sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Aprender a desaprender / learn to unlearn / Aprender a desaprender

Vivemos no domínio da aprendizagem. Ensino e aprendizagem estão juntos nas grandes estruturas de educação criadas para o progresso da humanidade. Na família, a gente aprende boas maneiras, valores e princípios. Na escola, a gente aprende a falar corretamente, a usar novas tecnologias, a dominar novos conhecimentos. Na sociedade, aprendemos a respeitar as pessoas, a cumprir normas, a construir a carreira. Na igreja, a gente aprende a doutrina, a cumprir os rituais, a praticar boas ações.
Enfim, a gente se depara com um mundo em grandes transformações que nos exige novas aprendizagens, de tal modo que não dá para se falar apenas numa recepção de informações. Em um relatório para a Unesco, chegou-se à conclusão acerca dos quatro tipos fundamentais de aprendizagem: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros e aprender a ser. Eu me lembro, inclusive, do que disse o deão acadêmico à época de minha conclusão do curso de Teologia: “vocês só aprenderam a aprender.”
Diante de tantos saberes e informações, penso que chegou o tempo de também aprender a desaprender. O acúmulo das coisas que aprendemos ao longo da vida e que nos são impostas como exigências acabam, de algum modo, resultando em verdadeiros entulhos que limitam a nossa percepção da riqueza que é a vida. A imposição da máxima especialização do conhecimento produz uma capacidade mínima de descobrir os valores e a beleza que há em muitos aspectos relacionados àquilo que podemos chamar de verdadeiramente humano. Temo até que precisamos de outra estrutura que nos ensine a desaprender.
Principalmente no que diz respeito à fé cristã, há muita coisa a se desaprender. O cristianismo levou séculos produzindo uma quantidade enorme de conhecimentos. Profundos e úteis a seu tempo, sem dúvida. Mas que podem limitar a nossa percepção da necessidade das pessoas de nossa geração. Dito de uma maneira mais concreta:
Precisamos urgentemente desaprender a ideia de que temos a capacidade de conhecer tudo, de ser autossuficiente, como um sujeito autônomo, dotado de vontade e livre, tal como a Modernidade nos ensinou, para aprender a ser mais dependentes de Deus.
Precisamos desaprender a imagem de um Deus paternalista e terrível, como se fosse um vigia sorrateiro, um manipulador de marionetes, alguém pronto a mandar pessoas para o inferno, como nos ensinou a cristandade, para aprender mais sobre a maneira de acolher o cuidado amoroso de Deus por nós.
Precisamos desaprender a ideia de que Jesus foi um Deus disfarçado de homem, que sabia de tudo e que viveu sem sentir a dor humana, para aprender o mistério que envolve a pessoa de Jesus de Nazaré, que, através de sua vida toda realmente humana, revela o Filho enviado pelo Pai, como dom por meio do Espírito Santo, a fim de que possamos viver a nossa vida humana e recebermos a filiação divina.
Precisamos desaprender a ideia de que ser cristão está ligado a acreditar em verdades eternas, compreensíveis logicamente, e a praticar normas e mandamentos, para aprendermos a recuperar a alegria de viver o relacionamento pessoal com Jesus que se dá a partir do meu relacionamento com os irmãos.
Precisamos desaprender a ideia de que a fé se expressa por meio de ações mágicas, de merecimento e de troca, para aprender que ela só faz sentido a partir da expressão da Palavra que se manifesta através da vida em comunhão.
A lista poderia ser enorme, mas essas pequenas indicações já mostram o quanto é urgente aprender a desaprender para nós, cristãos.

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