segunda-feira, 4 de julho de 2016

Os “sem-religião” e o secularismo / The religious “nones” and secularism / El “no religioso” y el secularismo

O número de pessoas que professam serem “sem-religião” no mundo não só está crescendo como está cada vez mais se secularizando, é o que aponta a pesquisa divulgada recentemente pelo site do Pew Research Center. Este resultado foi obtido através de pesquisa de opinião com pessoas que se autointitulam ateus ou agnósticos nos Estados Unidos entre os anos de 2007 e 2014. Esse comportamento tem feito com que a população da maior potência mundial se torne cada vez menos religiosa.
O Pew Research Center é um instituto de pesquisa localizado em Washington que fornece informações sobre questões, atitudes e tendências que estão influenciando o comportamento das pessoas nos EUA e no mundo, principalmente no que diz respeito à religião. Entre os aspectos investigados nessa área de interesse por assuntos religiosos, quatro perguntas foram feitas: qual a importância da religião em sua vida? Com que frequência você ora? Com que frequência você vai aos cultos? Você acredita em Deus ou em algum espírito universal?
Veja os resultados:
a) Qual a importância da religião em sua vida? Nenhuma, de 57% em 2007 para 65% em 2014. Alguma (pouca ou muita), de 41% em 2007 para 34% em 2014.
b) Com que frequência você ora? Raramente ou nunca, de 56% em 2007 para 62% em 2014. No último mês, de 42% em 2007 para 37% em 2014.
c) Com que frequência você vai aos cultos? Poucas vezes no ano, de 89% em 2007 para 91% em 2014. No último mês, de 10% em 2007 para 9% em 2014.
d) Você acredita em Deus ou em algum espírito universal? Sim, de 70% em 2007 para 61% em 2014. Não de 22% em 2007 para 33% em 2014.
Em termos numéricos, a pesquisa aponta que, em 2007, havia nos Estados Unidos cerca de 21 milhões de pessoas que se declaravam “sem-religião”; esse quantitativo aumentou para 36,1 milhões em 2014. De um modo geral, o comportamento sem-religião é maior entre os mais jovens do que entre os adultos. De cada dez jovens nascidos a partir das duas últimas décadas do século XX – que hoje teriam entre 18 e 35 anos de idade –, sete dizem que a religião não tem importância em suas vidas.
Os dados do aumento do número dos “sem-religião” e do crescimento do secularismo nos Estados Unidos é uma característica de todo o Ocidente, em maior ou menor grau em algumas áreas. E o Brasil não se encontra distante disso, como se pode verificar no censo de 2010, com o aumento do número de pessoas que se identificaram como não filiadas a um grupo religioso.
As razões para este aumento da rejeição à religião numa população como a norte-americana envolve uma complexidade e se inclui nas causas do crescente secularismo que marca a cultura ocidental contemporânea. A secularização tem a ver com uma tentativa de libertação humana de todas as formas de aprisionamento a normas e crenças, tendo em vista a afirmação da autonomia do sujeito bem como o reconhecimento de que as explicações de nossas contingências se encontram nas forças da natureza, na realização histórica e nas condições concretas de existência no mundo.
Como afirmou Charles Taylor em sua Uma Era Secular, secularização não significa abandono da espiritualidade e do sagrado, mas a rejeição das formas religiosas e de suas crenças. Trata-se de um processo longo e contínuo que vem chegando ao seu ápice em nossos dias. Isso é próprio da cultura ocidental. Não significa necessariamente a ausência do religioso, mas uma nova maneira de encarar a religião em meio à dinâmica da vida social e na cultura.
Para Jürgen Moltmann, no livro A Igreja no poder do Espírito, o cristianismo precisa se encontrar em meio a este caminho de secularização, se quiser se manter fiel à sua fé e à sua esperança. Isso põe em questão alguns aspectos para os quais a Teologia deve ser direcionada: primeiramente, a questão do diálogo inter-religioso em lugar de um discurso apologético; em segundo lugar, a reflexão sobre práticas e valores ligados à fé em meio ao pluralismo religioso; e, finalmente, a preocupação da práxis de uma vida cristã autêntica comprometida em penetrar na dor e na aflição de um mundo secularizado.
A temática do cristianismo arreligioso num mundo emancipado é própria do pensamento de Dietrich Bonhoeffer, o teólogo alemão morto pelo nazismo. Para ele, o cristianismo até aqui se preocupou com o a priori religioso das pessoas, o medo da morte, a moralidade e a explicação racional para os fenômenos sobrenaturais. Com isso, ele se constituiu numa forma religiosa, historicamente condicionada e sujeita às formas de organização humanas. Diante de um quadro em que as formas religiosas, de um modo geral, são colocadas sobre suspeita, resta a essa religião lutar pela sua própria preservação, como tendo um fim em si mesma, o que é um equívoco.
O mundo se recente de um cristianismo que seja portador de uma palavra de redenção e de reconciliação que alcance as pessoas e o mundo em meio aos seus próprios conflitos e maneira de compreender o mundo. Trata-se de um modo responsável de ser cristão no mundo, solidário com as dores do mundo, porque são também as nossas dores, e capaz de dialogar sem tentar transformá-lo religiosamente.

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