segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Aos 35 anos de ministério pastoral / 35 years of pastoral ministry / A los 35 años de ministerio pastoral


“[...] Mas, quem está capacitado para tanto?” (2 Coríntios 2.16).
No dia 26 de fevereiro deste ano completo 35 anos de consagração ao ministério pastoral. A consagração se deu no ano de 1983. Ao refletir sobre as experiências vividas nesse tempo, sou forçado a perguntar como Paulo: quem está capacitado para tal jornada?
A consagração se deu quando ainda tinha 23 anos de idade. Um jovem de origem pobre, que vivia em uma região de periferia, pertencente a uma família marcada por muitos desencontros. Mas Deus permitiu que chegasse até aqui.
Era solteiro, cheio de ideais, magro que dava dó e ainda era dono de uma vasta cabeleira. Os tempos mudaram. Agora, passados 40 quilos e reduzido a cabeleira a alguns heróis da resistência, olho para trás e vejo que a caminhada valeu a pena.
Não foi uma jornada fácil. Muitas vezes tive que experimentar altos e baixos, tomei decisões certas e erradas, tropecei e fui levantado. Ao longo desse tempo, passei por um processo de formação que fez com que eu me tornasse o que sou hoje.
Durante esse tempo, fui pastor de quatro igrejas, batizei algumas centenas de pessoas, realizei algumas dezenas de casamento, consagrei muitas dezenas de bebês, encaminhei para o ministério pastoral mais de dez jovens. Exerci liderança na denominação, lecionei em seminários, influenciei movimentos, escrevi livros e artigos. Me tornei mestre em Filosofia e Doutor em Teologia. Mudei o modo de pensar e de encarar o Reino, de cuidar de pessoas, de viver a vida. 
Claro que tomei decisões erradas, das quais me arrependo, mas também fiz escolhas acertadas, por meio das quais louvo e agradeço ao Senhor. A principal escolha acertada, porém, foi a de seguir caminho com Jesus. E foi daí que resultou a chamada para esse ministério.
Já tive fases de me dedicar em tempo integral ao ministério, mas na maior parte do tempo precisei prover sustento como professor para não ser pesado às igrejas por onde passei, como faço nos dias atuais.
Em tudo isso, tenho que agradecer ao Senhor que, por sua graça e misericórdia, fez de mim um pastor. Até aqui nos ajudou o Senhor. A Ele toda honra e toda glória.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Intervenção Federal no Rio: excepcionalidade constitucional e caos social / Federal intervention in Rio: constitutional exceptionality and social chãos / Intervención Federal en Río: excepcionalidad constitucional y caos social

A decisão do governo de estabelecer intervenção no Estado do Rio de Janeiro, através do decreto assinado em 16 de fevereiro de 2018, é medida excepcionalíssima prevista no texto constitucional e que deve visar à proteção do Estado Democrático de Direito em face de anormalidades que coloquem em risco a integridade nacional. Trata-se de um remédio jurídico presente na Constituição desde sua promulgação em 1988, mas que nunca foi aplicada diante de outras situações anteriores de insegurança e de ameaça à ordem pública em diversas unidades da federação, dada a sua excepcionalidade. Isso faz com que o decreto se revista de uma condição inédita para a população e para a história da república federativa brasileira.
É bom ressaltar que o instrumento da intervenção federal sobre uma unidade da federação é um ato de natureza civil, visando “pôr termo a grave comprometimento da ordem pública” (cf. art. 34, inciso III, da CRFB), e não militar, como prevê o decreto, sobretudo em se tratando da segurança da sociedade e dos cidadãos em geral. A aplicação de tal medida, porém, não foi antecedida de um planejamento criterioso das causas do avanço da criminalidade e não caracteriza a aplicação de qualquer política pública de combate à violência.
O Estado do Rio de Janeiro, especialmente sua capital, já assistiu a outras experiências de ações de apoio militar ao policiamento e ao combate à violência que obtiveram resultados ineficazes na redução dos índices de criminalidade e contra a ação de facções criminosas ligadas ao tráfico de drogas e de armas. O combate à violência e ao crime organizado requer muito mais do que a presença de um aparato militar nas ruas ou à frente de um setor do governo. São necessários planejamento, estruturação e ações de inteligência que visem atacar o problema a partir de suas reais causas.
A intervenção federal no Rio é reflexo do caos econômico e social provocado pelo golpe de 2016, que interrompeu o processo democrático vivenciado pelo Brasil. O fato é que o país e o Estado, ambos liderados pelo mesmo partido que articulou o golpe e assumiu a presidência, estão desgovernados e sem perspectiva. Isso demonstração que a redução da força do Estado é uma ameaça à estabilidade democrática do país.
O governo que, nessa ação, usa militares para fazer intervenção no Rio é o mesmo que, no ano seguinte ao golpe, cortou gastos na saúde, educação e segurança provocando o caos em que a sociedade em geral se encontra, com aumento do desemprego, diminuição do poder de compra dos salários e precarização do trabalho.
A intervenção, que é de natureza militar, somente confirma a suspeita de que possivelmente nos encontramos sob um Estado de Exceção. É uma espécie de declaração do fracasso do governo em lidar com os problemas nacionais, com situações que têm origem no corte de direitos e no aumento da desigualdade. Com isso, o golpe entra em nova fase, que é a do controle do espaço público.
Isso desperta a preocupação com a segurança pública a fim de que ela não seja oportunidade para instaurar um Estado de Exceção, com cerceamentos de direitos civis, ameaça à liberdade de ir e vir, impedimento do exercício livre de expressão e de manifestação política. O que se espera é que o combate à violência e ao crime organizado não seja ocasião para o tratamento desigual entre comunidades carentes e logradouros urbanizados, como se a favela, o morro ou os bairros onde vivem pessoas menos favorecidas fossem lugares à margem da vida social.
É preciso que a sociedade civil organizada declare a rejeição a qualquer uso político da medida, seja para tentar resgatar a imagem de um governo com alto índice de reprovação popular, seja para servir de promoção em ano eleitoral. Para tanto, que sejam priorizadas as ações sociais e a garantia de direitos de cidadãos, principalmente em um Estado mergulhado em uma crise financeira sem precedentes, respeitando-se o pagamento dos salários dos servidores públicos em dia, mais investimentos na saúde e na educação e a aplicação das verbas prevista no equipamento e preparo do serviço de polícia.
Se a intervenção federal é, de fato, uma necessidade, que se dê ênfase à formulação de uma política pública de segurança que não permita mais o derramamento de sangue inocente de pessoas vitimadas por balas perdidas, sejam elas policiais em serviço ou mesmo crianças dentro de suas casas, de guerras de quadrilha pelo domínio de um território, pela corrupção entre agentes públicos. Para um país traumatizado por ter vivido, por mais de 20 anos, uma ditadura militar em sua história, a intervenção acende o alerta de que o Estado Democrático de Direito se encontra em risco.

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