sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Pânico, euforia e crise financeira / Panic in financial market / Pánico en los mercados financieros

O mundo mudou, e tudo indica que foi para pior. Há um temor por trás do atual colapso nos mercados financeiros. Esse temor é tão exagerado quanto a ganância que o provocou. O chamado “efeito manada” dos mercados de capitais é provocado por um pânico que tem causado devastação da capacidade financeira de bancos, empresas, nações.
A raiz do problema está na relação entre o investidor e o modo de gestão e financiamento de setores empreendedores. Como se sabe, um investidor adquire ações de uma empresa com o objetivo de ter participação nos seus ganhos. Ele não é o empresário, o empreendedor. Ele compra ações ou participações acionárias em uma decisão tanto racional quanto emotiva, em função de informações sobre o desempenho de determinada empresa. Mas ele mesmo não é o administrador e, por isso mesmo, não se ocupa da atividade da empresa, dos meios de produção e de rentabilidade. Ele não tem um compromisso com a prescrição de uma estratégia ou de uma determinada conduta comercial. Ele não decide acerca de investimentos, reorganização, política de pessoal, marketing e outras ações de gestão.
Em outras palavras, como mero investidor, ele deposita confiança na estratégia, nos conteúdos, nos objetivos e nas potencialidades de um capital produtivo e em sua administração. Essa confiança é o seu risco. Essa é a lógica racional do capitalismo.
Desde o início, o capitalismo enfatizou um modo de produção baseado numa concepção funcional abstrata do capital. Se no passado estava em jogo a produção e o consumo de bens concretos, reais, a confiança era depositada tanto na seriedade dos métodos administrativos quanto na qualidade e boa aceitação do produto. Hoje, a velocidade dos mercados financeiros e de suas rendas ditam o desempenho econômico. As decisões estão mais ligadas a aspectos subjetivos em face de uma limitação interna de valorização real do capital, que diminuiu a importância dos valores do trabalho humano. O capital se tornou um bem virtual e volátil.
A pergunta que hoje é levantada é: a reação do mercado a cada nova notícia é racional ou emocional? É preciso entender o que se passa na cabeça dos investidores em momentos de crise como o atual. Essa, porém, é uma tarefa complexa, pois não se trata de uma ciência exata, uma vez que a forma como as pessoas lidam com dinheiro varia muito. Faz-se necessário identificar alguns comportamentos comuns à maioria dos investidores.
Em recente entrevista à revista Exame, o estrategista de Investimentos Pessoais do ABN Amro Real Asset Management, Aquiles Mosca, explicou: “O ser humano tem a necessidade de fazer parte de um grupo. Se todos estão tomando determinada decisão, ele tende a agir da mesma maneira. Ninguém quer ser o último a sair da bolsa quando o mercado começa a cair”.
O “efeito manada” consiste nesse comportamento do investidor, que vai do pânico à euforia numa velocidade enorme. O investidor, nessa hora, age de forma inconsciente levado pela avalanche de informações veiculadas pela mídia. Se um determinado índice cai e isso provoca um comentário alarmante, a tendência é que esse comportamento de queda se perdure. Portanto, ganha mais quem resolve estar na contra-mão do “efeito manada” e sobrevive.
O pânico e a euforia diante dos índices das bolsas de valores são duas faces de uma mesma atitude, a expectativa de lucratividade com a virtualidade do capital. É possível ir de um polo ao outro com muita facilidade. E é isso que dá a dimensão da crise do mercado financeiro.

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