”). Antes de vir ao mundo, era o dono de todas as coisas, tinha os anjos a seu serviço, uma simples palavra ou um simples toque e tudo acontecia conforme a sua vontade, mas viveu sem nada possuir, dependendo de ajuda de estranhos, de ter que colher espigas em épocas impróprias para comer, de ficar ao relento. Antes de vir ao mundo, tinha uma atitude marcada pela justiça e eqüidade, mas teve que suportar um julgamento equivocado e pagar por crimes que não cometera.
Do nascimento até a morte, Jesus Cristo teria todas as razões para viver como um revoltado e reclamar – como muitos afirmam – de ter sofrido perdas e experimentar um verdadeiro fracasso, de ter que se mostrar como um Deus que se deixa morrer e, além de tudo, ter que suportar a morte como um maldito.
Imagino que esse tipo de pensamento passou pela cabeça de Jesus. Passou pela minha também. E Jesus foi tão humano quanto eu. A Bíblia mostra que algumas vezes Jesus se debateu com esse quadro. Ele mesmo disse que até as aves têm seus ninhos, mas ele mesmo não tinha onde repousar a cabeça. Em uma de suas orações, ele pediu a Deus que pudesse experimentar aquela glória que tinha antes que o mundo existisse. Em meio a agonia da chegada do momento final, ele pediu que, se fosse possível, o livrasse daquela sina. Até na cruz ele ainda perguntou por que Deus, como Pai, o havia abandonado.
Entretanto, a Bíblia mostra que o que fez com que Jesus Cristo suportasse tudo o que sofreu desde o seu nascimento foi a sua visão do futuro. Ele sabia que havia uma promessa de um tempo de glória que o Pai estava reservando para Ele. É isso que dá sentido ao fato de que temos algo a comemorar no Natal: o fato de que alguém viveu como homem com a sua visão fixada no futuro.
Isso nos ajuda a imaginar que é no futuro que está a nossa esperança. Jesus Cristo nos deu prova de que Deus prepara um futuro de glória para todos que depositam a sua confiança nele. Isso nos ajuda a pensar que o melhor tempo de nossa vida ainda está para acontecer.
A mensagem do Natal é que, ainda que as circunstâncias sejam difíceis para nós, existe um tempo que Deus está cuidando que nos trará a vitória e tudo fará sentido. Isso é possível porque o próprio Jesus, sendo Deus, demonstrou isso em sua vida. “Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha” (Hebreus 12.2).
A beleza do Natal não está na história de uma criança que nasceu em Belém, de reis magos, anjos e pastores. O Natal não existe para trocarmos presentes e usarmos enfeites coloridos e iluminados. O sentido do Natal não está na fartura do banquete nem na solidariedade entre os povos. Ainda que tudo seja tão expressivo para alguns. O Natal é a lembrança de que Deus se fez o homem para mostrar para nós que se importa com a nossa dor e que cuida de nosso futuro. E isso aconteceu por meio da pessoa de Jesus Cristo, que deseja tomar parte da vida de cada um de nós. Um feliz Natal é permitir que Jesus Cristo realize o desejo dele na vida da gente, uma oportunidade de entrega de nossa vida a Ele para que ele cuide de nós e renove a nossa esperança num futuro melhor. Um Feliz Natal para todos.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Ética e Virtude / Ethics and virtue

Desde o começo da Ética a Nicômaco, Aristóteles define a ética como o estudo da ação humana fundamentada no bem: “admite-se geralmente que toda arte e toda investigação, assim como toda ação e toda escolha, têm em mira um bem qualquer; e por isso foi dito, com muito acerto, que o bem é aquilo a que todas as coisas tendem” (1973, p. 249). Fica claro que a existência humana se inscreve num plano geral e harmonioso, mas de realização bastante complexa.
A natureza humana, para Aristóteles, encerra em sua estrutura o conflito da forma, que luta para subordinar a matéria, e da razão, que tenta comandar as paixões, desejos e sentimentos, na perspectiva do dualismo psicofísico – a superioridade da alma sobre o corpo e a distinção entre a parte racional e a parte dominada pela vontade. Entretanto, para ele a idéia não existe separada dos indivíduos concretos. Por isso, é preciso distinguir o que o indivíduo é atualmente e o que pode vir a ser. Enquanto Deus é ato puro, o homem é atividade, passagem da potência ao ato.
O que é a felicidade, então para Aristóteles? É a vida teórica ou contemplação, como atividade humana guiada pela razão, que não se realiza de forma acidental, mas mediante a aquisição das virtudes, como sendo certos modos constantes de agir. As virtudes são atitudes adquiridas e se constituem num termo médio e equilibrado entre dois extremos. A felicidade que se alcança por meio da virtude exige condições que não se bastam sozinhas para se realizarem, como a liberdade. O triunfo da virtude é, portanto, a vitória do homem sobre si mesmo, conquistando a harmonia interior, quando se torna senhor de si.
Porquanto a existência é boa para o homem virtuoso, e cada um deseja para si o que é bom, ao passo que ninguém desejaria possuir o mundo inteiro se para tanto lhe fosse preciso tornar-se uma outra pessoa (quanto a isso, Deus é quem tem a posse atual do bem). Tal homem só deseja essas coisas com a condição de continuar sendo o que é; e o elemento pensante parece ser o próprio indivíduo, ou sê-lo mais do qualquer outro dos elementos que o formam. E ele deseja viver consigo mesmo, e o faz com prazer, já que se compraz na recordação de seus atos passados e suas esperanças para o futuro são boas, e portanto agradáveis.
Aristóteles elabora um discurso sobre a felicidade do homem que se tornou consciente de si: “Mas uma tal vida é inacessível ao homem, pois não será na medida em que é homem que ele viverá assim, mas na medida em que possui em si algo de divino. [...] Se, portanto, a razão é divina em comparação com o homem, a vida conforme a razão é divina em comparação com a vida humana. Mas não devemos seguir os que nos aconselham a ocupar-nos com coisas humanas, visto que somos homens, e com coisas mortais, visto que somos mortais; mas, na medida em que isso for possível, procuremos tornar-nos imortais e envidar todos os esforços para viver de acordo com o que há de melhor em nós; porque, ainda que seja pequeno quanto ao lugar que ocupa, supera a tudo o mais pelo poder e pelo valor” (1973, p. 429).
O objetivo da ética aristotélica é tornar o homem bom. “Não investigamos para saber o que é virtude, mas a fim de nos tornarmos bons, do contrário o nosso estudo seria inútil” (ARISTÓTELES, 1973, p. 268). Indagará mais adiante: “Se estes, assim como a virtude e também a amizade e o prazer, foram suficientemente discutidos em linhas gerais, devemos dar por terminado o nosso programa?” (p. 432). A resposta só pode ser negativa, pois a ética não visa à especulação, mas à prática. “No tocante à virtude, pois, não basta saber, devemos tentar possuí-la e usá-la ou experimentar qualquer outro meio que se nos antepare de nos tornarmos bons” (p. 432).
(Extraído de minha dissertação de Mestrado: Ética protestante e pós-modernidade)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Um profissional a serviço do Reino / A professional serving the Kingdom

Neemias foi um homem usado por Deus, modelo de um profissional a serviço do Reino. Sua profissão: copeiro do rei babilônico Artaxerxes, residente na cidade de Susã. Estamos falando de um dos mais imponentes e aristocráticos reis que os babilônicos conheceram e da cidade mais progressista daquela época.
Em sua profissão, Neemias nunca esteve triste, aborrecido ou chateado com alguma coisa. O rei, seu patrão, podia constatar isso, tanto que preferia o vinho que era servido pelas mãos de Neemias. Como servo, não murmurava, não se queixava do salário ou do serviço, nem fazia planos de largar tudo na primeira oportunidade que aparecesse. Mas nem por isso era um acomodado.
Mesmo sendo um escravo, Neemias estava satisfeito com o posto que conseguira com seus esforços, fruto de seu trabalho dedicado. Em todo o tempo, apesar da sua condição, ele fez o melhor que pôde. Poderia ter sido melhor, se tivesse crescido livre, em condições de estudar e encontrar melhores empregos. Mas, o que importava? Ser escravo foi a chance que teve. Restava a ele aproveitar aquela oportunidade da melhor forma possível. Tornou-se o escravo copeiro de confiança do rei!
Um dia ele soube como estava a sua cidade de origem, onde se encontravam os restos mortais de sua família e o restos de suas lembranças de infância. Tudo destruído e desolado, toda a sua gente na mais completa miséria. Lembrou-se das palavras de Deus, plantadas por seus pais desde criancinha. Dali por diante, tudo o que tinha conseguido com seu esforço passaria a ser de menor importância diante da necessidade de alguém que se coloca nas mãos de Deus.
Para isso, ele orou ao Deus vivo que tudo vê. Deus moveu o coração do rei, Deus moveu os reinos vizinhos, Deus moveu o intento dos inimigos, Deus moveu o coração daquele povo sofrido. Notem a diferença: um homem dedicado naquilo que faz orou ao Deus dos impossíveis, dizendo: “faze prosperar hoje o teu servo e dá-lhe graça perante este homem” (Neemias 1.11).

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A CPMF acabou. Isso é uma boa notícia?

A CPMF acabou, nada a comemorar. Desde que o governo do PSDB inventou o imposto do cheque, vejo com muita suspeita todo o discurso de que temos impostos demais. Também não sou defensor de impostos e até acho que pagamos muito caro para sermos brasileiros. Eu não esqueço que foi com o PSDB que passei a pagar mais impostos, principalmente em relação ao imposto de renda. A oposição não tem nada a comemorar em relação ao fim de uma cobrança que ela mesma criou, uma vez que tinha como finalidade financiar uma área que o próprio governo abandonou: a saúde. O que é preciso ser feito - e aí a oposição daria uma grande contribuição para o país - é apontar os modos como fazer um país crescer sem tantos tributos. Isso não tenho ouvido de nenhum político, de nenhum cientista político, nem mesmo da mídia que promove uma verdadeira campanha anti-impostos - necessária, mas mal-direcionada. Como gerar mais emprego? Como promover o consumo interno? Como fazer produzir mais para atender a demanda e baixar os preços? Essas respostas estão muito interligadas e remetem a uma outra: como evitar os gargalos da economia, como a corrupção, o excesso da burocracia etc.? A CPMF acabou, mas deixou sua sombra: o espaço aberto para a continuidade de todas as ações que vêm sendo praticadas há muito tempo nesse país contra a economia da população. Eu estou convencido de que nunca antes na história desse país se tratou com tanto descaso as finanças públicas.

Ética e significação / Ethics and meaning

O homem é um animal em busca de significados. É no emaranhado de relações entre ética e discurso que os homens estabelecem com o mundo, com os outros e consigo mesmo que se realiza o processo comunicativo e, conseqüentemente, a vida moral. Ao agirem moralmente, em conformidade com a teoria de Jürguen Habermas, os sujeitos mobilizam para si, necessariamente, uma teia de relações intersubjetivamente formadas a partir da qual falantes e ouvintes negociam a definição das situações morais, tendo como elemento mediador suas próprias linguagens.
Para Habermas, em seu livro Consciência Moral e Agir Comunicativo, as proposições ético-racionais não se constituem em verdades, por si sós. Necessitam de validação e esta deve ser buscada através de um processo argumentativo. Ou seja, ao contrário de Kant, Habermas discorda da existência de conteúdos normativos universais. Para ele, universal é o processo de submissão argumentativa da validade desses conteúdos. Isto é, “o princípio da ética do discurso proíbe que, em nome de uma autoridade filosófica, se privilegiem e se fixem de uma vez por todas numa teoria moral determinados conteúdos normativos” (2003, p. 149). Daí sua teoria ética, ao contrário da kantiana, ser denominada de procedimental por caracterizar-se pela submissão dos princípios universais às regras de argumentação conectadas com a perspectiva de validação normativa.
Para Habermas, “o discurso prático é um processo não para a produção de normas justificadas, mas para o exame da validade de normas consideradas hipoteticamente” (2003, p. 148). Percebe-se, portanto, que, em vez de princípios fixos, rigidamente estabelecidos e universalmente aplicáveis, Habermas vai falar de uma esfera da eticidade. Esta refere-se ao “mundo da vida posto à distância e no qual se entrelaçam obviedades culturais de origem moral, cognitiva e expressiva” (2003, p. 130). Neste sentido, a vida ética apresenta-se como imersa numa configuração cultural complexa e a sua regulamentação exige uma comprovação pragmático-transcendental de pressupostos universais e necessários à argumentação. À primeira vista, tal concepção pode assemelhar-se à do imperativo categórico kantiano. Segundo Habermas, a realização de uma ética pautada no discurso dos participantes da fala se orienta pela busca de validez normativa para as ações morais. Tal busca deve se pautar pelo estabelecimento de critérios de justificação dos juízos morais, não tomados de forma imperativa, apriorística, como queria Kant.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Ética e Discurso / Ethics and discourse

Um novo caminho dentro da perspectiva da ética racional é o de Jürgen Habermas. Embora o direito de existir seja negado por Nietzsche, Habermas vai defender a possibilidade de uma ética fundamentada racionalmente. Entretanto, sua posição difere substancialmente da dos outros teóricos racionalistas éticos.
O projeto de Habermas é desenvolver uma concepção não-metafísica tanto da razão quanto da subjetividade. Para ele, a ética racionalista moderna não se adapta mais à complexidade das relações entre os homens nos dias de hoje, posto que seu fundamento é baseado em uma razão monológica, desengajada. Como contraponto, apresenta a ética do discurso, cujo fundamento é uma razão dialógica, pautada na ação comunicativa, onde as interações entre os homens se dão na comunicação quotidiana, mediatizada pela linguagem.
A ação comunicativa se baseia na idéia de um processo de socialização lingüisticamente mediado, através do qual falantes e ouvintes interagem na busca do estabelecimento de um consenso tácito entre eles. Quando as interações comunicativas acontecem no plano das ações comunicativas normais, cotidianas, são denominadas fala. No nível da fala, espera-se que todas as pessoas envolvidas possam proferir sentenças que sejam inteligíveis (pretensão de inteligibilidade) do ponto de vista gramatical e lingüístico; espera-se também que seu conteúdo proposicional seja verdadeiro (pretensão de verdade); que, ao emiti-lo, o falante seja sincero ou veraz (pretensão de veracidade) e que a sentença seja correta ou adequada (pretensão de justiça) em relação às normas e valores vigentes aceitas por todos os ouvintes.
Habermas, no livro Consciência moral e agir comunicativo, pressupõe, ainda, que todos os falantes, potencialmente, possuam a capacidade de entrar no processo comunicativo, isto é, a competência tanto lingüística quanto cognitiva e interativa para participar dos atos de falas, em menor ou maior grau. E isso é universal. Ou seja, no plano das interações lingüísticas normais, as sentenças proferidas não são contestadas quanto às suas pretensões de validade. Assim, o consenso tácito pode ser estabelecido sem que seja necessário submetê-las a uma avaliação crítica. Quando, ao contrário, pelo menos uma das quatro pretensões de validade são desafiadas, falantes e ouvintes passam do plano das interações lingüísticas normais – fala – para um outro plano comunicacional, através do qual as sentenças proferidas são questionadas – o discurso. Assim, o consenso verdadeiro só pode ser estabelecido através de um processo argumentativo, em que falantes e ouvintes são convidados a justificar suas sentenças. Para Habermas existem dois tipos de discurso: o teórico e o prático. No discurso teórico, o que entra em questionamento é a verdade dos fatos, ao passo que no discurso prático é a verdade das normas que se encontra desafiada.
No plano comunicacional do discurso, o estabelecimento do consenso verdadeiro deve ser precedido de uma série de condições. Entre elas duas são as mais importantes: a garantia de que o processo argumentativo aconteça sem qualquer tipo de coação, seja externa (através da violência), seja interna (falsa consciência) e a garantia de que tanto os argumentos como os contra-argumentos sejam amplamente discutidos a fim de que não haja manipulação por parte dos falantes. Tanto na fala quanto no discurso, a relação interativa que se estabelece, na busca do consenso possível (cuja função é coordenar as ações dos diferentes sujeitos), se desenvolve no âmbito do mundo vivido.
Isso significa que a ética discursiva, pautada na ação comunicativa entre os sujeitos, é aquela que remete tanto à objetividade do mundo das coisas quanto à subjetividade do mundo das paixões, dos desejos, das emoções. Ao entrarem em interação, através dos atos de fala, os homens emitem enunciados que remetem a uma tripla conexão, na qual se entrelaçam o mundo objetivo das entidades reais, o mundo social das normas e o mundo subjetivo das experiências individuais. As próprias ações concretas levam o sujeito a posicionar-se em face destes três mundos. Para Habermas, a vida ética fica imersa nesta configuração de mundos humanos, possuindo conteúdos não apenas cognitivos, mas também valorativos e expressivos.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Ética e Razão / Ethics and Reason

As concepções éticas racionalistas tiveram como objetivo a formulação de uma visão de mundo baseada na autonomia do sujeito. Entretanto, esse modo de compreender a realidade, apenas sob uma ótica da objetividade, mostrou-se uma ilusão. Tanto que hoje vivemos um conflito de afirmação do sujeito que, embora seja social e culturalmente construído, luta para ver questões como vontade e desejo serem valorizadas.
Esse conflito pode ser explicado visto que sofremos os resultados de uma lógica fundada na objetividade e no princípio da causalidade, heranças tanto do positivismo quanto do pragmatismo. A realidade, porém, é que, como afirmou Bachelard, somos “o resultado de nossas ilusões perdidas”.
A crítica mais acentuada ao racionalismo foi desencadeada por Nietzsche. Em sua obra A genealogia da moral, Nietzsche se opõe à ética cristã e à ética racionalista. Chama a moral cristã de moral de escravo, porque a considera responsável pelo aprisionamento do homem à idéia do pecado. Ao mesmo tempo, acusa a ética racionalista de ter pretensões universalistas, impossível de se realizar. Afirma que a ética só é possível ao “homem nobre”. Admite que a casta nobre é, em princípio, sempre bárbara, mas toda elevação do homem se deve à sociedade aristocrática, pois nenhuma moral é possível sem um bom nascimento.
Essa moral aristocrática se move no sentido da afirmação da potência (ou força) dos instintos e desejos, considerada como libertadora.
A moral racionalista, segundo Nietzsche, é característica dos fracos que, temendo a vida, os desejos e as paixões, inventaram o dever, ordenaram a submissão da vontade à razão e impuseram o castigo para quem transgredisse suas leis. Nesse caso, a moral racionalista é, eminentemente, repressora e depõe contra a liberdade. Dessa forma, só os fortes (os aristocratas) conseguem romper com ela.
Para Nietzsche, o bem deve ser entendido como algo capaz de fortalecer os desejos vitais, enquanto o mal seria tudo aquilo que visa a enfraquecer tais desejos. Isso significa que toda e qualquer tentativa de regulamentação das ações morais assume um caráter coercitivo e, portanto, os enunciados morais devem obedecer apenas aos ditames do desejo.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Razão e paixão / Reason and passion / La razón y la pasión

Com a modernidade, passou-se a desenvolver a idéia de que a vida ética depende, quase que exclusivamente, do desenvolvimento da nossa capacidade de raciocínio, da razão. Para Espinosa, porém, a vida ética depende da nossa vontade, que pode querer ou não querer o que a razão ordena. Pare ele, a natureza humana é passional.
As paixões que nos dominam não são, em si, nem boas nem más; são naturais e, por natureza, nos encontramos cercados delas, sofrendo, passivamente, suas ações (que nos são externas). Diz ele: “as ações da alma nascem apenas das idéias adequadas e as paixões dependem apenas das idéias inadequadas” (Espinosa, 1973, p. 187).
As paixões ou afecções da alma, que nos são originais, são a alegria, a tristeza e o desejo. A paixão alegre é aquela que é capaz de aumentar a potência de agir do nosso corpo e de pensar da nossa alma. Dela decorre o amor, a esperança, a glória, a misericórdia, o contentamento e a segurança. Já a paixão triste, por oposição à alegre, refere-se à diminuição da potência de agir do nosso corpo e de pensar da nossa alma. O desespero, o ódio, a inveja, o orgulho, o medo e o pudor são derivados da paixão triste. A paixão do desejo, por exemplo, pode ser alegre ou triste. “O desejo é a essência ou a natureza de cada indivíduo na medida em que é concebido como determinado a fazer qualquer coisa pela sua constituição, tal qual ela é dada” (Espinosa, 1973, p. 216).
Nesse sentido, então, a ação moralmente correta, segundo Espinosa, é aquela que se orienta no sentido de aumentar a nossa potência de agir. A este movimento ele chamou de virtude e ao seu contrário, denominou de vício. Mas a virtude não é um bem em si, apenas significa a força do homem em ser e agir de forma autônoma. Do mesmo modo, o vício representa a fraqueza para existir, ser e agir, não se constituindo, portanto, num mal em si mesmo.
Segundo Espinosa, um homem deve agir moralmente correta não se submetendo às causas externas; passando da paixão à ação, tornando-se causa ativa interna de sua existência, atos e pensamentos; não se deixando dominar pelas paixões e desejos tristes e fortalecendo as paixões e desejos alegres. A razão é o equipamento de que o homem dispõe para concretizar esta ação moral no sentido do bem.
“Os homens, só na medida em que vivem sob a direção da Razão fazem necessariamente o que é necessariamente bom para a natureza humana e conseqüentemente, para cada homem; isto é, aquilo que está de acordo com a natureza de cada homem e, por conseguinte, os homens estão também sempre necessariamente de acordo, na medida em que vivem sob a direção da Razão” (Espinosa, 1973, p. 252).

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Ética e felicidade / Ethics and happiness

A função da ética é a de explicar, esclarecer e investigar uma determinada realidade. Esse modo de ver a abordagem ética é importante para repensar o sujeito de forma histórica e o modo como se constitui a sua relação com o simbólico. A questão ética pode ser tratada como uma questão de interpretação, uma vez que está relacionada à produção de significação, na relação da língua e da constituição dos sentidos e do sujeito. Nos processos de subjetivação, a abordagem ética é parte de uma ideologia, produzida pela ilusão de uma consciência de que se trata de uma questão pessoal, de conduta individual. Desse modo, a questão ética resulta ainda de uma relação política que se insere no espaço da ideologia, do equívoco.
É possível ver isso através da análise das teorias éticas que historicamente se assentam nos princípios da racionalidade e da autonomia do sujeito. Essas teorias surgem, basicamente, no período conhecido como modernidade, que abrange os séculos XVII a XIX. Uma concepção de racionalidade ética é aquela que afirma a possibilidade de uma fundamentação racional do dever moral, que se utiliza de procedimentos discursivos, com base na linguagem, para demonstrá-la. Significa que pretende argumentar acerca de uma concepção mais ampla de compreensão da ética racionalista. Uma concepção que privilegia não apenas os aspectos lógicos formais do pensamento autônomo, mas que também presta atenção aos aspectos intersubjetivos de constituição dos mesmos.
O início das preocupações com os problemas relacionados à vida ética sob a égide do pensamento, na filosofia ocidental, localiza-se na ética grega, precisamente com Sócrates. No ocidente, a origem da ética racionalista é atribuída a Sócrates, que, rompendo com a tradição da ética naturalista, parte da suposição da existência de um sujeito ético-moral dotado de consciência adquirida através da razão. Para este filósofo grego o homem age moralmente correto quando conhece o bem (felicidade da alma) e, conhecendo-o, não poderá deixar de praticá-lo. Em contrapartida, quando o homem aspira ao bem, sente-se senhor de si e, conseqüentemente, feliz.
Para Aristóteles, o fim último da vida é a busca da felicidade pela prática da virtude, como uma atividade da alma. Para Epicuro, a felicidade está no prazer, entendido aí como ausência de dor, e não somente volúpia. O prazer é visto como o começo e o fim da vida feliz. Para os estóicos, a felicidade estava na ausência de perturbações, o que eles chamavam de ataraxia, o estado em que a pessoa não é afetada pelos males da vida. Para os primeiros pensadores cristãos, a felicidade consiste na salvação da alma, no encontro de fé com Jesus Cristo associado à pratica da moral cristã.
No racionalismo clássico, localizamos uma ética que se contrapõe à ética cristã medieval, basicamente por ser humanista, isto é, por conceber o homem como o sujeito dos atos morais, e não mais Deus ou a natureza. Nesse período, acentua-se a idéia de que a razão humana é capaz de controlar e predizer as causas e os efeitos tanto dos fenômenos físicos quanto dos fatos sociais. Natureza e sociedade possuem as mesmas leis que as governam. O intelecto é capaz de dominar as emoções e as paixões, de modo que a vida prática ou a ética pode ser fundamentada racionalmente. Seus principais representantes foram Thomas Hobbes e Baruque de Espinosa.
O iluminismo, logo em seguida, caracterizou-se por ser um dos períodos mais fecundos e profícuos para o desenvolvimento da concepção de que a vida ética era governada pela razão. O iluminismo vai diferenciar natureza e civilização. A natureza representa o “reino da necessidade” no qual se encontram as leis naturais, universais e imutáveis. Já a civilização representa o “reino da liberdade”, responsável pela livre vontade humana para promover melhoramentos tanto intelectuais quanto morais. Isto significa que há níveis diferenciados tanto de natureza quanto de civilização e que os progressos no conhecimento moral se realizam através do aperfeiçoamento das civilizações. O principal representante da ética iluminista foi Kant.
Em todas essas abordagens, a felicidade é vista como um fim a ser atingido. Mas a realidade é que a felicidade consiste em um estado da alma, como uma função vital. Não se trata de algo a ser conquistado, mas algo a ser vivido. Ela não está fora, inatingível. Ela está dentro de você. Você precisa organizar o seu mundo interior e descobrir a si mesmo, descobrir o prazer e a coragem de ser o que você é.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O que é religião / What is religion

Existem muitas definições para religião. Algumas delas podem ser consideradas como aquelas que encaram a religião como o reconhecimento de um mistério e que dão ênfase a aspectos coletivos formadores da cultura. Outras, por sua vez, estão relacionadas a aspectos individuais, como o sentimento de dependência de deus. Seja qual for a definição, o fato é que o atual entendimento do que vem a ser religião está muito ligado ao que Émile Dürkheim , em As formas elementares da vida religiosa, desenvolveu no começo do século XX: “uma religião é um sistema solidário de crenças e de práticas relativas a coisas sagradas, isto é, separadas, proibidas; crenças e práticas que unem numa mesma comunidade moral chamada igreja todos os que a ela aderem”.
A experiência religiosa se constitui em uma relação de encontro do homem com o sagrado, quando toma consciência desse conceito, de algo que é precioso, inviolável e respeitável. A idéia do sagrado está ligada à natureza divina, na medida em que se considera que um ser possui um elemento divino, e que por isso deve ser respeitado e adorado, objeto de culto que inspira respeito, reverência. Em toda a história da humanidade, a vida humana é caracterizada pelo desenvolvimento de um comportamento religioso, incluindo crenças em forças e poderes sobrenaturais, em sentimento de impotência perante esses poderes e na manifestação de um desejo de salvação e de libertação de uma realidade desordenada e caótica.
A principal questão, ao tentarmos analisar o que é esse sentimento tão enraizado no homem, é saber como o ser humano desenvolve a idéia do sagrado para com ele se relacionar. Nesse sentido, o primeiro passo a ser dado é identificar o que se pode chamar de sagrado. Podemos entender por sacralidade uma ruptura entre o natural e o sobrenatural, ainda que os seres ou coisas sagradas sejam naturais (ou da natureza). Trata-se de uma experiência da presença de uma força sobrenatural, ou uma potência, que habita um ser, que pode tanto pertencer a ele mesmo, quanto pode ser adquirida. Essa experiência está no domínio do simbólico, da diferença entre os seres, da superioridade de uns sobre os outros, que gera o espanto, o mistério, o maravilhoso, o desejo e o temor.
O sagrado é sobrenatural porque diz respeito à capacidade que um ser tem para que se realize tudo o que o homem julga impossível realizar com a sua própria capacidade humana. É por meio do sagrado que se dá origem ao encantamento através de poderes, sinais e maravilhas que são operados magicamente. Criam-se vínculos de simpatia ou repulsa, atração e rejeição, autoridade e submissão. É uma qualidade – boa ou má, protetora ou ameaçadora – que um ser possui, que o distingue de todos os outros e que pode suscitar devoção, amor, temor e ódio.
A religião surge dessa necessidade de vínculo entre o sagrado e seu oposto, que é o profano, isto é, entre o mundo sobrenatural, habitado pela divindade, formado pelos seres portadores dessa força sobre-humana, na esfera do sagrado, e o mundo natural, habitado pelos seres limitados e falhos. É pela ação da sacralização – atribuir um valor simbólico – e pela ação de consagração – delimitação de um espaço, de uma área de domínio – que se cria a idéia do espaço sagrado, o lugar da adoração, do culto, do templo. A religião, portanto, põe em ordem o espaço que lhe atribui valores diferentes de suas qualidades naturais.
(extraído do meu livro O que é religião)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

A ação responsável / Responsible action

Um pensador que precisa ser lido e atualizado nesse tempo é Dietrich Bonhoeffer, teólogo alemão morto pelo nazismo. Principalmente porque sua teologia aponta para a ética. Ele considerava que somente pelo fato de saber que Deus se tornou humano é possível compreender e não desprezar o ser humano. Essa é a motivação para a formulação do conceito de ação responsável.
A ação responsável deve ser empreendida em nome destes seres humanos reais a quem Deus ama, e não para reivindicar sobre eles superioridade, retidão ou sabedoria própria. A ação responsável ganha agora alguma profundidade teológica. Não é simplesmente um gesto nobre de uma pessoa responsável, nem um serviço paternalista oferecido por alguém que faz o bem para aqueles que estão desprovidos de algo. A ação responsável é uma verdadeira imitação de Cristo, uma disposição de se tornar desprezado e de se colocar a serviço daqueles que por si mesmos se fizeram desprezíveis. A prontidão para a morte está presente em cada página do manuscrito, não como um ato da coragem pessoal, mas como uma afirmação teológica.
A ação responsável não é somente responsável perante Deus. É responsável naqueles lugares específicos onde a vida é moldada para uma sociedade inteira. Não se pode ser responsável por si mesmo, sem viver em solidariedade com pessoas que compartilham do mundo uns com os outros. Não se pode ser responsável somente por ser a igreja.
Bonhoeffer não estava preocupado em formular uma teologia a respeito da salvação. Os princípios protestantes de sola fide e sola gratia precisavam de uma realização concreta na vida cristã, uma vez que sua formulação ética consiste no fato de que vida cristã é vida para o outro. Para o pensamento de Lutero, a salvação do homem depende totalmente da atividade divina e não é condicionada, de modo algum por qualquer ação humana.
Nessa concepção, Deus tomou a iniciativa de restituir, por meio da obediência de Cristo, a humanidade a sua dignidade e imputou a justiça de Cristo aos que crêem. Ao contrário do pelagianismo, que defendia a necessidade de uma ação humana na justificação, a reforma protestante enfatiza que a salvação é um dom da graça de Deus que é comunicado ao homem. O perdão, a redenção, a salvação, a justificação, termos que caracterizam a experiência inicial cristã na teologia, são conferidos ao homem somente pela graça mediante a fé. Porém, a preocupação de Bonhoeffer não é desenvolver essa teologia, mas saber quais são as suas implicações para a vida cristã no mundo. Em sua Ética, ele vai indagar sobre o modo como Cristo toma forma no mundo através daqueles que passaram pela experiência da regeneração pela fé no próprio Cristo, conforme a concepção luterana. Essa preocupação começa com o Discipulado, quando aborda sobre o modo como se dá a conformidade de Cristo:
"Conseguir a conformidade da imagem de Jesus Cristo não é uma tarefa que consistisse na realização de uma imagem de Cristo que se nos exigisse. Não somos nós que nos transformamos em imagem de Cristo; é a própria imagem de Deus, a do próprio Cristo que quer se formar em nós (Gl 4.19). É a sua própria estatura que quer revelar-se através de nós. [...]
[...] Na encarnação de Cristo em forma humana, toda a humanidade reencontra a dignidade da semelhança de Deus. [...] Na comunhão com o encarnado é nos restituída a nossa verdadeira natureza humana. Somos arrancados do isolamento gerado pelo pecado, e devolvidos à humanidade toda" (BONHOEFFER, 1989, p. 191).
A prática da vida cristã pode ser aprendida somente sob os quatro mandatos divinos: família, trabalho, autoridade e igreja. Para Bonhoeffer, Deus colocou os seres humanos sob todos os quatro mandatos, não somente cada indivíduo sobre cada um ou outro, mas todas as pessoas sob todos os mandatos. Não pode haver um recuo, de um domínio “espiritual” para um domínio “mundano”. “Deixe a igreja ser a igreja”, então, como queria Karl Barth. Mas deixe também a família, o governo e as instituições econômicas e sociais que realizam a cultura serem eles mesmos.
A sociedade boa em termos teológicos não é, então, aquela que se conforma a este ou aquele padrão da legislação ou de organização econômica, mas a que se constitui em um lugar onde a pessoa possa ser responsável em todos os aspectos do mandato ao mesmo tempo. Um modo de reconhecer se um governo ou um sistema político está sendo conduzido de forma equivocada ou injusta é quando este tenta negar a autoridade dos outros mandatos, reivindicando toda a lealdade para si e redefinindo o critério de responsabilidade, de tal modo que a pessoa considerada responsável é aquela que serve ao estado ou ao partido político, traindo, assim, a família, a igreja ou a cultura.
(Extraído e adaptado de minha dissertação de Mestrado em Filosofia: Ética protestante e pós-modernidade)

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Prêmios




A Alê e o Alberto presentearam o nosso blog com dois prêmios: "Escritores da Liberdade" e "Blog Cabeça". Fiquei muito feliz com a premiação e quero retribuir, enviando esses prêmios àqueles que leio de vez em quando:




- O blog dos adolescentes da IBON, http://alealb.blogspot.com/








Espero que visitem e gostem.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

A hora de fazer ajustes / The time of change

Uma das grandes questões que afeta nossas escolhas diz respeito ao tempo. Em que momento a decisão de mudar é mais propícia? Em princípio, numa explicação bem simples, em todo o tempo você muda. A própria vida é um processo constante de mudanças. Essa é a noção do devir.
Hegel explica o devir como uma passagem entre o ser e o não-ser, uma vez que tudo o que existe é contraditório e está sujeito a desaparecer. E isso é uma constante. Ou, como disse Heráclito: só há uma certeza, que tudo muda. O que nos permite ultrapassar os limites da contradição é o pensamento dialético.
Se é assim, a pergunta é: pode haver mudança significativa em sua vida se você permanecer como está? Considerando o fato de que Deus tem o controle de nossa história e de nosso futuro, Ele pode realizar a Sua vontade do jeito que você está?
Jesus disse certa vez: "Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo" (Lucas 14.33). Isso nos leva a três afirmações sobre a necessidade de experimentar mudanças: (1ª) você não pode permanecer como está e fazer a vontade de Deus ao mesmo tempo; (2ª) você precisa fazer ajustes para que a vontade de Deus se realize em sua vida; (3ª) você precisa fazer uma escolha de deixar Deus agir por seu intermédio.
Para que a vontade de Deus se realize em sua vida, você precisa fazer ajustes que resultem mudanças significativas. A experiência com Deus envolve duas crises essenciais para o homem. A primeira crise é a da fé. Para experimentar mudanças significativas, você precisa crer que Deus é quem Ele diz que é. A segunda crise é do ajuste. Para que as mudanças sejam realmente significativas, você precisa ajustar a sua vida a Deus.
Se você reconhece que chegou a hora de vivenciar mudanças significativas, pare para escutar o que a Bíblia diz sobre isso.
A Bíblia diz que precisamos fazer ajustes em nosso modo de pensar: "porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos" (Isaías 55.9).
A Bíblia diz que precisamos fazer ajustes em nossos relacionamentos: "Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo? Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste" (Mateus 5.43-48).
A Bíblia diz que precisamos fazer ajustes em nossos compromissos: "Caminhando junto ao mar da Galiléia, viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores. E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. Então, eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram. Passando adiante, viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco em companhia de seu pai, consertando as redes; e chamou-os. Então, eles, no mesmo instante, deixando o barco e seu pai, o seguiram" (Mateus 4.18-22).
A Bíblia diz que precisamos fazer ajustes em nossas convicções: "E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais" (Mateus 6.5-8).
A Bíblia diz também que precisamos fazer ajustes em nosso caráter: "Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mateus 20.26-28)

domingo, 2 de dezembro de 2007

Auditoria Moral / Moral Inventory

Você já parou para fazer uma auditoria moral de sua vida? De que maneira você pode fazer isso? Faça um levantamento das escolhas que você fez e que podem ser consideradas erradas. Dentre essas escolas, quais as que afetaram somente a você e quais as que afetaram a alguém?
Certamente você terá mais facilidade de identificar as coisas que prejudicaram a você, que levaram a perdas e fracassos. Isso acontece porque temos uma tendência muito grande de centrar o nosso foco no eu, de achar que o nosso problema é sempre maior do que o do outro.
Essa maneira de tratar as nossas escolhas, atitudes e decisões envolvem o nosso campo perceptivo da realidade. Isso pode nos levar a uma auto-ilusão, porque não somos dotados de sinalizadores que nos indicam o grau de risco e de perigo em cada situação. Isso pode levar também a uma racionalização, porque nós temos uma capacidade apurada para buscar explicações causais que justifiquem nossas circunstâncias.
Entretanto, é preciso apontar uma outra perspectiva para a avaliação de nossas escolhas, atitudes e decisões. Ela está relacionada ao imaginário, que é o conjunto das representações através das quais vemos a realidade. Imaginário é o ato de imaginar, de romper as barreiras do real, da temporalidade, do que é dado, para pensar aquilo que se tem apenas como desejo.
O imaginário, melhor dizendo, é uma capacidade de prever como nossas escolhas, atitudes e decisões afetam o outro. Uma capacidade de prever também como essas mesmas escolhas, atitudes e decisões afetam o nosso próprio processo de transformação pessoal.
Esse modo de ver a questão da moral é o que move o cinema, o teatro, a literatura, a arte. É uma visão criativa que pode ser aplicada ao trabalho, à fé, aos relacionamentos. Pascal já dizia que “nossa obrigação é pensar como deveríamos”. A base dessa reflexão é: como você gostaria de ser tratado se estivesse no lugar do outro?
Foi isso que Jesus ensinou: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas” (Mateus 7:12). Essa também é a regra de ouro de todo relacionamento.
Essa questão nos remete à definição de quem somos e para onde estamos caminhando. Uma sociedade que não vê a questão moral do ponto de vista do imaginário é uma sociedade sem rumo. É um sinal de que precisa corrigir a sua visão.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

A nova dimensão da tolerância / The new dimension of tolerance / La nueva dimensión de la tolerancia

Tolerância tem a ver com a nossa capacidade de aceitar uma atitude diferente daquelas que consideramos como norma. Num tempo de mudança de paradigmas, a pergunta é: deve-se tolerar tudo?
Penso que algumas vezes é necessário tolerar o que não se quer ou com o que não concordamos. Mas nem sempre a intolerância é um erro e até mesmo algumas coisas devem ser repudiadas sim. O intolerável é uma possibilidade e, em certos casos, torna-se uma virtude combatê-lo.
Há ainda aquilo que consideramos simplesmente como tolerável, no sentido de que, apesar de desprezível e detestável, exige uma atitude de convivência pacífica. André Comte-Sponville, em seu Pequeno tratado das grandes virtudes, define que “tolerar é aceitar o que poderia ser condenado, é deixar fazer o que se poderia impedir ou combater. Portanto, é renunciar a uma parte de seu poder, de sua força, de sua cólera… Assim, toleramos os caprichos de uma criança ou as posições de um adversário. Mas isso só é virtuoso se assumirmos, como se diz, se superarmos para tanto nosso próprio interesse, nosso próprio sofrimento, nossa própria impaciência” (1999).
Tolerar, portanto, é assumir responsabilidades. Se você apenas transfere a responsabilidade para o outro, já não se trata mais de tolerância. “Tolerar o sofrimento dos outros, tolerar a injustiça de que não somos vítimas, tolerar o horror que nos poupa não é mais tolerância: é egoísmo, é indiferença (...)”, diz Comte-Sponville.
A tolerância possui seus limites, que não se trata de uma aceitação passiva da verdade ou da realidade. O que determina o limite do tolerável é a ameaça efetiva à liberdade, à paz e à sobrevivência de uma sociedade. A tolerância se limita ao campo das idéias, da opinião. No campo das ações, existe muita coisa intolerável até mesmo para o mais tolerante dos santos. Aquilo que causa sofrimento, injustiça ou opressão ao outro precisa e deve ser combatido, nunca tolerado.
O tema da tolerância ganhou força nos círculos protestantes, nos séculos XVI e XVII. Hoje, a tolerância está relacionada a uma cultura política liberal que trata de uma relação entre diferentes. Mas a questão precisa ir além. Um racista, por exemplo, não deve exercitar a tolerância simplesmente, mas superar o seu racismo.
Não basta lutar pelos direitos das minorias, mas enfatizar os direitos fundamentais da pessoa e a dignidade do ser humano. A tolerância deve se constituir como uma espécie de sabedoria que supera o fanatismo, o dogmatismo, a intolerância, e que se manifesta como um profundo amor pela verdade. Amar a verdade é reconhecê-la tal como ela é: não existe na forma absoluta e final, mas como um saber ou um valor a caminho de se realizar.
É preciso concordar com o argumento conclusivo de Comte-Sponville: “Como a simplicidade é a virtude dos sábios e a sabedoria, dos santos, assim a tolerância é sabedoria e virtude para aqueles que – todos nós – não são nem uma coisa nem outra. Pequena virtude, mas necessária. Pequena sabedoria, mas acessível.”

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Dom de línguas / Gift of tongue

Um dos assuntos mais controversos no meio protestante, por incrível que pareça, está relacionado a uma característica da ação do Espírito Santo. Fico pensando como que um tema teológico pode dividir tanto um grupo a ponto de se comportarem como se fossem inimigos.
Não quero aqui polemizar sobre o assunto. A verdade é que a questão do dom de línguas tem a ver com o modo como se desenvolve a espiritualidade. Aqueles que se preocupam em ter uma espiritualidade mais carismática valorizam esse tipo de manifestação, colocando-o como um dos dons espirituais concedidos pelo Espírito Santo para a igreja servir melhor. Até aí tudo bem. O problema está em usar o dom de línguas como uma expressão coletiva e em considerá-lo como um dos mais importante que os demais.
O assunto não é um problema de hoje. Ele dividiu os primeiros cristãos também. Tanto que, na Bíblia, o apóstolo Paulo procurou disciplinar o uso de dons, sem que houvesse qualquer impedimento para a expressão de qualquer um.
Em I Coríntios 14 encontramos algumas diretrizes para entendermos bem esse tipo peculiar de ação do espírito santo na vida daquele que crê. O primeiro esclarecimento é que falar em uma língua faz parte do processo de comunicação entre as pessoas. É uma faculdade humana que favorece a interação e caracteriza a vida em sociedade.
Falar em outras línguas, entretanto, como expressão de espiritualidade está relacionado ao aspecto subjetivo de nossa relação com Deus. Porém, Deus não precisa de uma língua humana para se relacionar com o homem. A linguagem de Deus independe de um conjunto sistêmico conhecido como língua. Por isso que a Bíblia diz que deus fala ao coração, terreno enganoso que só ele entende.
Da mesma forma, nós não precisamos de palavras inteligíveis para expressarmos nossos sentimentos a Deus. Deus se relaciona conosco não somente pela fala, mas muito mais pelo silêncio e pela escuta.
Por isso que a experiência coletiva de falar em outras línguas acaba tendo um aspecto de confusão. Torna-se também um equívoco, e até uma ingenuidade, usar o dom de línguas como marca distintiva de poder e de espiritualidade. Contudo, Deus ainda assim abençoa porque leva em consideração as expressões íntimas de sinceridade e consagração.
Falar em outras línguas (e até mesmo em nossa própria língua natural) na relação uns com os outros exige discernimento e prudência.
Na primeira vez em que o Espírito Santo impulsionou os discípulos a cumprir a ordem de compartilhar a mensagem de forma coletiva, cada um ouvinte a entendeu em sua própria língua, quer dizer, conforme a variação dialetal de sua nação de origem. Os discípulos foram capacitados a pregar a mensagem na linguagem comum dos seus ouvintes, de forma que eles entendessem através das expressões idiomáticas, figuras de linguagem e as variações populares comuns de sua gente.
Seria o mesmo que pregar uma mensagem a um grupo culturalmente distinto do nosso, com suas gírias comuns e suas expressões grupais. Existem tantos grupos assim em nosso meio, divididos por características geográficas, econômicas, sociais, culturais e até religiosas.
Mas, ao contrário dos primeiros discípulos, que se renderam à direção do Espírito Santo, a igreja de hoje acaba falando em uma língua diferente de seus ouvintes. Em alguns casos, desenvolve um dialeto novo, só entendido pelos falantes de nossa “tribo”.
Isso não quer dizer que se deva proibir o falar em línguas. Mas valorizar o dom de usar a língua para a edificação do outro. Quando vejo alguém que ora ou fala em línguas reconheço o quanto essa pessoa pode ser sincera em sua fé para com Deus, mas não vejo qualquer utilidade prática para a sua relação com o próximo. Creio que é um novo exercício de espiritualidade a ser experimentado.
(Tema da aula do dia 25/11/2007 na Classe Bíblica da Igreja Batista da Orla de Niterói)

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Vida simples / Simple life

Uma boa maneira de começar o seu dia é pelo café da manhã. Deve ser como um ritual, uma celebração a um novo dia. Acordar a cada manhã faz parte de nosso ciclo vital. E isso é fundamental para nos sentirmos vivos.
Você é daqueles que é capaz de sacrificar qualquer coisa por mais 15 minutinhos na cama? Experimente olhar para o ato de levantar de um outro modo. Um novo dia que se inicia representa uma série de oportunidades que surgirão em sua vida e que precisam ser bem aproveitadas.
Ao acordar, você tem necessidade de aquecer e de alimentar bem a si mesmo. Sabe aquela propaganda que diz que a melhor coisa depois de um bom jantar é um bom café da manhã? Pois é nisso que eu gostaria que você pensasse. Acordar não pode ser um grande sacrifício que você tenha que enfrentar todos os dias. Precisa, antes de tudo, ser o resultado de um ciclo vital, de uma vida bem vivida e desfrutada com intensidade.
Depois de um período de inatividade, que corresponde em média a oito horas de sono, você precisa de um tempo para começar a agir e entrar no ritmo. É claro que tem manhãs que a gente quer ficar um pouco mais na cama, principalmente depois de um dia estressante. Mas você não pode abrir mão de celebrar o amanhecer de um novo dia.
Para isso, você precisa de duas coisas fundamentais. Primeiro, um bom café da manhã. Isso me faz lembrar de minha médica do trabalho. Ela me disse que pela manhã eu preciso comer frutas e que eu devo preferir aquelas que enchem a boca de água quando são mastigadas, que eu preciso também da proteína dos queijos (de preferência os brancos) e que eu preciso de uma bebida quente e forte para começar o dia.
Costumo fazer questão da mesa posta, mesmo quando estou só. De vez em quando, nada como fazer uma surpresa ou ser surpreendido pela companheira com o café da manhã na cama. Belas maneiras de celebrar o começo de um novo dia.
Segundo, você precisa de um tempo de meditação para pôr em ordem o seu mundo interior. Não precisa mais do que quinze minutos para conversar com Deus, falar o que você sente e precisa, ouvir a Sua voz ainda que no silêncio. Não há uma regra para isso. A meditação é um exercício muito pessoal de introspecção. Alguns preferem o ritual do tipo budista, outros a formalidade do pietismo. Penso que o formato é o que menos importa. Você precisa ter a convicção de que está na presença de Deus e que isso se constitui em um momento único.
Qual a ordem? Se o café vem antes da meditação ou é o contrário? Não importa. Você precisa das duas coisas. Elas precisam ser inseparáveis. Começar bem um dia é condição para desfrutar de todas as oportunidades que virão.
Pode ser que você seja daqueles que não têm tempo para nada. Quando aprendi a valorizar o começo do dia, tive que acertar o relógio para despertar quinze minutos mais cedo. Nos primeiros dias foi difícil, mas com a persistência virou um hábito e o corpo logo se adaptou. Se sou fiel a esse hábito? Claro que não. Eu preciso ser fiel com relação aos meus valores, princípios e propósitos, não com a minha rotina. Começar bem o dia é que se tornou um grande valor para minha vida. E disso não se deve abrir mão.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

O que significa ser sincero / What is sincerity

Muitas pessoas fazem questão de serem sinceras. Isso é bom. O problema é quando começam a falar. Geralmente começam com a expressão: “sinceramente...” Para a nossa sociedade, sinceridade virou uma forma de agressividade verbal em que se diz aquilo que vem à boca sem qualquer reflexão crítica.
Essa sinceridade que diz o que vem de imediato à mente inaugura um discurso de rejeição ao outro, no qual se ressaltam as diferenças e se rejeitam as aparências. Na verdade, não passa de uma grosseria e de intolerância por parte de quem fala, principalmente quando é dita sem piedade, sem compaixão pelo outro. A sinceridade sem amor é crueldade.
Esse tipo de sinceridade não faz bem a ninguém. Esse jeito de dizer sem refletir gera expectativas falsas em relação ao outro e em relação a si mesmo. Além disso, falseia o sentido de coragem, uma vez que corajoso não é aquele que avança de peito aberto contra o inimigo. Mas aquele que reconhece as suas potencialidades e sabe de fato quem é.
Porém, sinceridade não tem nada a ver como a maneira como você vê o outro. A palavra vem do mundo da marcenaria. Os fabricantes de móveis, quando usam uma madeira com falhas, usam a cera para escondê-las. Um móvel sem cera é um móvel liso por natureza, que mostra a madeira tal como ela é. Assim é também uma pessoa sincera.
Sinceridade tem a ver com a maneira como você vê a si mesmo, tal como você é, por trás das máscaras que você usa para se relacionar com os outros. O modo como você vê a si mesmo interfere no modo como você vê o outro.
Por isso que a verdadeira dimensão da sinceridade só pode ser encontrada na confissão. Não a confissão formal, por motivos de uma obrigação religiosa. Mas a confissão como um ritual de autoconsciência.
A sinceridade é, portanto, uma atitude de auto-análise, de exame de si mesmo. É também uma exigência para que você se reconheça como pessoa e para que saiba tanto dos seus limites como de suas potencialidades.
Isso implica em um exercício de entrega ao outro, isso influencia o modo como você se mostra ao outro. Quer ser sincero? Diga para você mesmo, assim, “na lata”, quem você é!

domingo, 25 de novembro de 2007

Quem é você? / Who are you?

Alguma vez você já parou para se perguntar a respeito de quem é você? E, ao fazer essa pergunta, você não reparou que para cada situação que você enfrenta – e até mesmo para cada ambiente que você freqüenta – você assume um papel diferente? Em princípio, a resposta a essas duas perguntas pode remetê-lo a uma resposta pronta de que você é uma pessoa com muitos papéis.
Mas pare também para pensar no que as pessoas diriam se fossem perguntadas a respeito de quem é você. Como as pessoas que trabalham com você, os membros de sua equipe, definiriam a sua pessoa? Será que isso corresponderia a quem você é no íntimo e até mesmo a quem as pessoas de outro grupo – sua família, por exemplo – dizem que você é?
A verdade é que cada um de nós é resultado de alguns processos básicos de formação: nossas origens, nossa educação, nossas obrigações cotidianas, nossa interação com mundo, nossos devaneios e nossos anseios. Ao longo de toda a nossa vida formamos uma espécie de relação com o mundo que se constitui em verdadeiras defesas para esconder e proteger nossas emoções. São as nossas máscaras.
As máscaras são nossas respostas às convenções e tradições sociais e às nossas próprias necessidades internas. É o lado de nossa personalidade que se torna pública. Aqueles traços que nos distinguem e que os outros vêem.
Um fato interessante é que todos nós temos uma propensão muito grande a nos auto-enganar. Somos capazes de sentir e de acreditar que somos de fato o que não somos. E fazemos isso de boa-fé. Nos iludimos com muita facilidade imaginando que somos algo além ou aquém do que realmente somos. passamos a vivenciar de forma mascarada e não do modo que somos.
Se você fizer uma análise de si mesmo, isenta de preconceitos, pode ser que se dê conta de que possui atitudes, comportamentos e até hábitos que se tornaram vícios que você não vai gostar de saber que os tem. Mas o fato é que você precisa saber quem você é realmente. Ter conhecimento de quem você é por trás da máscara vai apontar quais são os medos, orgulho, vergonha, impedimentos de ser quem você é. Esse é o primeiro passo para o conhecimento de si.
Ter a ousadia de dar esse primeiro para saber quem você é significa repensar a vida, ter a atitude de abrir-se à possibilidade de se tornar quem você pode ser. Jesus Cristo chamou essa atitude de nascer de novo. E colocou isso como uma necessidade. E é condição para ter acesso ao Seu Reino.

sábado, 24 de novembro de 2007

O lugar da profecia / The place of prophecy

Profetizar é ser canal de comunicação entre Deus e os homens. É declarar a vontade de Deus aos homens. É fazer soar o clamor de Deus a um mundo aflito.
O profeta entende a paixão do Criador pelo homem perdido, conhece os mistérios de Sua Palavra e recebe a direção do Senhor para a melhor interpretação e aplicação para o seu tempo. Isso significa escutar a voz de Deus.
Deus precisa de profetas para hoje. O desafio é imenso. O profeta de hoje precisa denunciar o pecado e a corrupção, anunciar o tempo do arrependimento e apontar a porta aberta para afirmação de uma humanidade restaurada.
Paulo resume bem a missão profética: visa edificar a vida daqueles que foram destruídos por uma visão distorcida do mundo; visa exortar os que estão dispersos e desorientados a seguir o caminho proposto pelo Senhor; visa consolar aqueles que choram a sua triste condição humana. “Mas o que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação” (1 Coríntios 14.3).
Quase sempre isso significa mexer com os poderosos, com as estruturas dominantes, incomodar o inimigo. Pode acarretar um alto custo para vida do profeta. Para o mesmo Paulo, se alguém está procurando algum dom especial, alguma habilidade para servir a Deus em seu tempo, deve procurar o de profetizar (1 Coríntios 14.39).
A profecia não mudou com o passar dos anos. A Palavra de Deus continua viva entre nós e precisa ser anunciada ao mundo. Deus continua levantando profetas nos dias de hoje para que falem a sua Palavra aos homens. O desejo do coração de Deus ainda é o mesmo.
A fonte da profecia e a forma de profetizar, entretanto, são outras. Antes, o profeta recebia a inspiração direta de Deus de forma inédita. Hoje, ainda que Deus continue a inspirar diretamente a seus profetas, há o compromisso com a Palavra de Deus revelada aos homens, a Bíblia. Mas o conteúdo da profecia não mudou. Deus continua a chamar e mover homens nos dias atuais para exercerem o ministério profético no mundo em que vivemos. A Palavra de Deus nunca passará e nunca voltará vazia, ou seja, em qualquer tempo produzirá os efeitos que são agradáveis ao Senhor.
E, tanto quanto no passado, o ministério profético nem sempre será bem-vindo entre os homens. Ezequiel é o exemplo de profeta ara o seu tempo. Deus alertou a ele que, ainda que o povo não quisesse ouvir a mensagem, deveria ficar evidente que havia no seu meio um profeta.
O que determina a conduta de um profeta não é o seu poder de oratória ou os títulos que possui, mas o tempo que gasta na presença de Deus, buscando a sua face e estudando a Sua Palavra.O verdadeiro profeta deve marcar sua conduta pela sua dependência de Deus, pela unção espiritual que possui e pela autoridade na Palavra. A verdade profética não é evidente nem lógica: é coerente.
Homens e mulheres assim são raros. Seja um profeta. Em tempos de tanta tecnologia avançada, usando todos os recursos de que dispomos, seja um profeta para hoje, anunciando para todo homem o eterno propósito de Deus.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Quando o trabalho duro se torna excesso / Workaholic, perfection addict

O trabalho em excesso é um problema que se torna imperceptível porque se confunde com uma virtude. Mas dedicação excessiva ao trabalho já é tratada como um mal que precisa de uma terapia adequada. O nome que se dá à pessoa acometida dessa enfermidade é workaholic.
A maioria dos workaholics é perfeccionista, tem uma necessidade de controle ou então apresenta uma combinação dessas características. O assunto vem despertando o interesse há algum tempo. Um número maior de profissionais de saúde mental atualmente considera o vício em trabalho um problema capaz de causar danos tanto mentais quanto físicos.
É provável que você seja ou se torne um workaholic. Se você se sente compelido a trabalhar apenas por trabalhar e sente pânico, ansiedade ou é tomado por uma sensação de perda quando não está trabalhando você já experimenta alguns sintomas. O workaholic é viciado em atividades incessantes e procura uma maneira de se envolver mais com a tarefa. Ele não está procurando maneiras de se tornar mais eficientes; está simplesmente buscando formas de sempre ter mais trabalho a fazer.
Não se trata apenas de aqui valorizar a preguiça ou o ostracismo. Se bem que há produtividade no ócio. A diferença é que a pessoa que não é um workaholic sabe como estabelecer limites. Algumas vezes qualquer um de nós precisa trabalhar durante longas horas, mas cada um tem um regulador interno que diz quando isso está indo longe demais.
Pesquisas recentes tem descoberto que o estresse que acompanha o trabalho excessivo pode levar ao uso abusivo de substâncias como álcool e drogas, desordens de sono, ansiedade e até mesmo a problemas físicos como doenças do coração.
No ambiente de trabalho, o workaholic, além de desencorajar a eficiência, ele pode gerar um estresse enorme entre os outros funcionários. Se for um chefe, pode esperar que os seus subordinados trabalhem muitas horas ou mesmo forçá-los a tentar atingir padrões impossíveis a empreender ações para consertar as coisas quando o resultado disso tudo for qualificado como medíocre.
A pessoa que trabalha muito pode parecer um herói, ao colocar-se a disposição para resolver uma crise após a outra, quando na verdade essas crises poderiam ter sido evitadas. Às vezes, o workaholic pode ter inconscientemente criado problemas a fim de gerar jornadas intermináveis de mais trabalho. Se você chegou a esse ponto, uma advertência: procure ajuda, você precisa de um profissional que te acompanhe.
A reflexão sobre o trabalho em excesso nos ajuda a encontrar o sentido da necessidade de parar. Se você está envolvido em tarefas estressantes, experimente parar um pouco. Poucos minutos que seja. Sinta alegria por não ter que ir a lugar nenhum, de não precisar de pressa. Um tempo para se sentir feliz. Esqueça por um pouco das tarefas, das contas, dos telefonemas, dos e-mails. Reserve um tempo para ser. Isso também é espiritualidade.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Viver com contentamento / Living with satisfaction

Ter é uma grande armadilha. Sansão é um grande exemplo de uma pessoa que não soube conviver com os excessos na Bíblia. Suas decisões o levaram a um grande conflito, a confusão emocional na qual ele se envolveu tornou-se maior do que ele. O resultado em sua vida foi um período de escuridão e sofrimento.
Sansão foi criado por seus pais desde o nascimento para servir a Deus. Ele era consagrado ao Senhor, inclusive com um voto de dedicação. Um símbolo dessa consagração era o fato de que seu cabelo não havia sido cortado. Mas as ofertas e os prazeres atraíram o jovem e isso o levou a ter uma vida dissoluta. Até que casou-se com uma mulher de um povo inimigo ao seu. Apesar disso, Sansão continuou sendo abençoado por Deus com uma força extraordinária, que livrava Israel de seu inimigo mais feroz, os filisteus.
O poder que desfrutou em vida funcionava como um cartão de crédito sem limites em suas mãos. Ele conseguia realizar proezas e conquistas com muita facilidade. E as conquistas geravam mais sede de poder. Uma conspiração, porém, através de sua própria esposa, o levou a revelar o segredo de seu voto. Cortaram o seu cabelo e ele foi aprisionado com facilidade.
A Bíblia diz que, por causa disso, o Espírito do Senhor se ausentou de Sansão. O fim de sua vida foi muito triste. Uma vez ali, sem alternativas, envergonhado e humilhado, Sansão tomou a única decisão possível: de colocar a sua vida a disposição de Deus para que, num único ato, pudesse honrar o nome do Senhor. Essa história pode parecer estranha para você, mas muitas vezes Deus usa de várias maneiras para nos mostrar que só há uma coisa que importa em nossa vida, que é pertencermos a Ele.
Sansão, quando se viu só e perdido em seu desespero, clamou ao Senhor pelas dádivas do contentamento. De um modo geral, as dádivas do contentamento estão aí mesmo disponíveis, ao nosso alcance, para serem desfrutadas. São como presentes simples que nos trazem um sentimento de satisfação, de completude. Robert Johnson, em seu livro Contentamento, fala dessas dádivas. Observe pelo menos quatro dessas dádivas que Sansão vivenciou:
A dádiva de parar. Você precisa diminuir o ritmo, dar um tempo para você mesmo. Algumas vezes somos forçados a isso, quando somos obrigados a ficar parados em meio as atividades corriqueiras (fila de espera no banco, no aeroporto etc.). Sansão teve que parar o ritmo quando foi preso pelos filisteus. Ele pôde refletir sobre a importância de sua vida e os propósitos de Deus. A Bíblia, no Salmo 37 tem três conselhos úteis para fazermos na hora em que paramos: “Deleite-se no Senhor, e ele atenderá os desejos do seu coração. Entregue o seu caminho ao Senhor, confie nele e ele agirá (...) Descanse no Senhor e aguarde por ele com paciência...” Salmos 37.4, 5 e 7.
A dádiva da fidelidade ao momento. É uma atenção concentrada e deliberada com o que está a sua volta. A narrativa bíblica conta que Sansão foi levado pelos filisteus a uma grande festa. Quando estava ali naquela grande construção, envergonhado e humilhado, fez uma sondagem das circunstâncias em que se encontrava. “Sansão disse ao jovem que o guiava pela mão: ‘Ponha-me onde eu possa apalpar as colunas que sustentam o templo, para que eu me apóie nelas”. Juízes 16.26.A Bíblia nos diz que a graça nos satisfaz e ela só pode ser experimentada em meio à vida no mundo. “Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos ensinou a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente”. Tito 2.11-12
A dádiva da energia. Quando chegamos a uma falência de energia, precisamos encontrar formas de recarregar as baterias e deixar Deus agir. Naquele momento em que se encontrava, Sansão tomou a decisão mais importante de sua vida. Diz a Bílbia: “E Sansão orou ao Senhor: ´Ó Soberano Senhor, lembra-te de mim! Ó Deus, eu te suplico, dá-me forças mais uma vez...’” Juízes 16.28. O desejo de Jesus para todo ser humano é: “... eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente”. João 10.10.
Finalmente, a dádiva da reparação. Faça um inventário de sua vida e reconheça onde você está errado. Admita o erro. Procure as pessoas lesadas e repare o seu erro. Isso exige humildade e ajuda a vencer o sentimento de culpa. Sansão procurou reparar o seu erro de uma forma inusitada. “... disse: ‘Que eu morra com os filisteus!’” Josué 16.30. A Bíblia diz que houve mais perdas para os filisteus naquele momento que em toda a vida de Sansão. Lembra-se da experiência do filho pródigo? Ele tomou uma decisão: “Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai, e lhe direi: pequei contra o céu e contra ti”. Lucas 15.18
Você pode viver com contentamento em meio a esse tempo consumista. Só depende de você.

domingo, 11 de novembro de 2007

Vencendo os excessos / Winning the excesses

Você está satisfeito com o modo como você vive hoje? Houve alguma época em que você já esteve contente de verdade? A resposta a essas perguntas tem a ver com o modo como você conduz a sua vida, se você é ou não direcionado pelos apelos do consumo.
Você já reparou como há uma variedade de ofertas para cada coisa que você faz? A vida parece um grande supermercado em que você encontra um sortimento muito grande de coisas para você escolher. Isso não está relacionado somente a uma variedade de produtos no mercado. Há também uma variedade de idéias, de concepções morais, de religiões. Podemos ir mais adiante. Essa variedade tem se refletido nos excessos que acontecem a nossa volta. Excesso de violência, de informação, de alternativas, de diferenças, de preferências...
Não que a diversidade seja de todo ruim, mas o excesso tem causado uma séria crise: a oferta tem sido maior que a nossa capacidade de assimilar. E isso tem provocado um certo medo tomar decisões, de fazer escolhas. O receio de fracassar ou de tomar uma decisão agora e depois se deparar com uma situação melhor.
A maneira como se constitui a sociedade contemporânea, todos os apelos se destinam a criar sentimentos de desejo ou aversão nas pessoas. Ir atrás de coisas novas ou diferentes nunca satisfaz, e jamais você terá satisfação se entrar num ciclo interminável de ganhar e gastar, de desejar e se arrepender.
O antídoto para o sentimento de ansiedade provocado pelos excessos é o contentamento.
Contentamento é a experiência de estar satisfeito. A Bíblia ensina isso. Jesus afirmou: “não se preocupem com sua própria vida”, Mateus 6.25-27. O apóstolo Paulo afirmou: “ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter”, Romanos 12.3. E: “... aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação...” Filipenses 4.12.
O contentamento não é o resultado de fazer ou ter. Não basta reorganizar a vida somente do lado de fora, adotando um estilo de vida isento do consumismo. É claro que há virtude em simplificar a vida. Vale a pena adotar um estilo de vida mais simples, ter uma dieta mais natural, diminuir o número de prestação, reduzir suas dívidas, reservar mais tempos com os amigos e família.
O contentamento é uma experiência interior, um modo de ser que não é dominado pelos apelos externos. O que pode causar insatisfação na vida das pessoas? Um fator é a projeção, que é o erro de atribuir um aspecto de sua vida interior a alguém ou algo exterior. Você transfere a pessoas ou coisas a responsabilidade de torná-lo feliz ou infeliz. É o que leva você a elogiar ou a culpar pessoas. Projetamos nos outros atributos negativos (preguiçoso, ganancioso, invejoso, covarde, medroso etc.) e positivos (confiável, amoroso, fiel etc.). Movidos pela projeção, agimos de modo emocional, compulsivo e desproporcional. A maneira de superar as projeções e parar de culpar o mundo pela sua insatisfação é aceitar honestamente quem você é, aceitar a realidade da sua vida aqui e agora.
Outro fator é a Inflação, que é uma visão distorcida de quem você é, quando pensamos e agimos como se fôssemos mais do que realmente somos, cheios de expectativas e até mesmo de arrogância. A vida cotidiana nos estimula a inflação, voltada para o progresso, para o consumo, para o excesso. Toda as vezes que nos inflamos, pagamos um preço. Toda a inflação é seguida de uma deflação, que é uma visão de si mesmo menor do que você é realmente, um sentimento de insuficiência, de negatividade, de alienação, de solidão. O contentamento só pode ser encontrado no equilíbrio.
O contentamento requer que você seja quem é, nem mais, nem menos. Isso implica em ser o que você é e querer o que você tem. Para isso, precisamos de uma fonte de consolo que vá além do eu. Algo em que estabeleçamos uma relação significativa, que nos permite conectar a algo maior. O contentamento nos chega como resultado da graça.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Desafiando gigantes / Facing the giants / Frente a los gigantes

Quais são os gigantes que impedem que você tenha uma experiência profunda com Deus? Essa pergunta faz sentido para você? Aquilo que te causa medo e ansiedade parece para você um gigante desafiador? Isso te assusta e te incomoda?
Os problemas e circunstâncias que nos envolvem atuam como verdadeiros obstáculos a que prossigamos em nossa jornada de fé. Quantos já não abandonaram a vida cristã por causa de grandes obstáculos que se apresentaram durante a caminhada.
É bom usarmos a metáfora de uma travessia de barco. Lembra do episódio narrado nos evangelhos sobre isso? Naquela ocasião, um grande temporal se abateu sobre o mar da Galiléia. Os discípulos estavam ali, no meio daquela imensidão de água, passando por uma tempestade de ventos impetuosos. Jesus, porém, descansava tranqüilamente.
Observe que a tempestade aconteceu no meio da viagem. É no meio do caminho que os problemas acontecem. Os maiores gigantes que temos que enfrentar estão no meio da caminhada.
Observe também que o milagre só foi possível porque Jesus estava com os discípulos no barco. “Com Cristo no barco tudo vai muito bem...” Lembra desse cântico?
Só que os discípulos tiveram duas experiências diferentes, tal qual nós também experimentamos quando estamos diante de problemas que nos desafiam. Primeiro, eles tentaram resolver os seus problemas por si mesmos. Depois, eles lembraram que Jesus estava ali ao lado deles. Por causa disso, Jesus os chamou de “homens de pouca fé”.
Vivemos um tempo de muitas ofertas e de oportunidades, de modo que somos tentados a achar que somos capazes de dar conta de toda a complexidade de nossa vida. Não será nenhuma surpresa saber que alguma vez você tenha se esquecido que Jesus promete estar ao seu lado sempre.
Não importa o que aconteça, não importa quais sejam os desafios, a palavra de Deus nos garante que os propósitos que Deus tem para a nossa vida vão se consumar, se permitirmos que ele esteja no controle de nossa vida.
Por isso a pergunta: o que te parece tão desafiador, que você não consegue dar conta por si mesmo e que te impede de experimentar o amor e o poder de Deus a sua disposição? Coloque isso diante de Deus. Entregue para Ele a sua vida e deixe que Ele mesmo te conduza à vitória.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Organize a sua vida / Organize your life / Organice su vida

Organize sua vida. Isso também é espiritualidade. Você precisa pôr em ordem as coisas que você faz. Isso te ajuda a também pôr em ordem o seu mundo interior. É claro que há coisas que estarão sempre fora do seu controle. Mas há algumas coisas que são possíveis de serem controladas. Veja só.
Organize o seu trabalho. Você pode gerenciar o seu tempo, seus contatos, suas prioridades. Há muitas coisas que podem causar desordem nas suas relações de trabalho e que podem gerar falta de produtividade. Se você é uma pessoa perfeccionista, se tem dificuldade de dizer não ou mesmo se falta planejamento para as suas atividades diárias, por exemplo, você pode estar gastando muita energia com aquilo que não é necessário. Esteja consciente de que ninguém tem tempo para fazer tudo, mas as pessoas que se envolvem com grandes coisas são pessoas que souberam organizar a sua vida.
Organize a sua família. É nela que estão os seus relacionamentos mais afetuosos e permanentes. O individualismo e a ambição são causas de destruição do relacionamento familiar. Nossos familiares não precisam de bens que gerem conforto, mas precisam de afeto, de atenção, que proporcionam satisfação e equilíbrio.
Organize a sua casa. A nossa habitação é o lugar de ser o que somos no íntimo, é o lugar da fuga do cotidiano. É lá que estão nossos espaços íntimos, nossos livros, discos e filmes preferidos. É lá que gastamos tempo com amenidades, cuidamos de nossa saúde, fazemos a refeição mais saudável. Para isso, você precisa cuidar da limpeza, da funcionalidade, da harmonia. Isso significa ter as coisas nos devidos lugares para não perder tempo com atividades prolongadas. Mas tenha cuidado: o prazer de estar em casa não pode ser desperdiçado com tarefas de limpeza e de organização.
Organize suas finanças. A maneira como você aplica ou investe o seu dinheiro revela o seu caráter. O cuidado com a aparência pode produzir um tipo de pessoa que custa muito caro. Isso não quer dizer que você não tem que cuidar de sua aparência. O problema é que o ter se tornou uma imposição na sociedade de consumo. Você precisa encontrar um modo de equilibrar seus gastos de modo que você possa ter uma vida saudável no presente e investir no seu futuro.
Organize suas idéias. O conhecimento é o seu grande capital para viver nesse tempo. O principal modo de conhecimento hoje é o “saber fazer”, que é o conhecimento associado à experiência. É interesse observar que o desempenho e a eficiência hoje não são medidos pelos diplomas, mas pelas competências e habilidades. Mas não se iluda, a proliferação do conhecimento gera a ansiedade e a máxima especialização gera falta de conhecimento da complexidade que envolve a vida. Conhecer mais significa também estar antenado com o mundo da política, das artes, da literatura, do cinema, do teatro. Para isso, você precisa acompanhar o noticiário, encontrar pessoas também antenadas e partilhar seus conhecimentos.
Comece a dar os primeiros passos hoje. Faça uma coisa de cada vez de maneira consistente. Estabeleça metas. Respeite seus limites. A cada coisa que colocar em ordem em sua vida, você vai perceber que as circunstâncias melhoram e isso será um estímulo para continuar.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Deus, além do delírio / God, more than a delirium

Gostaria de falar sobre a experiência de Deus como uma necessidade, mas que não pode ser avaliada simplesmente à luz de uma lógica racional. A base para isso é a análise do texto de 1 Coríntios, em seu capítulo 1, no qual Paulo fala da sabedoria e do poder de Deus que se apresenta como loucura e fraqueza para o homem.
Veja o que diz em um dos trechos: “Ele escolheu o que para o mundo é insignificante, desprezado e o que nada é, para reduzir a nada o que é”, (1 Coríntios 1.28)
Em função disso, defendo a idéia de que é preciso conhecer Deus para além de nossa condição humana. “Pois a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo, mas para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus”, 1 Coríntios 1.18. A queda (aquela mesma do Edem, com adão e Eva), que deu origem ao pecado, é a causa de não conhecermos Deus como Ele é. Entender o problema da queda e a conseqüência disso em relação à experiência com Deus é um requisito para iniciarmos o nosso relacionamento com Deus. Nesse sentido, Jesus Cristo é a solução para o problema provocado pela queda.
É preciso conhecer Deus para além da razão humana. “Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, agradou a Deus salvar aqueles que crêem por meio da loucura da pregação”, 1 Coríntios 1.21. A sabedoria de Deus é revelada em meio a nossa vivência com Ele. Deus se importa com a nossa dor. As coisas que nos fazem sofrer afetam o coração de Deus também.
É preciso conhecer Deus para além de nossa capacidade. “Porque a loucura de Deus é mais sábia que a sabedoria humana, e a fraqueza de Deus é mais forte que a força do homem”, 1 Coríntios 1.25. A ausência da hipótese de Deus na pós-modernidade dá lugar à necessidade de um orientador, de conselheiros, de guias espirituais e de gurus como substitutos do Deus que fale face a face com o homem. ‘Mas é preciso evitar a tentativa de colocar Deus numa brecha, como se pudesse forçar a sua compreensão.
É preciso conhecer Deus para além de nossas emoções. “Mas Deus escolheu o que para o mundo é loucura para envergonhar os sábios, e escolheu o que para o mundo é fraqueza para envergonhar o que é forte”, 1 Coríntios 1.27. Crer em Deus tem a ver com nossas fragilidades, com nossas sensibilidades. A experiência de Deus está mais ligada às nossas necessidades emocionais e de relacionamentos.
Para você, crer em Deus é um delírio? Pois saiba que é algo que está para além do delírio.
(A propósito, li recentemente o livro Deus, um delírio, do biólogo Richard Dawkins. Seus argumentos não são consistentes para fazer alguém descrer - como alertou no começo do livro. Antes, é uma demonstração bastante contundente de como anda o ateísmo contemporâneo. Se vale a pena ler? Você é quem sabe. A Bíblia recomenda examinar tudo e reter o que é bom)

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Espírito empreendedor / Entrepreneur / El espíritu empresarial

Quando se fala de gestão, de um modo geral, tem-se a idéia de que se trata de um conjunto organizado de procedimentos que visa produzir resultados pretendidos. Ou seja, diz-se – e com exatidão – que a gestão existe para ajudar a que se realize a missão da empresa, da instituição ou do órgão prestador de serviço. O problema está em achar que a gestão está ligada somente às questões internas da organização.
A parte externa comumente é destinada a um outro tipo de atitude, geralmente vista como isolada e independente da gestão. Está ligada ao empreendedorismo. Mas é preciso compreender que gestão e empreendedorismo não são coisas distintas; antes, são faces de uma mesma ação. Uma não subsiste sem o outra.
Aquele que tem o espírito empreendedor tem a capacidade aguçada de perceber as demandas da sociedade e estabelecer respostas focalizadas nelas. E as necessidades que demandam gestão nascem de fora para dentro.
O empreendedor que não desenvolve habilidades de gerência não tende a durar muito. Da mesma forma, gestores que não são capazes de inovar tendem ao fracasso, a repetir fórmulas, a imitar os outros. O foco da gestão deve ser o que afeta o desempenho da instituição e seus resultados, seja dentro ou fora dela, seja sob seu controle ou não.
O espírito empreendedor, por sua vez, tem como foco romper a tendência de auto-suficiência, a romper os limites da visão focada em si mesma. A base da estratégia empreendedora é a relação com a sociedade, o mercado, o meio ambiente.
A atitude empreendedora envolve:
- adoção de novas estratégias de ação para que atinja resultados desejados a curto, médio e longo prazo, em circunstâncias imprevisíveis;
- aquisição de novos conhecimentos que impliquem em um olhar para além das fronteiras da organização, que possibilitem a atualização da missão;
- foco na necessidade dos clientes; embora a necessidade possa ser única, os meios para satisfazê-las não o são.
Uma das coisas que a pós-modernidade tem mostrado ser ineficaz é o modelo de se desenvolver um saber específico para cada tipo de negócio, serviço ou produto. A idéia da máxima especialização significa menor conhecimento da complexidade que envolve a vida. Vivemos num tempo de transformações aceleradas, no qual parece que os saberes e as tecnologias de maior impacto sobre um determinado campo produtivo são externos a ele.
Estar aberto às novas contribuições das ciências sociais e humanas, ao mesmo tempo que se dá importância ao desenvolvimento tecnológico, às novas descobertas da biologia, ao mundo da literatura e da arte, é a condição para o surgimento de novas atitudes empreendedoras. Isso permitirá que surjam novos mecanismos para que se compreenda a necessidade dos que estão de fora e alcançar aqueles que são seus clientes em potencial.

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