Duas fotos
me chamaram a atenção hoje. A primeira retrata um grupo de pessoas mortas no
mar, provavelmente vítimas de um naufrágio. Não sei se é montagem ou real. O fato é que, se a foto for verdadeira, refere-se provavelmente a corpos de pessoas oriundas do norte da África, Síria ou Iraque, que se arriscam na travessia do mar Mediterrâneo, em direção à Europa, fugindo da guerra em busca de sobrevivência. Curiosamente, os corpos formam um círculo no meio da
imensidão azul, lembrando a bandeira europeia.
A outra foto
mostra uma criança morta numa praia da Turquia, trazida pelas ondas. Trata-se
de um dos quadros mais terríveis, que expõe a tragédia humana das migrações contemporâneas.
Quando crianças são expostas a situações de riscos, é sinal que estamos diante
de uma busca desesperada por sobrevivência.
Movimentos
migratórios sempre existiram. A ocupação das regiões e dos territórios sempre
foi marcada pelos deslocamentos de grupos étnicos e até de civilizações inteiras.
O que sempre motivou tais movimentos é a busca de novas condições de vida.
Entretanto, a nova face da mobilidade humana envolve a fuga desesperada das condições
que ameaçam a sobrevivência. Portanto, não são só migrantes. São refugiados.
Os
principais destinos dos movimentos migratórios contemporâneos têm sido os Estados
Unidos e a Europa. Até mesmo o Brasil tem recebido grupos que se deslocam de
seus países em busca de melhores condições de vida. Por aqui, são povos andinos,
africanos e até haitianos que chegam aos grandes centros urbanos em busca de um
novo começo.
Porém, a
Europa vive mais recentemente um problema que difere de tudo o que já se viu: o
grande número de pessoas que fogem das regiões dominadas pelos regimes
opressores e fundamentalistas que ameaçam a sua sobrevivência. São pessoas que
têm que fazer a dura escolha entre ficar e morrer ou arriscar-se numa viagem
desesperada e, quem sabe, sobreviver.
Nesse
percurso, enfrentam “coiotes” que oferecem situações precárias de viagem em
embarcações e até caminhões frigoríficos a custos altos, esbarram em bloqueios
nas fronteiras e ainda recebem o ódio e o preconceito por onde passam. Não sei
o que é mais trágico: se a realidade humana da opressão e da guerra que provoca
o fluxo migratório atual ou se as manifestações de rejeição e os casos extremos
de xenofobia.
Estamos diante
de uma tragédia humana. Quando se ouve falar de gente que chega à Europa em
situação precária, em levas com companheiros abandonados e morrendo pelo
caminho afogados, asfixiados ou queimados, é preciso lembrar que se trata de seres
humanos. São pessoas com suas histórias e com seu passado. Não são “invasores”,
são seres humanos pertencentes a uma cultura, com seus valores, crenças, linguagem
e costumes, que ainda enfrentarão a dura realidade de começar tudo de novo num
outro contexto.
Segundo o Alto Comissariado da ONU para Refugiados,
só em 2014 cerca de 219 mil pessoas chegaram à Europa nessas condições e, neste
ano, mais de 300 mil estão nas mesmas condições. Se levarmos em consideração
que, nos 4 anos de guerra na Síria, mais de 215 mil pessoas morreram, estamos diante
de uma verdadeira catástrofe.
A crise
migratória é uma crise humanitária. Os migrantes que saem do norte da África e
do Oriente Médio não o fazem por uma vontade, mas oprimidos pelos conflitos sangrentos,
pela fome e pela miséria. Em função disso, podemos imaginar que é uma crise que
ainda vai durar por muito tempo. A indiferença dos governos mundiais em relação
à causa dos problemas que geram a migração demonstra que a solução está longe
de ser encontrada.
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