domingo, 28 de setembro de 2014

Poder / Power / Poder

“Não será assim entre vocês. [...]” Mateus 20.26
Onde está aquele Jesus que questiona as estruturas dominantes que causam desigualdade e injustiça? A relação da cristandade com o poder tem produzido seus encantos e não falta quem deseje a implantação de um sistema político dominado pela fé cristã.
São dois grandes equívocos da relação entre fé cristã e política: um, o de confundir poder com sistemas de poder; outro, de confundir a mensagem de justiça que brota do evangelho com a implantação de uma estrutura política. O resultado desses equívocos é um só: desconhecer as causas reais que provocam toda forma de injustiça e desigualdade social no mundo.
Jesus teve a oportunidade de tratar disso quando a mãe de dois dos seus discípulos o procurou para fazer um pedido inusitado. Ela queria garantir uma vida estável e confortável para seus filhos no reino de justiça que Jesus veio implantar. Porém, a lógica do evangelho é outra: menos é mais e poder significa influência.
Jesus reconheceu que era legítimo o direito dos discípulos serem tratados como o seu mestre. Então, que seja assim. Se alguém quiser ser o maior, que seja o menor; se alguém quer ser o primeiro, que seja o último, se alguém quer ser servido, que seja o servo de todos; se alguém quer ganhar a vida, que a perca por amor a Jesus; se alguém quer ser perdoado, que aprenda a perdoar; e se alguém tiver vergonha disso, será envergonhado.
A maior lição de relações de poder dentro do cristianismo foi dada a partir de uma toalha e uma bacia. Isso é completamente diferente do que a cristandade construiu desde a aproximação do poder romano com os cristãos lá pelos idos do século IV.
O reino de Deus não precisa de uma estrutura de poder para produzir seus efeitos. Ele já é a manifestação do poder de Deus entre os homens, que precisa ser sinalizado historicamente através dos atos de justiça e compaixão dos que tomam parte dele. Ao contrário, as estruturas humanas de poder estão contaminadas por fatores que não se coadunam com a boa notícia do Reino. Os sistemas de poder são exercidos por um jogo de dominação, por uma estratégia de persuasão e por técnicas de controle.

O evangelho é a graça de Deus que chega aos homens em amor, que acolhe o mais indigno, fortalece o mais vulnerável e exalta o que fora humilhado. Não tem como misturar as coisas, nem como regatear a alegria da graça com qualquer proposta política de mudança da conjuntura atual. A boa nova do Reino é o único modo de mudar a realidade, porque transforma a vida de quem a acolhe por dentro.

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