domingo, 26 de julho de 2009

Dimensão espiritual do medo / spiritual dimension of fear / dimensión espiritual del miedo

O medo é uma sensação natural própria de quem está vivo. Ele serve como um alerta para o organismo de algum perigo ou ameaça e provoca uma reação protetora. Sendo assim, todo mundo tem medo. Temos medo de tudo: de ser assaltado, de perder o emprego, da crise financeira, de terrorismo, de romper um relacionamento, de ser feliz, de ingerir gordura trans, de pegar gripe suína, de barata, de altura, de envelhecer, de solidão, de acidente aéreo. E o maior de todos os medos é o da morte. Isso é assim porque temos consciência de que um dia iremos morrer.
Ao contrário do que se possa pensar, o medo não é para ser vencido ou superado, mas para ser enfrentado. Uma das palavras que Jesus mais expressou foi “não temas”. Ele disse isso em várias circunstâncias. A ideia é de que não se deve permitir que o medo nos imobilize e impeça que tomemos as atitudes necessárias. O medo é uma força interior que orienta as nossas ações diante de grandes tormentas. Ele funciona como um dinamizador de nossas ações a fim de se enfrentar os desafios e superar as dificuldades. Os problemas precisam ser enfrentados, e isso não acontecerá sem medo, mas apesar do medo.
Esse é o sentido da coragem: a virtude de entender quem somos e, ainda assim, enfrentar os riscos de se atingir um objetivo maior. É uma forma de inteligência que nos ajuda a enfrentar o medo, a tomar decisões e a agir. Apesar da razão nos dizer o que devemos fazer, é a coragem que nos impulsiona a fazer. Ser corajoso não é viver sem medo nem ser ousado diante dos perigos, mas é colocar a vida em risco por uma causa que vale à pena ou mesmo tomar a decisão de se preservar. O covarde ou medroso é dependente de seu medo, mas o corajoso é aquele que orienta a sua ação entre a ousadia e a prudência. “A virtude de um homem livre se revela tão grande quanto ele evita os perigos, como quando os supera; ele escolhe com a mesma firmeza de alma, ou presença de espírito, a fuga ou o combate”, disse Espinosa.
O medo tem alcançado novas dimensões nesse tempo. Hoje, há o medo do fracasso. Em nossa cultura, aprendemos que temos o controle de nosso sucesso ou fracasso. Queremos ter o controle de tudo, do outro, dos resultados, das causas. O resultado disso é que a culpa ganhou um novo sentido, o medo de fracassar. Esse medo se justifica diante dos desafios e metas que traçamos para nós mesmos, quando nos perdemos em meio às exigências de superar as nossas deficiências em face da competitividade da vida. E é assim mesmo. As oportunidades não são iguais para todos e não há espaço para todos. Mas ninguém precisa se sentir inferior por isso. Quando o medo de fracassar impede a ação, temos aí um problema. Normalmente desenvolvemos pouca tolerância com o fracasso ou com situações adversas. Esse medo nada mais é que medo de sofrer e precisa ser enfrentado.
É isso que nos leva ao medo do futuro. Se temos medo do futuro é porque temos dificuldades de suportar o presente. Enquanto o presente é o objeto do nosso conhecimento, o futuro é o objeto de nossa esperança, assim como o passado é objeto de nossas lembranças. O presente é a realidade e o futuro é projeto, sonho, o imaginado. Enfrentar o medo no presente é a forma de encarar o futuro. Não se trata de uma superação amanhã ou depois, mas de vivenciar o agora.
Há o medo dos outros. É o sentimento que nos leva a construir muros, a classificar as pessoas entre boas e ruins, amigas ou inimigas, eleitas ou reprováveis, a adotar posturas defensivas ou agressivas, a desenvolver a desconfiança. É isso que provoca o isolamento. Nossa confiança no outro depende de nossa capacidade de perceber o caráter das pessoas. Nesse aspecto, temos a tendência de desconfiar sempre. Não damos a chance ao outro para que se aproxime até que se prove o contrário. Não que isso seja sem razão. É que as relações de amizade têm se tornado cada vez mais complicadas.
Há o medo de crescer. É o que faz a gente pular as etapas da vida. Isso prejudica o exercício do autoconhecimento, de saber quem é, de assumir responsabilidades. Em cada fase da vida temos medos que são muito próprios. Vagueamos durante a vida toda, segundo Erik Erikson, entre a confiança e a desconfiança, a autonomia e a dúvida, a iniciativa e a culpa, a construtividade e a inferioridade, a identidade e a confusão de papéis, a intimidade e o isolamento, a produtividade e a estagnação, a integridade e a desesperança.
Por fim, há o medo da mudança. Mas mudar é próprio dos seres vivos. É parte do processo da vida sair de uma condição que a gente domina para experimentar uma situação nova. O problema é que temos uma tendência de nos acomodar a uma situação que seja confortável. Estamos em busca de uma estabilidade e de certezas. E nos acostumamos em uma zona de conforto que só faz sentido para nós mesmos. Marina Colasanti disse: “A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.”
Quando Jesus enfrentou uma situação de medo, ele tomou uma atitude: a oração. Diante do medo da morte, Jesus foi ao monte do Getsêmane para orar e criou um ambiente de oração a sua volta. Ele chamou três dos seus discípulos mais íntimos para orar, embora eles tenham dormido em todo o tempo. Dali ele saiu para suportar a traição, a tortura, o julgamento e a cruz. O que fazer diante de situações que provocam medo? Jesus Cristo é um grande exemplo de como enfrentar o medo.

sábado, 25 de julho de 2009

Max Lucado no Brasil / Max Lucado in Brazil / Max Lucado en Brazil


Fui ouvir Max Lucado na Igreja Batista do Recreio. Ele veio ao Brasil para lançar o livro Sem medo de viver. Não podia deixar de ir até lá, era a oportunidade que tinha de conhecê-lo, apertar a sua mão como gratidão pelo tanto que já abençoou a minha vida através de seus livros. Era o mais próximo que podia acontecer e não havia condições de perder.
Um ambiente acolhedor e o reencontro com amigos e pessoas da família deu o tom. Quase que ouvir Max Lucado se transformava em um pretexto para estar junto de pessoas queridas. Mas a noite tinha algo muito maior do que isso.
Leio os seus livros desde os primeiros lançamentos no Brasil. Nos momentos mais difíceis, foram seus textos que me serviram de conforto, estímulo e encorajamento. Poucos escritores sabem fazer o que ele faz: transformar em linguagem simples o que Deus sempre tem tentado nos dizer.
Lembro-me da fase mais difícil da minha vida, quando li Um amor que vale a pena. A vida estava difícil, me faltava dinheiro, tinha tantos livros do mestrado para ler, mas não podia deixar de faltar a leitura do seu mais recente livro. Emprestei aquele mesmo livro para alguém que estava passando por dias difíceis. E a gente descobriu junto que aquele que nos amava tanto não tinha desistido de nós e nos permitia construir uma relação de amor que valesse a pena. Hoje estamos casados.
O auditório estava superlotado. Uma turma inspirada promoveu instantes de profunda adoração que fez entender a todos que não seria ouvida a mera palavra de um escritor. Seria como escutar o sussurro de Deus a nos chamar a confiar mais nele e a entregar nossos temores em suas mãos. Ao final, muitas pessoas movidas por um sentimento de busca de algo mais profundo oravam com avidez, acolhidas pelas dezenas de pastores que também ali compareceram.
A igreja estava em estado de graça. Eu estava radiante. O jovem representante da editora mais ainda. Na fila para os autógrafos, os reencontros, os abraços. Na hora do autógrafo para mim, a oportunidade de um abraço afetuoso em quem marcou tanto a minha vida. Como se fosse a um irmão chegado.
Saí dali com a alma lavada. Pensei no quanto Deus precisa de pessoas assim, que transforme em linguagem simples e compreensível a mensagem que nos ajuda a viver do modo como Deus planejou, pessoas que nos ajudem a entender o que faz a vida ter sentido e a perder o medo de viver.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Excelência no ministério pastoral / Excellence in pastoral ministry / Excelencia en el ministerio pastoral

Acabei de preparar o livro de um grande amigo, o pastor Vanderlei Batista Marins. Chama-se Excelência no Ministério Pastoral, lançado pela editora Epígrafe.
O livro é uma reflexão sobre o exercício da função de pastor, que passa por uma fase de descrédito na sociedade em que vivemos. Enquanto preparava os originais para a publicação, lembrei-me da experiência de Spurgeon, famoso pastor e grande pregador inglês do século XIX, que, quando alguns de seus amigos tentaram promover a sua participação em um cargo político, declarou que, mesmo que se tornasse o rei da Inglaterra, esse seria um cargo inferior ao que exercia.
A função pastoral tem a ver com o cuidado de pessoas. Esse livro procura apresentar mais do que conceitos. São convicções de alguém que tem exercido o pastorado de forma intensa, não somente cuidando de pessoas, mas também gerenciando um conjunto de ações ligadas à vida de sua comunidade.
Ser pastor é algo que se reveste de grande expressividade para a vida daqueles que exercem essa função. Exatamente pelo fato de que o pastorado está relacionado a uma experiência pessoal de ter recebido um chamado especial de Deus. A vida do pastor transita entre o cortejo e a solidão, da popularidade à rejeição. Entender isso ajuda a valorizar tantas pessoas que atuam anonimamente como pastores e permite reconhecer qual o sentido de exercer o pastorado de maneira autêntica, mesmo nos dias atuais.
O autor é pastor em uma grande igreja e líder de expressividade na denominação a que pertence. Essas, ao lado de sua titularidade, são as credenciais para assumir o significado de exercer essa função num contexto pós-moderno. O grande destaque está no fato de que a vida do pastor está a serviço de uma comunidade e de um ideal. Por causa disso, é marcada muitas vezes pela rejeição e pela incompreensão.
A função pastoral envolve a proclamação de uma mensagem que desperte o interesse de um relacionamento com Deus, que seja vivenciada no contexto de uma comunidade. Ainda que para isso sua vida precise transitar entre o elogio e a solidão, seu compromisso está acima até de necessidades e interesses pessoais, quando o ministério pastoral é exercido de forma digna.
Num tempo em que a função está tão prejudicada pela atuação de muitos que a ocupam de forma equivocada, este livro tenta resgatar o sentido de ser pastor. Pastores com tais características não só são necessários, são imprescindíveis.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Viver é correr riscos / Living is take risks / La vida es asumir riesgos

Danuza Leão certa vez disse que “a vida é difícil; para não correr nenhum tipo de risco, o lance é aprender a trancar o coração, o que, aliás, nem é tão difícil assim.” Viver é correr riscos. O tempo todo, para todo mundo, sem exceções. Deus mesmo deu o exemplo quando preferiu correr o risco de conceder ao homem a liberdade de escolher e, assim, pudéssemos fazer a opção de amá-lo como expressão da nossa vontade e não como marionetes. Jesus também correu o risco de enfrentar a cruz e a morte, para oferecer a salvação a todo o que crê.
Se quisermos uma mudança de fato na vida, precisamos correr o risco de andar com Deus e construir a nossa história de acordo com os propósitos de Deus. Você precisa conhecer expressões de Jesus que confrontaram seus ouvintes com decisões que apontavam para mudanças radicais.
Corra o risco de amar. Para C.S. Lewis, “não existe investimento seguro. Amar é ser vulnerável... Ame qualquer coisa e seu coração irá certamente ser expremido e possivelmente partido. Se quiser ter certeza de mantê-lo intacto, não deve dá-lo a ninguém... Evite todos os envolvimentos, feche-o com segurança no esquife ou no caixão de seu egoísmo. Mas nesse esquife seguro, sombrio, imóvel, sufocante, ele irá mudar. Não será quebrado, mas vai se tornar inquebrável, impenetrável, irredimível... O único lugar fora do céu onde você pode se manter perfeitamente seguro contra todos os perigos e perturbações do amor é o inferno.” Foi por isso que Jesus disse: “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’. Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa vocês receberão? Até os publicanos fazem isso!” Mateus 5.43-46.
Corra o risco de perdoar. Lembra-se da pergunta de Pedro a Jesus? “‘Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?’Jesus respondeu: ‘Eu lhe digo: Não até sete, mas até setenta vezes sete’”. Mateus 18.21-22.
Corra o risco de caminhar com Deus. Isso também não é fácil ou simples. Até os discípulos tiveram dúvidas. “Ao ouvirem isso, os discípulos ficaram perplexos e perguntaram: ‘Neste caso, quem pode ser salvo?’ Jesus olhou para eles e respondeu: ‘Para o homem é impossível, mas para Deus todas as coisas são possíveis’. Então Pedro lhe respondeu: ‘Nós deixamos tudo para seguir-te! Que será de nós?’ Jesus lhes disse: ‘Digo-lhes a verdade: Por ocasião da regeneração de todas as coisas, quando o Filho do homem se assentar em seu trono glorioso, vocês que me seguiram também se assentarão em doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. E todos os que tiverem deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos, por minha causa, receberão cem vezes mais e herdarão a vida eterna. Contudo, muitos primeiros serão últimos, e muitos últimos serão primeiros’”. Mateus 19.25-30.
Corra o risco de renunciar ao eu. Esse é o grande desafio da fé. Lembrando uma poesia de Clarice Lispector: “Só o que está morto não muda! / Repito por pura alegria de viver: / A salvação é pelo risco, / Sem o qual a vida não vale a pena!!!” Jesus disse: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem acha a sua vida a perderá, e quem perde a sua vida por minha causa a encontrará”. Mateus 10.37-39.
Corra o risco de entregar a vida inteira para Deus. O chamado de Jesus tem exigências muito difíceis, mas ao mesmo tempo abençoadoras: “Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram”. Mateus 7.13-14.
Para terminar, anote essa recomendação atribuída a Sêneca, que viveu entre os anos 55 a.C. e 39 d.C.:“Rir é correr o risco de parecer tolo. Chorar é correr o risco de parecer sentimental. Estender a mão é correr o risco de se envolver. Expor seus sentimentos é correr o risco de mostrar seu verdadeiro eu. Defender seus sonhos e idéias diante da multidão é correr o risco de perder as pessoas. Amar é correr o risco de não ser correspondido. Viver é correr o risco de morrer. Confiar é correr o risco de se decepcionar. Tentar é correr o risco de fracassar. Mas devemos correr riscos, porque o maior perigo é não arriscar nada. Há pessoas que não correm nenhum risco, não fazem nada, não têm nada e não são nada. Elas podem até evitar sofrimentos e desilusões, mas não conseguem nada, não sentem nada, não mudam, não crescem, não amam, não vivem. Acorrentadas por suas atitudes, elas viram escravas, privam-se de sua liberdade. Somente a pessoa que corre riscos é livre!”

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Como dizer a Deus que você o ama / How do you say to God that loves him? / ¿Cómo se dice a Dios que lo ama?

A essência da vida cristã consiste, na verdade, em um caso de amor. A Bíblia diz que fomos criados para sermos amados por Deus. Somos, de fato, objetos do amor de Deus. Por isso que ele deseja se relacionar conosco.
Sendo assim, a coisa mais importante que temos a fazer é retribuir o amor que ele tem por nós. Foi isso que Jesus propôs: “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’ Este é o primeiro e maior mandamento.” Mateus 22:37-38.
Como em toda a relação amorosa, expressamos nosso amor a Deus através de expressões bem simples, como o simples gesto de dizer “eu te amo”, até mesmo à atitude de dedicar a vida inteira para ele. O problema é que tem se tornado cada vez mais difícil aferir o quanto amamos alguém ou o quanto somos amados. Até mesmo tem sido cada vez mais difícil expressar isso através de palavras. Algumas vezes sentimos que amamos, mas não sabemos como expressar, como dizer.
Quero sugerir algumas maneiras para você expressar seu amor a Deus. A primeira delas tem a ver com comunicação. Foi preciso que eu passasse por uma séria ruptura em minha vida conjugal para entender que casamento é comunicação. Quanto mais profunda e consistente for a comunicação, mais o relacionamento cresce. Quando a comunicação falha, o relacionamento enfraquece. É assim porque a vida é dinâmica demais. Quanto mais significativo for o seu diálogo, seu processo de comunicação – seja com Deus, cônjuge, amigos, grupo – mais o seu relacionamento cresce. E o inverso também é verdadeiro. Quanto mais você se descuida, mais enfraquece.
Quando você ama alguém, não basta passar um tempo ao seu lado. Quando comecei a namorar a minha esposa, gastávamos horas ao telefone. Hoje, precisamos muito conversar. Isso nutre a nossa relação. Você acha que com Deus deveria ser diferente? Se ele é alguém que você ama, você precisa conversar sobre tudo com ele, seus problemas, suas expectativas, seus medos, suas ansiedades, as coisas das quais você tem orgulho, as coisas das quais você tem vergonha... Veja o que o salmista disse sobre sua conversa com Deus: "Eu amo o Senhor, porque ele me ouviu quando lhe fiz a minha súplica. Ele inclinou os seus ouvidos para mim; eu o invocarei toda a minha vida.” Salmo 116.1-2.
Isso é o que poderíamos chamar de oração. Mas oração não é apenas um dever religioso. É uma conversa com alguém que nos ama profundamente, que nos entende e nos aceita como somos. Alguém que está muito interessado em nos ouvir e que nos convida a conversar com ele.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Transformado pela glória divina / transformed by divine glory / transformado por la gloria divina

Uma das características da ação de Deus que a Bíblia apresenta é que ele se manifesta em glória. Ter contato com a glória divina traz consequências inesquecíveis. Paulo teve o seu primeiro contato com o esplendor da presença de Deus no caminho de Damasco. A Bíblia registra esse fato assim: “Seguindo ele estrada fora, ao aproximar-se de Damasco, subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor” (Atos 9.3)
Até então, Paulo tinha sido um religioso sincero, crente que estava agradando a Deus ao perseguir cristãos por causa de seu zelo. Em sua formação, ouviu falar muitas vezes do Deus que se manifesta em glória. A história de seu povo foi marcada por inúmeras manifestações da glória divina. Homens foram transformados pela manifestação majestosa de um Deus presente e se tornaram grandes instrumentos de mudanças na vida nacional. Ele ouviu falar muitas vezes da promessa de que um dia essa glória tão falada seria vista de forma real, encarnada.
Mas ele ainda não tinha experimentado o que João também já havia testificado: “e vimos a sua glória como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1.14). Paulo, naquela ocasião conhecido como Saulo, precisava ter um encontro real com o Senhor da glória, o que acabou por acontecer no caminho de Damasco. O homem que era chamado “grande” – esse era o sentido hebraico do seu nome – foi surpreendido pela glória divina. O tamanho do tombo foi proporcionalmente inverso ao tamanho de sua arrogância. Prostrado ao chão, ouve o chamado divino que o intimava a servir e a testemunhar de Jesus Cristo.
Veja o que Paulo disse sobre aquela experiência com Deus: “[...] não fui desobediente à visão celestial” (Atos 26.19). Assumiu o custo de uma vida transformada por Cristo, rendida totalmente ao Senhor. Vida que não tem nada de preciosa a não ser quando a serviço de Jesus. Vida que só tem sentido quando é vivida na fé do Filho de Deus. Vida que se completa em Cristo. Vida que se gasta no bom combate, no cumprimento da carreira e no guardar a fé.
Você pode se lembrar quando foi que teve o contato com o primeiro vislumbre da glória divina? Para Paulo, foi o dia da sua conversão, que foi também o mesmo dia de sua chamada para servir. Para você, pode ser ainda hoje, a partir do momento que você se der conta que a sua vida só terá algum significado quando estiver totalmente transformada por ter um primeiro contato com a glória de Deus.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Como ter relacionamentos saudáveis / How to have healthy relationships / ¿Cómo tener relaciones sanas?

Quero sugerir três ingredientes para que possamos avaliar o quanto estamos envolvidos na tarefa de estabelecer relacionamentos saudáveis. O primeiro diz respeito à restauração de nossa dignidade como seres humanos. Temos muito valor para Deus e o que impede que compreendamos isso de forma adequada tem a ver com o pecado. Podemos ter ideias equivocadas a respeito de nós mesmos por causa do pecado. Podemos ir de um extremo ao outro atribuindo a nós mesmos um valor mais elevado ou muito inferior ao que de fato representamos para Deus.
O nosso valor para Deus pode ser medido pelo amor que ele demonstrou ao enviar Jesus. O quanto Deus nos ama? O suficiente para aniquilar-se a si mesmo, tomar a forma de servo, ser obediente até a morte, suportar a cruz e romper os limites da vida para nos alcançar. Deus realizou essa obra para restaurar a dignidade de sermos humanos.
A maior expressão de nossa condição humana é a capacidade que temos de dar e receber relacionamentos. Isso está bem no âmago de nossa personalidade. O problema é que estamos perdidos, desorientados e cegos. José Saramago, em seu Ensaio sobre a cegueira fala da maneira como estamos enganados sobre a nossa condição. Ele chega a dizer que se pudéssemos realmente ver a perdição em que estamos envolvidos desejaríamos ser verdadeiramente cegos.
O segundo é descobrir que somos aceitos por alguém. Jesus descobriu coisas boas em meio às ruins. Apesar de estarmos perdidos, ele vem ao nosso encontro. Ele nos ama como nós somos, mas se recusa a nos deixar do mesmo jeito. Ele quer sejamos exatamente como ele é. O mais importante é que ele nos dá o curso de uma vida inteira para construir o seu caráter em nós. E mesmo que venhamos falhar nessa tentativa, ele não nos rejeita.
E o terceiro é celebrar a alegria de sermos alcançados pela graça. Existem duas razões para que haja uma grande festa quando somos alcançados pela graça. A primeira é a alegria da chegada. O retorno ao lar é um motivo de grande recompensa. Não há nada mais gratificante para um sequestrado do que a alegria de ser encontrado e restituído à convivência das pessoas mais queridas. A segunda é a alegria da entrega. Deus vê o quanto a gente sofre por viver um engano. Nossa atitude se assemelha muito mais a um menino teimoso que não quer aceitar o conselho de seus pais para que faça a escolha pelo que é melhor para a sua vida. A Bíblia diz que Deus observa a humanidade de forma muito atenta de tal forma que chega a gemer em Espírito por causa dessa atitude humana. Mas quando alguém se rende e se quebranta diante dele, há grande manifestação de alegria.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Dawkins na Flip / Dawkins on Flip / Dawkins en Flip

Li a reportagem sobre a visita de Richard Dawkins ao Brasil, na Feira Literária Internacional de Paraty. Senti-me identificado com uma das expressões de sua fala: “É um desperdício terrível viver a sua vida pensando no que vem depois (...) Não desperdice a única vida que você tem.” Esse é o ponto em que penso ser o centro da questão humana. Dawkins é um biólogo e o maior equívoco de toda a ciência natural é acreditar que uma ciência por si só pode dar conta de toda a condição humana.
É exatamente por isso que somos humanos. O que nos humaniza não é apenas uma vida transitória, ainda que parta de um processo vital, reprodutivo e evolutivo, mas que tem apenas começo, meio e fim. A grande luta de toda a humanidade é a superação de sua própria finitude. A religião é uma das muitas tentativas dessa superação. Procura-se fazer isso através da busca de sentido.
O problema não é esperar pelo que vem depois, mas é passar uma vida inteira sem a perspectiva de que sua vida vai além de um processo finalístico. Tenho para mim que a vida termina de fato quando ninguém mais se lembra de quem você foi, quais as marcas que você deixou durante sua existência, o quanto a sua personalidade contribuiu decisivamente para a melhoria da humanidade.
Imagino que uma vida que se limita pela finitude é centrada tão somente no eu, na expressão do indivíduo que precisa tirar o melhor proveito para si, uma vez que essa é a sua única chance. Ao contrário, de fato só temos essa vida, mas que não se limita a uma expressão biológica, terrena. Uma vida que não é só “bio” e que não é baseada numa lógica natural.
Preciso agradecer a Dawkins por ter lido isso. De fato, em termos biológicos, sua especialidade, a vida-bio não passa de um complexo processo químico-orgânico que tem começo, meio e fim. Isso é tão lógico que chega a ser terrível. O homem é mais do que isso, é um animal em busca de significados, que luta para não ser só “bio”. Verdadeiro desperdício é passar por essa experiência biológica inteira sem ter encontrado sentido e sem ter descoberto o valor de existir. Viver assim é viver perdido de si mesmo, do valor mais intrínseco que a vida humana tem. Valor esse que ficou perdido em algum lugar escondido de nossa alma.
Por isso que Jesus Cristo veio trazer um sentido para a vida, o sentido de vida eterna, uma vida que não se esgota em meio a esse caos de nossa perdição. Uma vida que salte para além da vida, que se constitui no agora e no ainda não, que é marcada por realização e esperança, de conquistas e expectativas.
Faz-me lembrar que a Bíblia diz que aqueles que têm uma expectativa somente para esta vida são os mais miseráveis de todos os homens. São aqueles que não levam em consideração que a vida também é delírio e devaneio. Em absoluto, não dá para olhar para a complexidade da vida humana e simplesmente acreditar que não faça parte de um processo muito mais amplo, que a nossa mera razão não consegue alcançar. Não dá pra deixar de acreditar que haja um projeto divino para resgatar o nosso valor como humanos e nos traga de volta para a nossa dignidade. Até porque penso que a descrença nada mais é do que a tentiva de ter o controle e buscar superar algo que está além de nós mesmos. E o mais legal é que, nesse campo, a vida e a mensagem de Cristo fazem todo sentido.
Você tem razão, Dawkins. E por favor, não desperdice a única e preciosa vida que você tem.

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