segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
domingo, 28 de dezembro de 2014
Caminho / Way / Camino
“[...] Estes homens são servos do Deus Altíssimo e lhes
anunciam o caminho da salvação”.
Atos
16.17
Os primeiros
cristãos não foram conhecidos por pertencerem a uma religião, denominação ou
mesmo uma igreja. Ao contrário, eles eram tratados pelos judeus como seita e,
pelos romanos, como um movimento. Eles eram identificados como “os do caminho”.
A
ideia de caminho lembra movimento. E ser cristão é isso: fazer um movimento,
deslocar-se, seguir. Um movimento interior, que sai de sua ilusão de autonomia
para a realização do encontro com Deus. Um movimento exterior, que sai do seu
individualismo para uma vida de comunhão.
Jesus
se apresentou como o Caminho. Aos primeiros discípulos, Jesus convidou:
“segue-me”. Ele encontrou pessoas que estavam nos vários caminhos da vida,
revelou-se aos discípulos no caminho de Emaús, enviou seus seguidores pelos
caminhos do mundo, encontrou a Paulo no caminho de Damasco.
Os
primeiros cristãos eram chamados de seguidores do cominho por causa da
mensagem: eles anunciavam o caminho da salvação. Isso implica uma teologia do
caminho, um compromisso ético com o caminho e uma vida de comunhão para
fortalecer uns aos outros ao longo da caminhada.
Ser
igreja é se constituir a comunidade daqueles que seguem caminho. Sua natureza é
ser peregrina, a reunião daqueles que seguem caminho. Na medida em que caminha,
cresce, desenvolve unidade, se faz corpo e família.
Seguir
caminho não é andar errante. Não é também peregrinação solitária. Antes, é
exercício de se colocar na direção do outro, juntamente com o outro. É ter
destino certo, reconhecendo no outro a face de Deus. É deixar vestígios por
onde passa do sentido que nos estimula a seguir caminhando. É deixar marcas que
motivam outros a seguirem caminho conosco.
Seguir caminho é
um exercício histórico, é imergir na realidade do mundo, é atravessar o tempo.
Pessoas que caminham buscam constantemente ajustes na caminhada, precisam
reorientar o rumo, refazer percursos, encontrar novas trilhas. Atalhos e
desvios são riscos enfrentados somente por quem caminha. Por isso, precisam do
guia, aquele único que, por se fazer caminho, se oferece como companheiro da
caminhada.
domingo, 21 de dezembro de 2014
Natal na história / Christmas in history / Navidad en la historia
“Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus
enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da lei” Gálatas
4.4
O
Natal é a lembrança do maior acontecimento histórico da humanidade e só será
superado com a segunda vinda de Jesus: o fato de Deus ter se tornado humano.
Isso
supera a descoberta do fogo, a invenção da roda, a queda de impérios, a
descoberta do novo mundo, a revolução industrial e até as transformações
trazidas pela era da informação. Em Jesus Cristo, nascido historicamente, Deus
se apresenta a si mesmo como o Deus salvador da história, que se coloca junto
ao homem em suas circunstâncias concretas para lhe apontar o caminho da
redenção.
O
acontecimento lembrado no Natal é o ápice de um evento radical e único na
relação entre Deus e a história. Ele se deixa afetar pela história, se esvazia
da eternidade para viver o jogo de forças de nossa realidade intramundana. Ele
se oferece como alguém que se relaciona com outros que agem em liberdade no
processo de dar e receber, que se torna tangível receptivo, acolhedor e doador.
Deus
não se fez apenas um bebê. Ele se tornou gente na pessoa histórica de Jesus. De
tal forma que a vida inteira de Jesus é um testemunho da essência de Deus: sua
encarnação, sua morte, sua ressurreição e sua ascensão. Ela é a prova cabal de
que Deus não é insensível, imutável, distante ou apático. Ao contrário, Deus em
Cristo se mostra acolhedor, relacional, alcançável e vulnerável diante da
liberdade e do sofrimento humano.
Na pessoa do
Filho, o Pai se faz pleno ao mesmo tempo em que a pessoa do Filho assume a natureza humana para unir-se a toda a
criação. O Filho assume a humanidade no tempo a fim de que realize a sua
condição eterna de Filho de Deus somente pela garantida da ação e mediação do Espírito.
É na dimensão trinitária que podemos compreender o mover de Deus na história.
Na
pessoa do Filho, Deus se comunica conosco e estabelece comunhão por meio do
Espírito. Natal é, portanto, uma celebração trinitária, é a dramatização do
Deus que se faz homem para redimir a criação, para curar as feridas deixadas
pelo pecado, para eliminar a distância entre Deus e o homem, para quebrar o
poder da morte e para fazer surgir uma nova comunidade.
O
Natal é a celebração do Deus que entra na nossa história, que supera nossas
resistências a Ele, para apontar o caminho de nossa própria salvação.
sábado, 13 de dezembro de 2014
Bíblia, autoajuda divina / Bible, divine self-help book / Biblia, divina autoayuda
“Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais
afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra ao ponto de dividir alma
e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração.” Hebreus 4.12
A
Bíblia é o maior e mais completo manual de autoajuda e espiritualidade que a
humanidade possui. Neste tempo em que as pessoas necessitam de guias para a
vida, nada melhor do que resgatar o valor e a relevância da Bíblia para
orientar atitudes, sensações e relacionamentos.
Jesus,
o maior mestre de espiritualidade que a humanidade já conheceu, recomendou a
que se examinasse as Escrituras como exercício de descoberta do verdadeiro
sentido da vida. Examinar as Escrituras é mais do que conhecer um texto. É
procurar ouvir a voz do Espírito que permeia toda a mensagem bíblica.
A
Bíblia é a palavra viva de Deus porque é a voz do seu Espírito que invade nosso
contexto como um sopro. A metáfora do sopro ilustra bem a maneira como a
mensagem que emana da Bíblia se espalha e chega até nós como consolo, alento,
refrigério, exortação, ensino.
Fazer
da Bíblia um manual de autoajuda tem algumas implicações:
-
Implica perceber o mover de Deus na história da criação, reconhecendo a
natureza como o pano de fundo da revelação divina.
-
Implica compreender que somos parte de um plano maior que ainda está em curso.
A redenção é parte do plano divino de se autorrevelar e de buscar a pessoa
humana em sua condição.
-
Implica reconhecer que o amor de Deus só se concretiza no encontro com o
humano, por isso se encarna na pessoa histórica de Jesus de Nazaré, para se
oferecer como drama trágico na cruz e se tornar o nosso salvador.
-
Implica assumir o custo de permitir que a voz do Espírito se encarne na nossa
vida e nos torne testemunhas da graça da vida.
Um
livro para ser amado, não idolatrado. Um livro para servir de guia, uma vez que
o caminho é Jesus Cristo. Um livro para orientar a vida, uma vez que é palavra
viva de quem de fato se importa conosco.
domingo, 30 de novembro de 2014
Espiritualidade e aprendizado: o exemplo de Eliseu, o aprendiz / Spirituality and learning: the example of Elisha / Espiritualidad y aprendizaje: el ejemplo de Eliseo
“[...] Então se levantou e seguiu a Elias, e o servia.” 1
Reis 19.21
Eliseu é considerado o profeta que mais realizou milagres na Bíblia.
Isso não aconteceu da noite para o dia, nem foi resultado e um aprendizado
teórico. O serviço profético de Eliseu foi resultado de uma vida inteira
dedicada ao chamado de servir ao outro.
Antes de se tornar profeta, Eliseu era um lavrador na terra de seu pai,
que, muito provavelmente, era rico. Ele arava a terra com uma das doze juntas
de bois, sinal de poder e de prosperidade. Eliseu trocou toda a segurança de
uma carreira sólida para caminhar com um profeta que lançou sobre si uma capa,
sinal de autoridade e de compromisso.
Elias, o profeta que lançou a capa sobre Eliseu, tinha uma escola
profética. Não consistia em um conteúdo programático nem um sistema de
avaliação. A escola era baseada num critério simples: auxiliar ao profeta como
servo. E o mestre não era de se desprezar: já havia mandado chover e descer
fogo do céu, enfrentado governos e religiosos, vivido na pobreza e no luxo.
Ao renunciar a tudo, Eliseu teve o cuidado de deixar tudo para trás:
despediu-se de seus pais e desfez-se da junta de bois, fazendo um churrasco
deles para todas as pessoas que estavam próximas.
De todos os aprendizes de profeta, Eliseu era reconhecidamente, até
pelos seus colegas, o mais aplicado e o mais próximo de Elias. No dia da
despedida e da consagração, só havia um desejo: ter o dobro da espiritualidade
de seu mestre.
Sua vida foi marcada por sua dedicação ao ministério profético. Inspirou
a outros jovens candidatos a profetas. Quem o via passar o reconhecia como
profeta. Sua fama chegou até os reinos vizinhos. Mesmo após sua morte, quando
um inimigo caiu morto em seu sepulcro, operou milagres.
Quanto é capaz uma vida dedicada à missão de servir ao outro como
instrumento divino? Eliseu nos lembra que o maior valor de nossa vida está em
colocá-la a serviço do outro dentro da perspectiva do propósito divino.
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
Ação de Graças e cultura de gratidão / Thanksgiving and gratitude culture / Acción de Gracias y la cultura de gratitud
“Deem graças em todas
as circunstâncias [...].” 1 Tessalonicenses 5.18
A
última quinta-feira de novembro é lembrada em todas as comunidades protestantes
do mundo como o Dia de Ação de Graças. Nos Estados Unidos e no Canadá, é
feriado nacional. Trata-se de um dia que deve ser de gratidão,
com expressões celebrativas de louvor a Deus pelas oportunidades que se teve
durante o ano.
Não é uma data
que faça parte de nossa cultura brasileira. Para os povos do hemisfério norte,
corresponde a uma época do outono e ao fim do período de colheita,
preparando-se para os rigorosos dias de inverno com neve. Aqui, estamos em
plena primavera, já sentindo os sinais do verão intenso que está por vir. Lá,
agradecem a Deus pela safra; aqui, deveríamos agradecer pela vida simplesmente.
A data foi
instituída pela primeira vez nos Estados Unidos para ajudar o comércio no
período de recuperação da Grande Depressão. O então presidente Roosevelt queria
que houvesse uma motivação a mais para que o povo antecipasse as compras do
Natal e aumentasse o período de propagandas que estimulavam o consumo.
No Brasil, a
ideia de um Dia de Ação de Graças foi trazida pelo republicano Joaquim Nabuco,
depois de assistir a uma empolgada celebração em Nova Iorque. Morreu sem ver o
seu projeto realizado, pois foi o presidente Gaspar Dutra que acabou
instituindo a comemoração (sem feriado) anos mais tarde.
Seja uma data que
atenda interesses consumistas ou não, é importante enfatizar dois aspectos:
primeiro, o Dia de Ação de Graças é um legado da fé protestante; segundo,
agradecer a Deus é sempre oportuno e necessário.
Celebrar ao menos
um dia de gratidão no ano é um exercício de aprendizado. Se você não consegue
fazer isso ao menos uma vez, dificilmente estará em condições de desenvolver um
coração agradecido, que é uma parte da proposta de espiritualidade bíblica para
aqueles que se dispõem a viver segundo a vontade de Deus.
domingo, 23 de novembro de 2014
Transformado: Como a fé pode transformar a sua vida / Transformed: How faith can transform your life / Transformado: Cómo la fe puede transformar tu vida
A única maneira de realmente mudar a
sua vida é mudar a maneira como você pensa. Você não pode esperar grandes
mudanças querendo permanecer do mesmo jeito. Todos nós precisamos experimentar
uma mudança na maneira de compreender e lidar com algumas áreas de nossa vida
pessoal: nossas finanças, nossas emoções, nossos relacionamentos, nosso futuro
e até a nossa carreira profissional.
Quando permitimos que a nossa maneira
de pensar mude, isso também altera a nossa maneira de viver. Para isso, todos
nós precisos estabelecer metas e princípios que orientem a nossa vida de
maneira bem-sucedida. E a melhor maneira de fazer isso é através da fé. Estabelecer
desafios para si mesmo envolve uma responsabilidade de empregar todas as suas
capacidades, habilidades e energia para alcançá-los. E estes desafios serão
cada vez mais relevantes se forem claros, mensuráveis e realistas. Ou seja:
tenham a ver com a sua realidade como pessoa e todas as suas relações. Você é
uma pessoa criada à imagem e semelhança de Deus para viver de acordo com seus
propósitos. Enquanto isso não acontecer, sempre nos compreenderemos como uma
condição incompleta.
Ao estabelecer seus desafios, leve em
consideração o que pode honrar a Deus em sua vida. Pense em pequenos e grandes
desafios. Pensar grandes coisas nos conduz a grandes realizações. Porém, você
jamais conseguirá grandes realizações se não valorizar e se ocupar das pequenas
coisas. A Bíblia está repleta de exemplos de pessoas simples que tiveram
experiências significativas de transformação por meio da fé.
Nós temos a palavra final quando o
assunto é mudar a nossa maneira de pensar. E quando mudamos a mente, mudamos o
modo de vida. Isso quer dizer que, se você orientar o seu modo de pensar para o
que Jesus ensinou, você construirá uma vida mais próxima da vontade dele. Portanto,
aprenda mais sobre hábitos, conceitos e características que Jesus ensinou que
permitem uma mudança de atitude e que proporcione maior realização pessoal.
O grande desafio da vida não é
desenvolver determinados conhecimentos ou dominar um conjunto de doutrinas, mas
ser uma nova pessoa. Isso significa orientar a vida por valores diferentes do
que tem dominado a lógica secularizada do mundo contemporâneo. Ser diferente
não é o mesmo que ser um estranho, mas desenvolver um sentido de humanidade que
leve em conta os propósitos de Deus para a vida humana.
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
Só uma coisa é necessária / But one thing is needful / Empero una cosa es necesaria
“Todavia apenas uma é
necessária” Lucas 10.42
Quantas vezes você já tentou acertar na vida? Quantas coisas
você precisa fazer para poder melhorar? Qual é a melhor escolha? O que é fazer
a coisa certa? Responder a essas perguntas pode dar a ideia de que a vida é
como uma loteria, em que há muitas alternativas, mas só uma é correta.
Esse é um grande engano. A vida não é como um jogo de azar, embora
implique fazer muitas escolhas. O grande problema de se encarar a vida assim é
que a humanidade fez dela um amontoado de fragmentos, de tal modo que, enquanto
a tratamos de forma fragmentada, ela sempre será uma vida falsa e fracassada.
O encontro de Marta e Maria com Jesus é um retrato disso.
Marta entendeu que era preciso agradar a Jesus de muitas formas. Ficou
atarefada e ocupada demais com os serviços da casa. Maria, porém, sabia que
aquela era uma oportunidade única de estar face a face com Jesus. Sentou-se
calmamente ao seu lado e ouvia seus ensinos.
Quantas vezes você já esteve tão absorvido com suas ocupações
achando que isso é o melhor? Muitos até adotam uma experiência de religiosidade
que comporta uma agenda lotada, cheia de coisas para fazer. Entretanto, a
Bíblia nos mostra que nada disso é necessário.
Uma espiritualidade que abarrota nossa agenda de eventos e
tarefas não corresponde a uma espiritualidade comprometida e responsável.
Muitas vezes, esse tipo de religiosidade se confunde com uma fuga do mundo, com
uma tentativa de ludibriar nosso sentimento ferido por causa de nossas próprias
desilusões.
O
evangelho nos chama a uma espiritualidade de encontro em que o que está em
questão é a nossa vida inteira, com todas as suas implicações e todas as
relações. Foi por isso que Jesus disse que Maria havia escolhido a melhor
parte. Em vez de se encher de atividades para agradar a Jesus, ela optou por
investir um pouco do seu tempo numa oportunidade rara de encontro.
O chamado
de Jesus para a espiritualidade do encontro continua viva ainda hoje. Ele nos
chama para isso e nos alcança no lugar e nas circunstâncias em que vivemos.
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Eleições e Realidade Brasileira / Elections and Brazilian Reality / Elecciones y Realidad Brasileña
O resultado das
eleições 2014 requer uma leitura mais madura de nossa realidade como nação. A
vitória do governo atual, com a reeleição da presidente Dilma Rousseff, não é
resultado de uma boa atuação, mas de um movimento silencioso que vem
acontecendo no país há algum tempo, que é a manifestação de insatisfação e o
desejo de mudança que acontece a partir das periferias.
Esse é um sinal
de que o cenário político ganhou novos contornos e quem não souber compreender
isso adequadamente poderá ser levado por interpretações equivocadas. Isso se
deu a partir do esquema de manipulação levado a efeito através da grande
imprensa e das redes sociais. O quadro apresentado era de uma situação pré-golpe
tal como nos acontecimentos anteriores ao golpe de 1964. Lembrava os discursos
do direitista e golpista Carlos Lacerda que dizia de Getúlio Vargas: "Não
pode ser candidato. Se for, não pode ser eleito. Se eleito, não pode tomar
posse. Se tomar posse, não pode governar."
O que as urnas
desta vez apontaram é que as forças conservadoras de direita, que sempre
estiveram à frente da República e que hoje se encontram na oposição, precisam
rever seu projeto de Brasil e as estratégias políticas para as próximas
eleições. Mas apontam também para o fato de que o governo atual precisa ser mais ágil nas políticas sociais e combater com
mais vigor a corrupção de seu próprio partido.
O voto no governo atual foi, ao mesmo tempo, um voto crítico, que tanto
aprova seu programa social quanto rejeita sua prática partidária, mas também um
veto à oposição, em que tanto se rejeita sua tática golpista e desleal quanto
pede que seja mais coerente.
O resultado das urnas é uma prova de que a democracia brasileira vai se
fortalecendo lentamente, encontrado finalmente seu caminho. Mas ainda há uma
necessidade urgente de reforma política, em que se pensa a possibilidade de uso
do voto distrital, em que se conquiste definitivamente o fim das coligações e
se repense o financiamento de campanha, principalmente com o fim do
financiamento de empresas.
A vitória do governo não se deu só no norte e nordeste, mas em todo o
Brasil onde a desigualdade e a injustiça campeiam. Foi um grito dos
excluídos e daqueles que lutam em sua causa. Enquanto houver pobreza e desigualdade
neste país não dá para se pensar em outra mudança possível. O governo atual já
conseguiu tirar o Brasil do mapa da fome, mas precisa tirar também do mapa das
desigualdades, da má distribuição de renda, nos baixos indicadores de educação
e saúde.
A força da grande imprensa conservadora mostrou-se mais uma vez intensa,
mas não foi suficiente para conter o poder das mídias alternativas. A
população tem uma atitude mais crítica e um acesso maior às informações que não
permite mais que denúncias de última hora interfiram tanto no resultado das
eleições.
De fato, o Brasil de hoje é melhor do que o de há 12 anos, mas muito
distante do ideal. Há ainda uma enorme dívida social histórica para com os menos
favorecidos, com aqueles que precisam de oportunidades para construírem um
futuro melhor. O grande desafio agora do governo é combater a corrupção, fazer
o país crescer mais, controlar a inflação a níveis inferiores ao atual e aproximar
as pessoas a um projeto de nação.
sábado, 25 de outubro de 2014
Combate à corrupção / Combat against corruption / Lucha contra la corrupción
Quando
o assunto é corrupção, só entra em questão a corrupção alheia. Ficam de fora as
tentativas próprias de levar proveito em cada situação. Porém, é preciso ter em
mente que a corrupção é um fenômeno que precisa ser encarado em toda a sua
complexidade. A corrupção não é um fenômeno cultural, embora esteja enraizada
em todas as culturas. Não é também uma peculiaridade da vida pública, que afeta
os políticos em especial. Ela está presente de diversas formas em nosso
cotidiano e afeta todas as nossas relações. Ele é um produto da maldade
presente em nossas atitudes.
Por
essa razão, um dos itens do Pacto Global da ONU, no ano 2000, propõe o combate
à corrupção em todas as suas formas, incluindo o suborno e a extorsão. Trata-se
de um conjunto de medidas endereçadas a autoridades e empresários que estão
ligadas aos valores fundamentais no que concerne aos Direitos Humanos, às relações
de trabalho, ao meio ambiente e, inclusive, ao combate à corrupção.
O
combate à corrupção é uma luta constante que deve ser assumida por todos,
principalmente pelo fato de que, na forma com que se caracteriza dentro do
sistema capitalista, ela começa exatamente nas manobras e nos interesses
ligados a quem controla os meios de produção e o mercado. Enquanto não se tratar
a corrupção levando em consideração o corrupto e o corruptor, não haverá meios
de inibir tal prática. A corrupção não consiste somente em um agente público
apresentar dificuldades para depois vender as facilidades, mas também no fato
de que aquele que busca benefícios próprios está muito mais interessado em
comprar facilidades do que cumprir as exigências que lhes são apresentadas.
Isso
quer dizer que há um apelo mundial para que as empresas passem a compreender e
a adotar a integridade como um princípio que orienta suas condutas. A corrupção
não é um problema unicamente brasileiro, como alguns acreditam. Há, inclusive, no
sistema jurídico brasileiro a concepção da corrupção como um crime. Os tipos de
corrupção, conforme entendimento presente na legislação brasileira: suborno;
pagamento de facilitação; pagamento de brindes; “caixa dois”; sonegação fiscal;
lavagem de dinheiro; políticas de apoio e patrocínio.
O fenômeno da corrupção não envolve somente governos ou os
políticos. Isso afeta a todos os cidadãos, as empresas e entidades públicas e
privadas de um modo geral. O controle da corrupção é de interesse de toda a
coletividade, pois isso interfere diretamente na formulação das políticas
públicas e na solução dos graves problemas sociais. As práticas de corrupção
podem até criar uma ideia aparente de vantagem, mas na verdade elas prejudicam
a competição e o livre mercado ao estabelecer uma concorrência desleal e criar
um clima de insegurança do mercado. A corrupção compromete a integridade do
negócio e deturpa os valores éticos.
O combate à corrupção não é uma tarefa fácil. Não depende só de
leis ou de ações governamentais. Por essa razão, a Controladoria-Geral da União
elaborou em 2009 um manual, intitulado A Responsabilidade
Social das empresas no combate à corrupção, com as diretrizes básicas para que
essa iniciativa aconteça também nas empresas. O documento (na sua p. 16) define
corrupção do seguinte modo:
“Um ato de corrupção pode ser definido como uma transação ou troca
entre quem corrompe e quem se deixa corromper. Atos de corrupção correspondem,
portanto, a uma promessa ou recompensa em troca de um comportamento que
favorece os interesses do corruptor. É uma forma particular de influência do
tipo ilícita, ilegal e ilegítima, que conduz ao desgaste do mais importante
recurso do sistema político: sua legitimidade.”
Dentre as propostas para que a empresa desenvolva uma prática de
combate à corrupção encontram-se: a adoção de um programa de integridade e
combate à corrupção, a adoção de medidas de transparência e relacionamento com investidores
e o gerenciamento da integridade. São atitudes de caráter preventivo que ajudam
a corrigir os comportamentos no ambiente organizacional que violam a ética
adotada.
sábado, 18 de outubro de 2014
“Mar de lama”: desigualdade, corrupção e inflação em tempos eleitorais / Inequality, corruption and inflation / La desigualdad, la corrupción y la inflación
Os discursos da oposição estão orquestrados com as
manchetes da grande imprensa: o Brasil está mal. Não resta a menor dúvida de
que o Brasil vai mal, mas nunca esteve tão melhor. Não chega a estar tão a
ponto de ser o tal “mar de lama” anunciado pelo candidato oposicionista, assim
como nunca tivemos na história do país uma condição que se possa chamar de “mar
de rosas”. O fato é que a vida das pessoas melhorou: há mais emprego, há mais oportunidade de estudo, há mais pessoas na classe média e menos gente vivendo na miséria e, por incrível que pareça, há mais pessoas ricas.
Na configuração do processo eleitoral de 2014, o
que está em jogo não é somente uma situação moral, mas a escolha entre dois projetos
de poder: um que é favorável à luta contra as estruturas que promovem a
desigualdade e outro que atende às exigências do mercado que estimulam a
concentração de renda; um que representa as lutas das organizações de classe
dos trabalhadores e outro que representa os ideais das forças conservadoras de
direita.
O que a oposição alardeia como um caos social e
econômico está ligado a uma realidade dura e cruel vivida pelas camadas menos
favorecidas, embora não apresente planos e metas para a sua diminuição. Alguns
desses fatores podem ser aqui elencados:
a) a saúde pública ainda enfrenta situações
precárias de atendimento;
b) a educação pública carece de investimentos e
incentivos;
c) o transporte público de massa enfrenta condições
que não atendem à demanda;
d) a violência chegou a níveis insuportáveis, com
um aparato de organização e sofisticação nunca vistos.
A solução para esses graves problemas passa pela conjugação
de forças dos poderes constituídos, quer seja em instâncias federal, estadual e
municipal, quer seja por parte do executivo, do legislativo e do judiciário. É
uma ilusão acreditar que a solução do problema virá pela escolha de um
candidato que se autoproclame portador de soluções, como um “salvador da pátria”.
As condições em que se dão os problemas de saúde,
educação, transporte público e violência são as mesmas que favorecem a
desigualdade social, a corrupção e a inflação, corroboradas por práticas de
autoritarismo e de injustiça que infestam todas as esferas da vida pública.
Isso se deve a uma prática histórica ligada à distribuição de terras, à política
de favorecimentos e à concessão de oportunidades melhores aos que circulam mais
próximos ao poder.
Trata-se de uma política de exclusão que relegou à
margem da sociedade uma enorme parcela da população que sempre foi discriminada
por razões de cor, religião e posição social. A república brasileira é um
produto histórico dessa política excludente. Ela foi proclamada por uma elite
branca e aristocrática, que estabeleceu uma democracia voltada para a
manutenção do poder nas mãos das pessoas com maior poder aquisitivo. Qualquer
tentativa de se reverter essa configuração foi tratada com ataques moralistas e
golpes institucionais, com o uso intenso dos grandes órgãos de imprensa e da
influência por afinidade com representantes dos poderes instituídos, sobretudo
em relação ao legislativo e ao judiciário.
O discurso do “mar de lama” foi usado por representantes
da direita – como Carlos Lacerda – para desestabilizar o governo de Getúlio
Vargas, o que o levou ao suicídio. Foi usado também na campanha eleitoral de
Jânio Quadros, que sucedeu a Juscelino Kubitschek, mas que renunciou sete meses
depois da posse. Foi usado ainda para justificar o golpe militar de 1964 e
estabelecer um regime de exceção no país.
Reacender esse discurso neste momento eleitoral
traz o implícito de que as políticas sociais, que combatem as estruturas que
favorecem a desigualdade, que combate a fome e a miséria e que promovem
correções na distribuição de renda, não agradam às ditas forças conservadoras
de direita.
O combate à desigualdade social inclui a rejeição
das práticas que a favorecem, que promovem a má distribuição de renda e
exploram os menos favorecidos. Programas como o Bolsa Família, Minha Casa Minha
Vida, Prouni e equivalentes, embora sejam relevantes e decisivos para a
inclusão social de milhões de brasileiros, são alternativos. O que se faz
necessário mesmo é de uma política que penalize o poder do ganho de capital
sobre a s forças produtivas.
O combate à corrupção deve envolver o tratamento
das relações que a favorecem, incluindo o agente público envolvido na prática,
mas também a origem do dinheiro, que está vinculado a prestadores de serviços,
fornecedores e empreiteiros que se beneficiam da corrupção. Uma denúncia que é
feita por um agente criminoso, que aponta apenas um lado do problema e esconde
a fonte da corrupção não contribui para o combate à corrupção.
O combate à inflação não pode se dar apenas por uma
política de controle dos juros e do câmbio, mas por uma combinação de práticas
que levem em consideração os ataques especulativos do mercado, que cuidem da
relação entre oferta e demanda no mercado interno, que levem em consideração as
exigências do mercado externo e o repasse de ganhos das multinacionais.
O que o Brasil precisa hoje é de uma política de
Estado e de um programa de governo que tenha por princípio o combate constante
às estruturas que promovem a desigualdade social, o tratamento permanente da
corrupção como um mal intolerável que resulte na condenação do corrupto e do
corruptor, e o controle da inflação tendo em vista os ataques especulativos do
mercado com sua sede ganhos cada vez mais abusivos. Sem um compromisso público
de campanha por parte dos candidatos, o discurso e suas plataformas eleitorais
não passam de demagogia.
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
Ser criança / Be a child / Ser un niño
“Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este
é o maior no Reino dos céus” Mateus 18.4
Quando Jesus quis deixar uma lição sobre a vida no Reino de Deus, ele
usou a figura de uma criança como metáfora. Quatro afirmações foram feitas:
a) Você precisa se converter em uma criança.
b) Você precisa ser humilde como uma criança.
c) Você precisa acolher Jesus como quem acolhe uma criança.
d) Você precisa dar bons exemplos para uma criança.
A razão para que fizesse isso não foi por que a criança é pura ou
ingênua, mas por ela ser expressão de nossa condição real, incapazes de dar
conta de nós mesmos.
Por que isso não tem a ver com a pureza e a ingenuidade de uma criança?
Porque ela não é isso. A criança é uma pessoa que já traz em si toda a ambiguidade
da vida humana. Se ainda me lembro bem de minha infância, foi nesse período que
empreendi muitas ações maldosas, que hoje considero como falhas de caráter:
chantagem emocional, trapaças, mentiras cotidianas.
Certa vez, minha mãe deu ordem para não comer os biscoitos. Colocou o
pote de biscoitos no alto do armário e foi tirar o seu cochilo depois do
almoço. Eu desobedeci sua ordem, escalei o armário e, para minha tristeza,
quando estava quase alcançando o pote, o armário veio abaixo quebrando muitas louças.
Isso é ser criança: ser o que se é e contar com a ternura de um cuidado
amoroso maternal e paternal, depender de ser corrigido em nosso rumo e estar
aberto para a aventura de uma vida nova.
Quando
criança, imaginamos o que vamos ser quando crescer, cada descoberta é uma
grande aventura e ainda nos abrimos para a experiência da amizade e do
conhecimento. O crescimento é que nos traz, com o tempo, a ilusão do
autocontrole, da razão suficiente e até da liberdade incondicional. Porém, não
nos damos conta de que perdemos o essencial, que é a capacidade de acolhimento
e de redirecionamento da vida diante das incertezas.
O convite de
Jesus para ser como criança é para redescobrir o encanto de se viver de forma
autêntica e de acolher o seu convite amoroso. Ser criança é ser humano em sua
forma inicial, inclui a necessidade de se crescer e de amadurecer até a mesma
estatura de Cristo, implica tratar de nossas fragilidades com abertura para as
possibilidades para a nossa vida.
domingo, 12 de outubro de 2014
Celebrar a vida / Celebrate life / Celebrar la vida
O maior desafio de ser cristão hoje não é enfrentar a oposição de ateus
ou seguidores de outras crenças. Não é o embate com grupos de defesa de
direitos individuais diante de afirmações morais de grupos fundamentalistas.
Não é nem mesmo a rejeição à fé que a secularidade vem promovendo nos meios de
comunicação. O maior desafio para ser cristão hoje é a indiferença.
Quando se fala de indiferença, isso está relacionado tanto à maneira
como o pensamento contemporâneo trata a questão de Deus, quanto ao modo como cristãos
vivem no mundo. Explicando melhor. O mundo atual aprendeu a viver sem a compreensão
de Deus como uma hipótese válida para explicar a complexidade da vida. Além
disso, ser cristão e não ser cristão hoje envolve uma assimilação de valores
seculares que não dá mais para diferenciar o que orienta as escolhas das
pessoas.
O apóstolo Pedro disse certa vez: “Vivam entre os
pagãos de maneira exemplar para que, naquilo em que eles os acusam de
praticarem o mal, observem as boas obras que vocês praticam e glorifiquem a
Deus no dia da sua intervenção.” 1 Pedro 2.12. Parece
que esse era um problema também na época do começo do cristianismo. Cristãos
que orientam sua vida pelos mesmos valores que uma sociedade secularizada
tornam-se indiferentes aos apelos do evangelho para o exercício da missão.
Há alguns
que poderão olhar para essa afirmação de Pedro como uma advertência moral, porém
o que está em jogo quando o assunto é viver é a capacidade de levar em conta as
circunstâncias em que se dá a nossa existência. Talvez isso leve até a pensar
que fazer as coisas certas resulta em uma vida melhor e encoraja outros a que
façam o mesmo. Entretanto, essa conclusão é precipitada e equivocada.
Viver é uma
experiência rara, única. A vida está aí, dada para ser vivida em meio às
circunstâncias concretas do mundo, no qual estamos inseridos. É o que nos
remete ao sentido do ser-aí – o dasein
de Martin Heidegger. Cada um é uma história que está acontecendo e caminha para
um final. Isso corresponde a uma angustiante ambiguidade: quando se olha para o
futuro, temos uma indeterminação; mas quando olhamos para o passado, vemos o
que nos determina e confere significado, de tal modo que a cada passo dado a
história se transforma. Por essa razão, Riobaldo – o personagem de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães
Rosa – dirá: “Moço, viver é muito perigoso”.
Viver é a
melhor dádiva que recebemos, e viver de acordo com os propósitos de Deus é
fazer dessa dádiva uma oportunidade única de realização pessoal e de encontro. Vivemos melhor
quando experimentamos a vida na vida de Deus. Uma vida nessa dimensão desperta
o sentido celebrativo. Isso é adoração. É no curso da vida que somos chamados a
uma experiência de encontro com Deus, na pessoa de Jesus Cristo, que nos remete
a um encontro com o próximo em missão. E essa é uma vivência que se atualiza e
se renova a cada dia, de modo que viver é estar sempre aberto para o novo.
Viver desse modo para o cristão é viver a
dispensação da graça. Quando se vive a vida de Deus, descobre-se que não
existimos para nós mesmos, mas para o cumprimento da missão. Isso nos remete a
um deslocamento, que vai da minha autossatisfação para a realização do
encontro, que parte do individualismo para a vida em comunhão. O que nos
permite fazer este deslocamento é a fé como experiência individual que se
expressa coletivamente. Missão não é oferecer um espetáculo para a admiração de
todos, mas ser a comunidade dos que celebram a vida por que a experimentam na
fé no Deus vivo.
Isso deve orientar uma nova vida em comunidade,
ser a igreja de Deus no mundo. A igreja que não assume a missão de Deus em sua
vida comunitária, como sua forma de ser no mundo, torna-se como um clube
religioso, fechado em si mesmo, insensível às dores do mundo. Ela pode até ser
espetacular em suas celebrações – o que é bom e deve ser sempre buscado e
aperfeiçoado – mas será sempre um lugar de fuga, nunca um lugar de esperança e acolhida.
Será mais um esconderijo, e não um lugar de descanso para tratar das dores da
vida.
domingo, 5 de outubro de 2014
O que falta? / “What do I still lack?” / “¿Qué más me falta?”
“Disse-lhe o jovem: ‘A tudo
isso tenho obedecido. O que me falta ainda?’”Mateus 19.20
A pergunta do jovem rico a Jesus é a pergunta de toda a
humanidade: o que eu posso fazer para ter uma vida melhor? Ela contém duas
ideias embutidas: a primeira é a de que por mais que eu conquiste bens na vida,
isso nunca será suficiente para uma vida melhor; a segunda é que por mais que
eu faça o bem, isso do mesmo modo nunca será suficiente.
O conceito de vida que o jovem traz consigo não corresponde
ao aspecto material e circunstancial do viver. Ele pergunta pela vida além da
vida, a que excede o biológico e até o existencial. Refere-se à suspeita de que
todos nós temos de que há um porvir, o que fortalece a hipótese de que não
fomos feitos apenas para uma vida aqui, limitada, entre o nascer e o morrer.
Para essa vida que se abre para o que está além, para o
eterno, a humanidade tem tentado se orientar a partir desses dois princípios: o
da satisfação material e o do merecimento. De um lado, a sede de se realizar
por possuir aquilo que ainda não se tem; de outro, o anseio de fazer o certo para
se conseguir o almejado. Ora o pêndulo aponta para um, ora para outro.
Para o moço rico, esses dois princípios não eram suficientes.
Por mais rico que fosse e por mais que praticasse os dez mandamentos, ainda lhe
faltava alguma coisa. Assim como ele, todos nós temos a ilusão de que a o
bem-estar é resultado unicamente de uma conquista pessoal.
Jesus, porém, aponta para um teste de realização: o jovem
teria que abrir mão de tudo o que lhe dava segurança para seguir a Jesus.
Um grande
desafio. Se você tivesse que escolher hoje deixar tudo o que tem para seguir a
Jesus, qual seria a sua decisão? A maior dificuldade das pessoas em entender
essa proposta é que seguir a Jesus não é uma alternativa: é a única escolha
sensata para uma vida melhor e mais feliz. E a razão dessa minha afirmação é a
vida que se baseia no seguimento de Jesus é a única maneira de se alcançar o
sentido de realização pessoal.
O jovem
rico saiu triste. Possivelmente ainda não estivesse preparado para essa
decisão. Ele é um retrato fiel das escolhas que fazemos. É muito mais fácil
você se ocupar acumulando bens ou cumprindo uma agenda de boas maneiras e boas
atitudes do que fazer os ajustes na vida para seguira a Jesus. Porém, não há
nada que nos realize mais do que viver de acordo com os seus ensinos. Garanto.
domingo, 28 de setembro de 2014
Poder / Power / Poder
“Não será assim entre vocês. [...]” Mateus 20.26
Onde está aquele Jesus que questiona as estruturas dominantes
que causam desigualdade e injustiça? A relação da cristandade com o poder tem
produzido seus encantos e não falta quem deseje a implantação de um sistema
político dominado pela fé cristã.
São dois grandes equívocos da relação entre fé cristã e
política: um, o de confundir poder com sistemas de poder; outro, de confundir a
mensagem de justiça que brota do evangelho com a implantação de uma estrutura
política. O resultado desses equívocos é um só: desconhecer as causas reais que
provocam toda forma de injustiça e desigualdade social no mundo.
Jesus teve a oportunidade de tratar disso quando a mãe de
dois dos seus discípulos o procurou para fazer um pedido inusitado. Ela queria
garantir uma vida estável e confortável para seus filhos no reino de justiça
que Jesus veio implantar. Porém, a lógica do evangelho é outra: menos é mais e
poder significa influência.
Jesus reconheceu que era legítimo o direito dos discípulos
serem tratados como o seu mestre. Então, que seja assim. Se alguém quiser ser o
maior, que seja o menor; se alguém quer ser o primeiro, que seja o último, se
alguém quer ser servido, que seja o servo de todos; se alguém quer ganhar a
vida, que a perca por amor a Jesus; se alguém quer ser perdoado, que aprenda a
perdoar; e se alguém tiver vergonha disso, será envergonhado.
A maior lição de relações de poder dentro do cristianismo foi
dada a partir de uma toalha e uma bacia. Isso é completamente diferente do que
a cristandade construiu desde a aproximação do poder romano com os cristãos lá
pelos idos do século IV.
O reino de Deus não precisa de uma estrutura de poder para
produzir seus efeitos. Ele já é a manifestação do poder de Deus entre os
homens, que precisa ser sinalizado historicamente através dos atos de justiça e
compaixão dos que tomam parte dele. Ao contrário, as estruturas humanas de
poder estão contaminadas por fatores que não se coadunam com a boa notícia do
Reino. Os sistemas de poder são exercidos por um jogo de dominação, por uma
estratégia de persuasão e por técnicas de controle.
O evangelho é a graça de Deus que chega aos homens em amor,
que acolhe o mais indigno, fortalece o mais vulnerável e exalta o que fora
humilhado. Não tem como misturar as coisas, nem como regatear a alegria da
graça com qualquer proposta política de mudança da conjuntura atual. A boa nova
do Reino é o único modo de mudar a realidade, porque transforma a vida de quem a
acolhe por dentro.
domingo, 21 de setembro de 2014
Interesse / Interest / Interés
“[...] Alguém tocou em mim [...]” Lucas 8.46
Onde está aquele Jesus que se interessa por
pessoas desprezadas? E como há gente desprezada no mundo! A notícia boa é que
Jesus se importa com cada uma delas. O problema é fazer com que elas saibam
disso.
Tem gente desprezada por causa de suas condições
de saúde, de sua classe social, de sua formação, da cor da sua pele, de suas
preferências políticas e até de sua orientação sexual. Todas desprezadas por
causa de um padrão moral vigente que exclui o diferente e rejeita aquilo que
põe em risco os que se acham “normais”.
A mulher com um fluxo de sangue é um arquétipo
desse tipo de gente. Viveu anos se escondendo dos outros, tratada como imunda
por todos. Um dia, soube que Jesus iria passar em algum lugar perto. Deve ter
se banhado e se perfumado para esconder o odor. Deve até ter usado roupas
diferentes para se parecer normal. Tudo para ver Jesus, sua última esperança de
encontrar alguém que se importasse com sua condição. Só não conseguiu deixar de
andar encurvada por causa da vergonha e do medo que carregava dentro de si.
Quando se aproximou de Jesus, mais uma barreira:
como chegar mais perto, se ele está cercado de tanta gente que nem precisa
dele? Se ao menos pudesse tocar, nem que fosse na beiradinha de sua roupa, isso
já valeria como um abraço caloroso cheio de amor. Foi o que tentou fazer.
Esforçou-se, espremeu-se entre a multidão, e o tocou.
A surpresa da história não é o esforço da mulher, embora isso
fosse tão expressivo, mas o fato de Jesus ter percebido aquele único toque, em
meio a tantas mãos e gestos e contatos. Um único toque era tudo o que
interessava a Jesus. “Quem me tocou de forma tão viva e vibrante que deu para mobilizar
todo o poder de Deus?”
A pergunta de Jesus implicava o seu grau de
interesse por pessoas. Basta que você se dirija a ele, para que toda a sua
graça esteja a sua disposição, com vivo interesse. Basta um simples gesto, nem
que seja como um toque na beirada da roupa, para que o Senhor se volte para você e lhe
demonstre todo o seu amor. Antes que você esteja interessado na bênção dele,
ele já está interessado em você há muito mais tempo.
domingo, 14 de setembro de 2014
Acolhida / Accepting / Acogiendo
“Portanto, eu lhe digo, os muitos pecados dela
lhe foram perdoados, pelo que ela amou muito. Mas aquele a quem pouco foi
perdoado, pouco ama.” Lucas 7.47
Onde foi parar
aquele Jesus que aceita o perfume de uma prostituta? Essa pergunta nos incomoda
porque expõe a quantidade de preconceitos e moralismos que fazem parte de nossa
compreensão evangélica. Sim, somos herdeiros de uma tradição preconceituosa e
moralista que culpabiliza o outro a partir de valores que escolhemos para nossa
conduta.
Não resta a menor
dúvida de que esses valores são nobres, bíblicos e até necessários para uma vida
mais digna. Porém, o problema está em esperar que aqueles que não professam a
mesma fé e que são diferentes em termos de formação desenvolvam as mesmas
atitudes que acreditamos.
Na ocasião em que
aceitou o perfume de uma prostituta, Jesus estava na casa de um religioso,
cumpria as formalidades da vida social. Tudo parecia normal até que a mulher
pecadora foi ao encontro de Jesus, por trás, e chorou aos seus pés. Suas
lágrimas eram tantas que precisou enxugá-las com seus cabelos. Depois, beijou e
ungiu os pés de Jesus com um perfume caríssimo.
Incompreensível
atitude até para um sábio fariseu. Jesus precisou contar uma história de
pessoas que devem muito. Afinal, só sabe o que é perdão quem tem uma dívida
muito alta. Só sabe o que é ser bem recebido quem já foi muito rejeitado. Só
sabe dar valor a uma pequena conquista quem muito perdeu.
É dessa maneira
que Jesus nos acolhe. E é só compreendendo quem fomos que podemos valorizar o
quanto ele nos ama.
domingo, 7 de setembro de 2014
“Vem e vê”: o custo do discipulado / “Come and see”: The cost of discipleship / “Venid y ved”: El costo del discipulado
“[...] Venham e verão
[...]” João 1.39
André foi o
primeiro discípulo a quem Jesus chamou, por isso é conhecido pela tradição
cristã como “protocletos”. Era um homem cheio de vontade de ter uma vida mais
próxima de Deus. Foi um dos discípulos de João Batista, juntamente com João,
aquele mesmo que se tornaria um dos evangelistas.
A maneira como
encontrou-se com Jesus pela primeira vez despertou seu interesse pelo Salvador.
O convite de Jesus foi simples: “Vem e vê”. André assumiu o custo do
discipulado de forma integral. Sua primeira atitude foi encontrar seu irmão
Pedro para dizer que havia encontrado o Messias e para conduzi-lo até Jesus.
André tornou-se
um grande evangelista e líder da igreja cristã. Sua ação missionária se
estendeu à região que compreende hoje a Romênia e a Rússia. Sua visão
missionária o conduziu a estabelecer a sede de sua missão em Bizâncio, que
depois viria a ser a sede do império romano com o nome de Constantinopla, atual
Istambul.
Ele assumiu o
testemunho de Jesus Cristo até as últimas consequências. Morreu atado a uma
cruz, martirizado, na cidade de Patras, região grega de Acaia. Seu nome é ainda lembrado como
patrono na Escócia, na Ucrânia, na Romênia, na Sicília e em Istambul. Sua vida
fala até hoje.
Até que ponto
estamos dispostos a assumir o custo de seguir a Cristo? As consequências dessa
decisão são imprevisíveis. De uma coisa podemos ter certeza: uma vida que se
dispõe a assumir o custo do discipulado de forma radical faz a diferença e é
disso que o mundo precisa.
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
O modelo de discipulado de Jesus / The Jesus model of discipleship / El modelo de discipulado de Jesús
A maneira como Jesus
investiu na formação de seu movimento não tem a ver com um projeto de poder,
mas com o discipulado. O maior equívoco do cristianismo foi o de tentar criar
um reino de justiça e fé em meio a uma sociedade corrompida e perversa, sem a
ação transformadora do evangelho na vida das pessoas. Tentar colocar ordem num
mundo caótico, por entender que está distante dos propósitos de Deus, não
corresponde à missão dada por Jesus. Ele não comissionou pessoas a defenderem
uma ideologia de poder, mas para serem testemunhas da graça divina, que nos
acolhe e nos transforma em novas criaturas. Isso não se limita à formação de
uma nova estrutura política e social, mas à restauração da humanidade em nós.
Para isso, Jesus se ocupou com duas áreas
de atuação: como tornar-se um discípulo e como fazer discípulos. O modelo de
Jesus para o discipulado é, portanto, relacional e intencional. Isso envolve
quatro aspectos:
a) Em primeiro lugar, somos desafiados
para uma nova vida, a viver uma nova realidade. Por isso somos transformados em
nosso caráter, em nosso modo de pensar e na maneira como vemos o mundo. Isso
demanda uma intencionalidade no discipulado.
b) Em segundo lugar, Jesus nos
encoraja a uma vida de intimidade com Deus e para sermos mais sensíveis à sua vontade. Sua
presença entre nós nos restaura e nos cura. Isso nos estimula a uma celebração
apaixonada e apaixonante.
c) Em terceiro lugar, ele também nos
convoca para a vida em comunidade, o que demonstra o quanto somos amados e
valorizados. Isso desperta uma atitude mais acolhedora.
d) E, em quarto lugar, ele ainda nos capacita
para testemunhar e a servir. Temos a missão de sinalizar o Reino de Deus no
mundo. Isso nos leva a uma ação em favor das pessoas mais vulneráveis.
Por que Jesus se preocupou com isso? Primeiramente,
por reconhecer que a única forma que temos para alcançar o mundo todo é através
do relacionamento interpessoal. Cristãos não se reproduzem automaticamente, o
que corresponde ao fato de que todos nós precisamos ser ajudados para chegar à
maturidade. Nesse sentido, o discipulado é a melhor ferramenta para a formação
de lideranças e de pessoas que são capazes de influenciar outras. Como uma
relação intencional entre pessoas, o discipulado tem um baixo custo de
implantação, pois se baseia unicamente no relacionamento.
Os primeiros discípulos compreenderam
esse modelo de forma muito clara e o aplicaram no começo de sua caminhada como
igreja no mundo. Logo de início, os primeiros discípulos foram reconhecidos como
pessoas que estiveram com Jesus por causa de sua atitude: “Vendo a coragem de Pedro e de João, e
percebendo que eram homens comuns e sem instrução, ficaram admirados e
reconheceram que eles haviam estado com Jesus.” Atos 4.13.
O resultado da aplicação desse modelo
no seguimento de Jesus contribuiu decisivamente para o aumento do número de
cristãos desde o início. Esse é o modo como o livro de Atos relata: “E
divulgava-se a palavra de Deus, de sorte que se multiplicava muito o número dos
discípulos [...]” Atos 6.7 (ARA).
Ser e fazer discípulos é o modelo de
Jesus. Isso vale para nossos dias para quem segue seus ensinos. E esse é o
fator preponderante para a multiplicação do número daqueles que são alcançados
pela graça e têm suas vidas transformadas.
domingo, 31 de agosto de 2014
Espiritualidade contemporânea / Contemporary spirituality / Espiritualidad Contemporánea
“Por isso digo: vivam pelo
Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne.” Gálatas 5.16
Espiritualidade é vida no
Espírito. Isso implica orientar a vida toda na direção do Espírito de Deus. É
muito mais uma condição humana, que envolve toda a nossa humanidade. Veja
alguns modos que a espiritualidade tem tomado forma na contemporaneidade:
Há uma espiritualidade ascética –
que busca, através de exercícios espirituais, dobrar o corpo para disciplinar o
espírito.
Uma espiritualidade de mercado –
que transforma a fé num produto de consumo.
Uma espiritualidade ao portador –
com baixo comprometimento social e alto individualismo.
Uma espiritualidade de adesão
radical – sob a forma de fundamentalismo.
Uma espiritualidade de rede social
– como desejo de autoafirmação, seguindo formas de autoajuda.
Uma espiritualidade engajada –
preocupada com as grandes ameaças globais.
Uma espiritualidade alienada – que
busca experiências de transes.
Uma espiritualidade politizada –
que visa implantar o Reino de Deus na Terra.
Uma espiritualidade humanizadora –
que procura atender as necessidades da pessoa humana de forma integral.
De todas essas formas, sou mais
simpático e busco desenvolver uma espiritualidade que me leve mais próximo do
propósito de Deus, de tal modo que o que mais importa são as atitudes que
assumimos diante dos conflitos da vida.
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