quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Desastre natural e tragédia humana: reflexões sobre o temporal na região serrana do Rio / Natural disaster and human tragedy / Desastres naturales

Mais uma vez assisto bem de perto à devastação provocada pelas chuvas envolvendo pessoas e locais que são parte da minha história. Passei doze anos de ação pastoral em Nova Friburgo e participei, à época, do projeto de plantação de uma igreja batista em Teresópolis. Ali estão amigos e pessoas com quem convivi e sonhei com um futuro melhor.
O que aconteceu neste verão na região serrana do Rio, infelizmente, é mais uma tragédia anunciada. Lembro de 1996, quando um forte temporal destruiu a cidade. Naquela ocasião, já se dizia da necessidade de obras de prevenção e de uma política de ocupação do solo que minimizasse os efeitos dos fortes temporais de verão. Ao que tudo indica, pouco se fez em relação ao necessário.
Tragédias como essa, semelhante ao que aconteceu recentemente em Niterói e Angra dos Reis – como também os terremotos no Chile e no Haiti –, estão intimamente relacionados à maneira como a humanidade vem construindo a sua relação com o meio ambiente. Já não se pode mais dizer que são acidentes naturais. A justificativa de que choveu três vezes mais acima do esperado é muito pouco. Desculpas como as do prefeito e governador de São Paulo, por causa dos mesmos efeitos da chuva por lá neste verão, já não colam mais.
A realidade é que o que se tem chamado de tragédia natural não passa de consequência dos movimentos da natureza, cuja força e ação seguem uma lei que lhe é própria. É natural da região tropical de mata atlântica ter fortes temporais. É da natureza da região ter formação rochosa com uma camada de terra que desliza facilmente. O que não é natural é a política de ocupação do solo associada a um programa de prevenção de acidentes que não contemplam esses fatores naturais. O resultado não pode ser outro: deslizamento de terra e centena de mortos.
Essa tragédia é humana e, por isso mesmo, histórica. Ela diz respeito à maneira como nós concebemos a vida social e a distribuição da terra. Se olharmos para Nova Friburgo, ali vive um povo desde o começo do século XIX que bravamente saiu da Europa em busca de novas chances. Instalaram-se ali e construíram uma grande cidade, a despeito da distância e das dificuldades geológicas. Olhar para esse cenário de destruição é de uma tristeza sem igual.
Já se diz que o Brasil tem que enfrentar suas tempestades como alguns países têm aprendido a enfrentar terremotos, furacões e tsunamis, que não são acidentes naturais, mas forças da natureza. Concordo com isso. O problema é que esse aprendizado é penoso, envolve adoção de políticas públicas impopulares e realização de obras de infraestrutura de pouca visibilidade. Acho que temos mesmo é que preparar o coração para conviver com mais tragédias humanas e encontrar forças para a solidariedade. Queira Deus que eu esteja errado.

3 comentários:

  1. Lamentável - mas sem querer concordar - tenho que concordar com o texto do Irênio. O Drama é que se conta a história ou as histórias destes e doutros despossuídos/as que aqui abarcaram?
    A partir do ponto de vista da espiritualidade cristã compromissada com a ética para além do iluminismo alemão que surja também na América Latina esta perspectiva de práxis de despossuídos e despossuídas no ouvir dos gritos da mãe terra, mãe natureza... Nilo Bidone Kolling - Pastoral Popular Luterana/IECLB - Palmitos/SC

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  2. Mais uma tragédia anunciada (nas precisas palavras do irmão) e as pessoas em geral começam a olhar para o que não tem culpa e o que não é causa - o Criador p.x.! Deviam se preocupar mais com o certo conhecimento de Deus e os limites do seu habitar - terem mais inteligência de vida e não colocá-la em risco por um simples toco de madeira!
    Desculpem,mas solidariedade para a burrice é demagogia - apesar de termos!

    Força e Abraços!
    souteologico.blogspot.com

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  3. Sem querer ser TAPADO e TAXADO de CONSPIRAÇÕES mas tipo ESPIRITUALMENTE FALANDO "ouvi comentários" que foi pedido a Feiticeiros ou deste RAMOS que inpedissem de chover tais dias, e para se ter uma coisa meio q louca penso isso tambem não é forçar a natureza...a sair de seu curso?

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