Há dois anos começamos uma trajetória com um pequeno grupo de pessoas que acreditou na possibilidade de termos uma igreja saudável e acolhedora na região oceânica de Niterói. Nossa história é construída por pessoas que acreditam que mudar é possível por causa daquele em quem depositamos a nossa fé. Nossa igreja fica no bairro de Piratininga (rua Dr. Cornélio de Mello Jr., 31 - a rua do colégio Salesiano), Niterói, e nossas reuniões acontecem todos os domingos, das 18h às 21h. Veja mais notícias em nosso blog: Orla Oceânica >>
Gente que faz a nossa história por Irenio
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Espiritualidade, fé e razão / Spirituality, faith and reason / Espiritualidad, fe y razón
Toda investigação sobre a razão leva a gente a compreender que ela não
é suficiente para lidar com as contradições humanas. E o motivo é claro: a
razão tem um a priori que é a própria
vida. A modernidade ocidental, porém, construiu uma ideia de racionalização,
envolvendo a religião, a política e o conhecimento, que fez a humanidade
acreditar que o progresso é possível, desejável, inevitável e até irreversível.
Revivemos, com isso, o mito de Prometeu. Chegamos a desenvolver a
crença de que a racionalidade, que valoriza a técnica e a ciência, é capaz de
criar o mundo dos sonhos, de trazer o céu à terra. Há nisso um aspecto
demoníaco da atitude humana que desperta um otimismo exagerado a respeito de si
mesmo e sufoca a esperança ao que transcende o real. A razão moderna acabou por
promover o divórcio entre o homem e a natureza.
Na verdade, essa razão moderna é ingênua, reducionista e desumanizante.
Ao afirmar essa onipotência da razão, a própria modernidade acabou fazendo uma
declaração de seu próprio fracasso. Como denunciou Heidegger, o dualismo –
calcado na relação sujeito e objeto – é uma tentativa fracassada de explicação
do ser.
O cristianismo tem sido, ao mesmo tempo, vítima e mentor dessa
configuração ocidental. Ao colocar a racionalidade em questão, ele também é
posto sob suspeita. A relação dualista tende a transformar tudo o que não é
sujeito em objeto, inclusive Deus. Com isso, exclui a subjetividade do processo
de conhecimento a título de uma máxima especialização, dominada pela
objetividade, que não conduz à compreensão da realidade e do todo.
A crise que tem afetado a cultura e o mundo alcança também a igreja, o
crente, as relações que nos cercam. As mudanças que acontecem no contexto atual
estabelece exigências de diálogo com as novas possibilidades de conhecimento e
de afirmação de si. Aqueles que se prendem a uma atitude conservadora tendem a
se fechar ao diálogo, elegendo um momento histórico, absolutizando-o e
divinizando-o. De tal maneira que a compreensão integral do ser humano não
comporta mais a concepção engendrada pela modernidade.
O que se faz necessário hoje não é rejeitar a modernidade, mas
reconhecer que o projeto de se abarcar a totalidade por meio de uma razão
analítica, onipotente e instrumental fracassou. As conquistas estão aí para
mostrar os avanços que essa maneira de pensar proporcionou. Ninguém quer voltar
à pré-modernidade, a um contexto medieval. A razão esclarecida e científica
continua encontrando ressonância na política, na educação e até na maneira de
se construir as condições de bem-estar e de felicidade. Porém, estamos
distantes de nos tornarmos pessoas que têm controle sobre a natureza. As
guerras mundiais, os totalitarismos, os fundamentalismos, o individualismo, a
ganância, a intolerância e o preconceito trazem de volta a barbárie, que está
na base das crises atuais: ecológica, econômica, moral e religiosa, bem como as
injustiças, a desigualdade e a violência.
O racionalismo nos impediu de nos sensibilizarmos com o transcendente,
com o inefável, com aquilo que desperta o cuidado com o outro. Ao trazer o
divórcio entre natureza e cultura, fez também o divórcio entre a razão e a
ética. Gaston Bachelard disse: “eu sou o resultado de minhas ilusões perdidas.”
Isso me leva a pensar que toda objetividade comporta uma subjetividade e que
toda a subjetividade implica uma objetividade.
A mentalidade moderna e ocidental construiu uma noção de mundo em duas
esferas, uma do bem e outra do mal, um agora e um além, uma física e outra
espiritual, uma natural e outra racional. Dietrich Bonhoeffer compreendeu a
importância da razão para a espiritualidade e para a fé em sua Ética. Ele disse: “A razão não é um
princípio divino de saber e ordem, superior ao natural, existente no ser
humano; ela própria é parte dessa forma de vida preservada, a saber, aquela
parte apta a trazer à consciência, a ‘perceber’ como uma unidade o todo e geral
existente no real.” Dito de outro modo, toda a fundamentação da natureza e do
real está na espontaneidade subjetiva da razão. E isso também é
espiritualidade.
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Como será o amanhã? / How will the future? / ¿Cómo será el futuro?
Um dos mais antigos desejos humanos é a previsão do futuro. Entretanto,
a melhor maneira de prever o futuro é investir em sua construção hoje. Foi o
que Peter Drucker afirmou: “A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo.” A
construção do futuro é um tema presente no imaginário da humanidade há muito
tempo. Isso tem fascinado escritores, pensadores e pesquisadores em épocas diversas.
O ser humano é o único ser vivo que tem noção do futuro e que, por isso mesmo, consegue
trabalhar o seu imaginário no sentido de idealizá-lo. O futuro é o que
representa nossas expectativas e a nossa esperança, uma vez que o presente já
se encontra desvendado e o passado constitui nossas lembranças.
A ideia de uma viagem no tempo é uma ficção que tem alimentado o
cinema e a literatura, mas que passou a ser tratada como uma possibilidade
quando o matemático Kurt Godel, na década de 1940, analisou as equações
propostas por Albert Einstein, apontando para a transposição de informações
para além do tempo.
Para nossa noção de temporalidade, o passado é imutável, o
presente é o instante vivido e o futuro é o que está em aberto. A exigência de
deixar nossa realização para um “quando” acaba se tornando uma síndrome que
dificilmente nos livramos. A nossa felicidade é transferida para quando comprar
a casa própria, para quando casar, para quando formar os filhos, para quando se
aposentar. Da mesma forma, na época em que os ocidentais desenvolveram a noção
de carpe diem, que incita a desfrutar
o presente, isso se tornou um verdadeiro engano. Não dá para viver o presente
ignorando que o futuro virá. Isso foi sinal de decadência para o império
romano.
Jesus também nos ensinou a não nos preocuparmos com o amanhã.
Porém isso não significa desprezar o futuro. A melhor maneira de se lidar com o
futuro é vivendo a realidade do Reino no presente. Muitos acham que a questão
do futuro está ligada a um além distante, um evento fora do tempo. Mas o que
Deus tem a fazer para a vida humana está imerso na história. Jürgen
Moltmann reconhece que “nós não somos só interpretes do futuro,
mas já os colaboradores do futuro, cuja força, na esperança como na realização,
é Deus.” O grande desafio que temos diante de nós, portanto, é restaurar as
práticas da esperança no presente de maneira que nos tornemos responsáveis pelo
futuro da humanidade.
Você pode se preparar para o futuro de duas formas: vendo-o como resultado
do acaso ou tratando-o como resultado de suas escolhas. No primeiro caso, ele
não passa de um destino sobre o qual não temos qualquer controle, um mistério
insondável sujeito aos desígnios da sorte ou do revés. No segundo caso, você
precisa dar mais atenção a isso agora. Certa vez, o especialista em gestão Tom
Peters, ao ser indagado sobre como será o futuro, afirmou: “Como será o futuro
eu não sei. Só sei que você terá de estar preparado para ele seja ele qual for.”
O futuro já está presentificado, de forma intrínseca, nas práticas
do presente. O que realizamos hoje aponta para o futuro. A Bíblia trata o
futuro de duas formas A primeira como resultado de nossas escolhas. Paulo afirma
que tudo o que plantamos colhemos. “[...]
o que o homem semear, isso também colherá.” Gálatas 6.7. A segunda como
resultado de promessa. O profeta afirma que Deus tem planos de nos dar um
futuro de paz e restaurar nossa esperança. “‘Porque
sou eu que conheço os planos que tenho para vocês’, diz o Senhor,’ planos de
fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um
futuro’.” Jeremias 29.11.
Para a teologia cristã, estas duas formas estão
inter-relacionadas. Isso nos remete a duas capacidades que podemos desenvolver:
a de traçar objetivos e a de sonhar. Quem não tem objetivos claros na vida e
quem não desenvolve a capacidade de sonhar vive de forma insegura. Os objetivos
apontam caminhos que podemos trilhar e os sonhos só existem quando acreditamos
neles. É a lógica do futuro: a capacidade
de investir tempo e trabalho na conquista de objetivos e na realização de ideais.
E isso nós podemos fazer agora.
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