quinta-feira, 30 de abril de 2015

Deus / God / Dios

Pois nele vivemos, nos movemos e existimos [...]” Atos 17.28
Costumo ouvir a acusação de que a filosofia é incompatível com a fé. Tenho experimentado o contrário disso em minha própria vida. É bem verdade que há quem diga que crer em Deus é um absurdo, mas eu acrescentaria que não crer em Deus é um absurdo absoluto. Nesse aspecto, Tertuliano, no século II, afirmou: “Creio embora seja absurdo”. Entretanto, o grande problema da crença e da compreensão de uma relação com Deus está nas próprias tentativas de explicá-lo: toda a tentativa de explicar Deus é incompleta.
Ao longo da história da filosofia, três formulações teóricas sobre Deus marcaram a cultura ocidental. Gostaria de refletir um pouco sobre elas para que possamos repensar a nossa fé. Há muitas explicações sobre Deus que partem dessas compreensões e dão base a muitas práticas de nossa espiritualidade. Trata-se do conceito de Deus em Platão, Aristóteles e na tradição judaico-cristã.
O conceito de Deus em Platão está relacionado com a base de seu pensamento: a concepção do mundo em duas esferas, uma que é percebida pelos sentidos e outra que só alcançamos pela razão. Ele entendia que o mundo em que vivemos é transitório de tal modo que não dá para ser percebido pelos sentidos.
O que o sentido capta é apenas a singularidade das coisas. No mundo sensível, a existências das coisas faz parte de uma relação em constante mudança, mas, por detrás do que percebemos neste mundo, Platão desconfiava de que há uma estrutura que não muda e confere identidade às coisas. O que percebemos com os sentidos não passa de sombras ou ilusões de uma essência, de uma ideia fundamental, que precisa ser buscada. Essa essência, que é permanente, não nos é acessível aos sentidos, mas tão somente pela razão, que são os olhos da alma.
O corpo só percebe o que é transitório, mas a razão está sempre em busca da essência. Isso constitui um dualismo que precisa encontrar uma harmonização que só a filosofia consegue dar conta. Nessa direção, o conhecimento de Deus não pode ser alcançado pelos sentidos. Deus é uma questão racional e não de sensibilidade. Para se chegar à ideia de Deus, é preciso desenvolver exercícios de espiritualidade, baseados em condutas que eliminem o que é singular e conserve o que é comum a fim de que se chegue à ideia perfeita.
Assim é que se chega aos conceitos de justiça, de belo e de verdade como resultado de todas as condutas em sua perfeição. Deus está por trás e acima desses conceitos articulando a existência de todas as ideias perfeitas que podemos ter sobre o mundo. Deus é o resultado último dessa busca racional da perfeição, distante de nossas percepções sensoriais. O encontro com Deus, então, é pouco provável, pelo menos enquanto a alma estiver aprisionada ao corpo, pois este impede um exercício perfeito de abstração.
Para Aristóteles, o universo é um todo ordenado, em que tudo tem uma finalidade e uma atividade própria. Quando cada coisa cumpre bem a sua finalidade, contribui para que o universo funcione bem. A finalidade de cada coisa no universo é o que garante uma existência adequada de cada uma delas e permite que as demais coisas também alcancem a sua finalidade. Da mesma forma, quando uma coisa não cumpre bem a sua finalidade, isso afeta todo o universo. A finalidade das coisas é a causa de elas serem como são, bem como terem a forma e a substância que possuem.
Deus, por conseguinte, é a adequação entre os seres e suas finalidades. Deus, portanto, é o motor primeiro, ato puro, imaterial e apático, como um pensamento de si mesmo. Ao mesmo tempo, Deus é o fim último de todas as coisas. Isso quer dizer que Deus é transcendente ao homem, mas imanente ao universo, uma vez que o universo é organizado a partir de uma lógica que lhe é própria. Em outras palavras, o universo é cósmico, o que permite que seja compreendido, decifrado como logos, em que Deus é quem dá sentido. A dimensão divina que é imanente ao ser precisa exercer a sua atividade com excelência tendo em vista a sua finalidade.
Assim, os seres exercem virtuosamente sua existência, visto que a virtude equivale a uma competência para exercer uma certa finalidade. Diferentemente dos demais seres, no entanto, o homem nem sempre é competente para alcançar a sua finalidade. Para que alcance a sua finalidade no mundo, o homem precisa conhecer a sua atividade natural, que lhe é peculiar. Enquanto Deus está necessariamente presente no mundo, a presença de Deus na vida humana é contingente. E isso se dá quando desenvolvemos com excelência uma atividade e alcançamos a finalidade da mesma.
A relação com Deus se dá quando encontramos o nosso lugar no universo e, assim, alcançamos a eternidade. A salvação, portanto, consiste na superação do medo da morte. A essência desse modo de pensar é que, se fizermos as coisas certas, do modo certo, pelas razões certas, seremos salvos. Os estoicos desenvolveram ainda mais essa compreensão de Deus e nossa relação com ele.
Na concepção judaico-cristã, Deus transcende ao homem e ao universo. Ele é o criador de todas as coisas a partir do nada, que sempre existiu como um ser absolutamente perfeito. Esse Deus está envolvido com a criação com a qual exerce uma relação pessoal. Como ser pessoal e relacional, Deus é sensível e se deixa afetar pelas dores do mundo. É Deus mesmo que se encarna na pessoa de Jesus, imerge na história e reivindica para si todo o ser humano para que tome parte de sua natureza divina. A salvação envolve toda a nossa condição humana e exige uma resposta de fé ao acolher a sua proposta amorosa de vida.
O grande problema é que, quando o cristianismo foi levado para o Ocidente, deparou-se com o fato de que o pensamento greco-romano era dominante, e que a crença judaico-cristã era vivenciada por um povo dominado formado por muitos pobres. Com a aproximação do poder político, na época de Constantino, e o surgimento da cristandade, prevaleceu a influência do pensamento ocidental sobre a teologia, inclusive com a adoção de práticas de espiritualidade que eram comuns à ascese greco-romana. De tal maneira que a teologia se distanciou de sua origem e procurou desenvolver explicações que dessem conta de suas próprias contradições, como foi o caso das tentativas das provas ontológicas da existência de Deus.

domingo, 26 de abril de 2015

Por que pessoas fracassam? / Why people fail? / ¿Por qué fallan las personas?

“O Senhor firma os passos de um homem, quando a conduta deste o agrada; ainda que tropece, não cairá, pois o Senhor o toma pela mão.” Salmos 37:23-24
Ter sucesso é uma exigência para quem quer seguir qualquer carreira ou realizar qualquer projeto. Vivemos no império das pessoas bem-sucedidas. O contrário disso é fracasso. Bill Gates, o homem mais rico do mundo – o perfil do bem-sucedido – afirmou certa vez: “O sucesso é um professor perverso. Ele seduz as pessoas inteligentes e as faz pensar que jamais vão cair.”
Normalmente, pessoas fracassam por três motivos:
a) não sentem necessidade de alcançar o sucesso;
b) não têm medo do sucesso; ou
c) desconfiam do sucesso.
Isso quer dizer que você só fracassará na vida se não tentar e não lançar um desafio para si mesmo. O sucesso é resultado de muito trabalho. Entretanto, o trabalho não se basta por si mesmo. Há que se buscar um equilíbrio em nossas relações.
Bryan Dyson, ex-presidente da Coca-Cola, comparou a vida a um jogo de malabarismo com cinco bolas, sendo uma de borracha e as outras quatro de vidro. Essas bolas seriam o trabalho, a família, a saúde, os amigos e a espiritualidade. A bola de borracha corresponde ao trabalho. Se ela cair, vai pular para cima em retorno. As demais, se caírem, ficarão para sempre danificadas. Daí a necessidade de muito equilíbrio.
O fracasso é sempre uma possibilidade quando as nossas relações com o outro estão em jogo. Há muito tipo de sucesso que são verdadeiros fracassos. Por exemplo, uma pessoa pode ser bem-sucedida em seu empreendimento, mas deixar escapar a chance de se relacionar bem com quem ama.
A diferença entre sucesso e fracasso está na dose certa de esforço que você aplica em suas relações e nas suas prioridades na hora de fazer escolhas. Quando se tem que tomar decisões, o que mais importa são os valores que orientam a nossa vida. O certo a fazer tem que ser válido para toda e qualquer situação. A teoria do vale tudo não é a melhor receita para o sucesso.
Na hora de tomar decisões, alguns princípios são imprescindíveis. Um deles é a prudência. Os judeus ensinam que há três fatores que determinam o sucesso: a inteligência (habilidade de pensar), o conhecimento (habilidade de processar informações) e a sabedoria (habilidade de aplicar o conhecimento às situações práticas)
Outro princípio é o bom-senso. Pessoas de bom-senso ouvem conselhos e aprendem com seus erros. Há ainda o princípio da fé. O grande segredo da vida é viver de acordo com o que Deus planejou para nós. E, finamente, o princípio do cuidado com os relacionamentos. Coloque as pessoas acima das coisas.

O fracasso não é, em si mesmo, o fim da linha, mas uma oportunidade de rever seus valores, suas escolhas e suas ações. Pessoas bem-sucedidas são capazes de olhar para si mesmos e de fazerem um diagnóstico realista de quem é. O fracasso mesmo é se iludir achando que é capaz de realizar coisas que estão distante daquilo que pode conferir dignidade a você e aos que estão a sua volta.

domingo, 12 de abril de 2015

Temor e tremor / Fear and trembling / Temor y temblor

Adorem ao Senhor com temor; exultem com tremor. Salmos 2.11
Abraão tinha tudo para se tornar uma pessoa feliz. Estava seguro que fizera a vontade de Deus durante toda a sua vida: atendeu ao chamado de sair da sua terra, conduziu sua família a reconhecer o único Deus vivo e verdadeiro e ainda tinha o filho da promessa, que faria de sua descendência uma grande nação. Porém, Deus quis colocá-lo à prova mais uma vez ao requerer o sacrifício de Isaque.
O que Abraão mais temia era o que o chamava a um confronto. O poder que era incompreensível e inevitável agora lhe exigia algo que o desestabilizava emocionalmente. Ele estava dominado pela crença em Deus como consolador e julgador ao mesmo tempo. O que estava em jogo naquela prova de fé? Soren Kierkegaard compreendeu que Abraão tinha uma fé somente para esta vida. Ele confiava que isso o ajudaria a envelhecer de forma honrada junto ao que mais amava.
Uma fé que se limita às garantias do bem-estar e da felicidade aqui e agora é destituída de propósito. Isso até pode ajudar a ser o sujeito ético, admirado e louvado pelos outros, mas não é suficiente para gerar mudanças significativas que coloquem em risco a nossa própria condição diante de Deus. É uma fé sem temor.
Uma fé que não se abre a uma relação marcada pelo despojamento de tudo que mais amamos também é destituída de propósito. A fé que nos mantém apegados ao que nos dá segurança (sejam relacionamentos, bens, certezas ou crenças) não gera transformação e não serve para nada. Não abala nossas estruturas e não nos leva a agir. É uma fé sem tremor.
Somos pessoas em busca de significados e isso nos conduz a uma experiência religiosa que comporta uma variação entre o medo e a esperança, entre a reverência e euforia, entre o que dá segurança e o que se abre a uma expectativa, entre o sofrimento e a cura, entre o amor e o juízo, entre o bem-estar no presente e a felicidade futura, entre a vida dura na terra e a glória celeste.
Paulo afirmou que a salvação é algo que precisa se realizar em meio a essa variação entre o temor e o tremor, ou seja, que leve em conta esse respeito e reverência diante daquele que tudo pode, bem como as atitudes concretas de transformação da vida. É resultado de realização do amor de Deus em nós de maneira que nos leva a agir por amor a Deus.

Para Kierkegaard, a fé é um paradoxo: “A fé é a mais alta paixão de todo homem”, disse. Em relação a Abraão, seria um paradoxo assassinar um filho para agradar a Deus. Contudo, a atitude de obedecer a isso foi resultado da fé. Não há raciocínio lógico que justifique tal ato. A fé que se realiza entre o temor e o tremor é o que liberta da angústia, suscita a alegria em meio às lutas e o que nos dá coragem no meio do deserto. Temer a Deus liberta a vida. Tremer diante de Deus é experimentar transformações que nos ajudam a superar nossas fragilidades.

domingo, 5 de abril de 2015

Ressurreição e vida / Resurrection and life / La resurrección y la vida

“Disse-lhe Jesus: ‘Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá’.” João 11.25
O teólogo alemão Jürgen Moltmann afirmou que “uma fé cristã que não é fé na ressurreição não pode por isso ser chamada nem de cristã nem de fé.” Crer na ressurreição é reconhecer aquele que foi ressuscitado como o mesmo que suportou a cruz e é também confiar naquele que o ressuscitou. O testemunho de fé dos discípulos e a ousadia da proclamação do evangelho fortalecem a convicção de que a ressurreição foi um fato que se deu na história e que produziu efeitos históricos sobre a humanidade toda.
Crer na ressurreição de Jesus é tomar por inteiro a realidade da revelação divina. Em Cristo, Deus assumiu a nossa humanidade. A encarnação não seria humana se não incluísse a morte. Na cruz, Deus morreu. Em sua morte estavam também todas as crenças, todas as esperanças, todas as ilusões. Mas aqueles que creram puderam vê-lo ressuscitado, vivo, em todo o seu esplendor.
Em que acreditamos quando afirmamos a fé na ressurreição de Jesus? Em primeiro lugar, aquele que foi crucificado apareceu aos seus discípulos e a quem mais amava. Em segundo lugar, aquele que apareceu vivo dentre os mortos é o mesmo que veremos quando estivermos face a face com ele. E em terceiro lugar, aquele que nem mesmo a morte pode deter é o que está conosco e nos estimula a caminhar. Você crê nisso?
E o que acontece por crermos na ressurreição? Em primeiro lugar, isso fortalece a nossa confiança naquele em quem cremos. Em segundo lugar, isso restaura a nossa esperança em relação ao futuro que teremos. E em terceiro lugar, isso nos motiva a cumprir a missão que recebemos. A fé na ressurreição desperta a vida que renasce a partir do encontro com aquele que ressurgiu.
Quando os primeiros discípulos, testemunhas oculares, viram a Jesus ressuscitado, isso lhes fez lembrar a promessa da glória divina que encheria a Terra e fez com que aumentasse a esperança de que esta mesma glória seja consumada no futuro. Quem crê na ressurreição consegue visualizar a glória futura e conceber o que até então não era possível ao entendimento humano: nos o veremos em toda a sua glória.
A ressurreição é o começo do fim. Estava diante daquelas pessoas o símbolo da ressurreição futura, da vitória sobre o medo e a morte e a expectativa do que nos aguarda no futuro. Sem isso, toda a fé se torna sem sentido. “Se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa pregação, como também é inútil a fé que vocês têm” (1 Coríntios 15.14).

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Um dia para viver / A day to live / Un día para vivir

O que você faria se soubesse que tem apenas um dia de vida? Este foi o dilema de Jesus nas últimas 24 horas antes de sua crucificação. Porém, ele fez coisas e deixou lições que valeram para toda a humanidade.
Como lidar com a ambiguidade da vida e ainda assim deixar um legado para as próximas gerações? Viver cada momento como se fosse o último, mesmo em situações adversas, pode ser determinante para as escolhas que temos a fazer.
Você certamente já conhece a série de tevê norte-americana “24 horas”, em que um agente secreto tem apenas 24 horas para desvendar um caso. O mais curioso da série é o título em inglês que ela recebe: “Deadline”, que pode ser traduzido como “prazo final” ou mesmo “tempo determinado”. Literalmente quer dizer “linha da morte”. O termo é usado para definir o prazo de entrega de um determinado projeto ou serviço.
Isso lembra a necessidade de aproveitar bem o tempo e as oportunidades. Para não perder nem uma coisa nem outra, você precisa ter propósito naquilo que faz, principalmente quando a vida de outros está implicada. Precisamos aprender a conviver com o fato de que a vida é limitada e as oportunidades são únicas e decisivas para a nossa realização pessoal.
Mais do que isso: a nossa vida é uma oportunidade única para sermos aquilo para o qual Deus nos criou. Se levarmos em consideração o que o astrônomo brasileiro Marcelo Gleiser tem afirmado, chegaremos à conclusão de que, de fato a vida é rara. Ele disse: “temos que repensar nossa importância cósmica, como seres pensantes num universo em que a vida é extremamente rara.O físico inglês Stephen Hawking reconhece que não só a Terra, mas o universo inteiro é propício à vida, e em particular à vida humana. Isso deve nos levar a celebrar a vida e a fazer dela mais significativa. Os dinossauros e os neandertais viveram milhares de anos neste planeta sem precisar de automóveis, avião ou celular. Nós, no entanto, temos inteligência suficiente para torná-la mais significativa sem que isso signifique um risco para a sua manutenção.
Viver, por si mesmo, não tem um plano. Nós é que precisamos dar à vida um sentido de existência. E o prazo que temos para fazer isso é agora. Ninguém pode decidir o que acontecerá amanhã, por isso é que se torna muito importante fazer bom uso de cada momento vivido. As coisas que fazemos, nossas escolhas e os relacionamentos que desenvolvemos hoje são oportunidades únicas de fazermos com que nossa vida seja mais significativa tanto para nós mesmo quanto para aqueles que amamos.
Nas últimas horas de Jesus, ele tomou decisões importantes e realizou coisas expressivas para aqueles a quem amava que tiveram consequências para toda a humanidade. Em seu último dia de vida antes da cruz, ele fez questão de estar em comunhão com seus amigos, foi traído por um dos seus, gastou tempo a sós com Deus, foi preso e julgado injustamente e ainda trilhou o caminho humilhante da cruz. A maneira como enfrentou cada circunstância, mesmo as mais duras e contraditórias, foi enfrentá-las como oportunidades únicas para deixar uma lição de vida.
O tempo que passamos ao lado de pessoas queridas, a maneira como lidamos com aqueles que nos fazem mal, nossa intimidade com Deus, os juízos que nos são lançados e as lutas que temos que enfrentar são situações que estão sempre presente em nosso cotidiano. Elas exigem de nós escolhas e atitudes que podem deixar marcas profundas que vão afetar as pessoas a quem amamos.
Jesus deixou seu exemplo de vida até mesmo no seu último dia. A cruz não foi o seu fim, mas o começo de uma grande obra transformadora que atinge a toda a humanidade. E ele soube aproveitar cada momento em que aqui viveu para colocar a sua vida toda a disposição do propósito divino de salvar a humanidade. Isso deve nos levar a pensar no que fazer neste tempo que nos resta, não importa o quanto seja.

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